sábado, 23 de abril de 2022

 A escolha de Sofia 


Imagine estar na situação da mãe , no famoso filme A Escolha de Sofia,  tendo que escolher a filha que deve ser enviada ao campo de extermínio nazista. Em situação similar estão os eleitores brasileiros na escolha do  próximo presidente. Porém, enquanto Sofia ama igualmente as filhas,  o eleitorado mais esclarecido não morre de amores por nenhum dos candidatos. Razões para isto existem. Nenhum dos dois encarna a figura de um estadista e, na  prática, como já  exerceram a presidência,  não mais podem apresentar-se como salvadores da pátria. São políticos da velha guarda. Não tem um projeto de desenvolvimento do país. Nenhum dos dois têm uma liderança na opinião pública que lhes dê legitimidade para as necessárias reformas do Estado. No histórico, Lula rendeu-se ao fisiologismo, corrompendo os partidos políticos , abrindo  os cofres das estatais para a cupinchada local e internacional ; e Bolsonaro dando poder  ao Centrão. Tudo em troca de ganhos mesquinhos para os seus interesses eleitorais, no  jogo pequeno do poder pelo poder.


Como estamos próximos das eleições e sem nenhum outro candidato, que tenha despontado como um líder carismático, capaz de emocionar as massas, o desafio das sofias limita-se  a escolha entre os existentes. Lula, segundo todas as pesquisas, desponta como o favorito. Aparentemente a condição de condenado pela justiça por corrupção e pelos adversários por desatinos administrativos, inclusive com a responsabilidade pela eleição da  desastrosa Presidente Dilma,  não colou na sua imagem. Continua no imaginário das massas como um vendedor de esperanças. Com a falsa promessa de dias melhores.


Ao contrário, Bolsonaro tem como pecado capital ser um demolidor das esperanças. As suas contínuas campanhas contra tudo e contra todos, mesmo quando corretas, tingem negativamente a sua imagem como a de um eterno zangado. Além de não ter realizado nenhuma das reformas estruturais prometidas na  campanha, ele não dá horizontes de dias melhores. A alegada justificativa de ter sido impedido pelos outros poderes,  passam pela mente das pessoas simples como retórica de perdedor. Um presidente é eleito para liderar o executivo e conseguir o apoio dos outros poderes. Isto ele não conseguiu. Nem o ponto forte da sua eleição , o  Posto Ipiranga , mostrou para o que veio. Ele, nem no seu quintal , o poderoso Ministério da Economia, fez qualquer desburocratização. Continua a ser um ministério de intervencionistas. Não será mais um avalista para uma futura presidência . Morreu na praia da  propaganda enganosa.



A sorte também é um fator que tem peso no inconsciente popular. Lula é um sortudo, herdou boas condições do governo anterior e   uma economia internacional favorável ao Brasil . Bolsonaro, é um azarão, recebeu uma  herança maldita e , no maior tempo do seu governo, teve o COVID 19, cujas consequências são um desemprego monumental, a perda do poder aquisitivo e um nível desanimador nos negócios. 


 Uma eleição sempre é importante, mas ganha relevo quando acontece em  situação econômica delicada em que vivemos. Defrontamo-nos não só com um  desafio  de curto prazo, mas fundamentalmente com a viabilização econômica do País. O Brasil está estagnado há décadas. A crença no futuro está abalada. Reformas estruturais são indispensáveis para criar condições ao desenvolvimento. 


Infelizmente, nenhum dos dois candidatos reúne essas condições. Eles não têm uma visão  idealista de governo e a determinação de um estadista. Culturalmente despreparados, só vêm as próximas eleições. Fazem  política pela política! Nada além do usufruto do poder.  Justo agora que  necessitamos de um líder com visão de futuro para a nação.  Lula é um vendedor de ilusões, o que seria útil no momento. Mas a longo prazo as suas propostas são o oposto do necessário para deixarmos de copiar a falida Argentina ou, pior, virar uma Venezuela. O populismo socializante, com o   aparelhamento do governo, a estatização e a  leniência à corrupção,  compromete o   futuro. Não dá para ser otimista com   dose  dupla de nenhum dos dois! Restando aos ideológicos  somente um voto plebiscitário, escolhendo entre   os mais quatro anos do conservadorismo   do Bolsonaro  ou os possíveis oito do socialismo do Lula. As sofias anularão o voto, à espera de dias melhores…se o socialismo não se perpetuar.



Jorge Wilson Simeira Jacob

Publicado no Jornal Opcao

Coluna Contradição em 24. 04. 22 




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