sábado, 26 de junho de 2021

 A luta da inveja versus o egoísmo.



O  Criador, segundo a Bíblia, expulsou do Paraíso  Adão e Eva, pelo pecado original,  condenando-os a amassar o pão com o suor das suas testas. Esta  condenação estabeleceu a primeira das  desigualdades entre os homens:  os que teriam que suar as testas para comer o pão e os que morreriam de fome. A partir daí nunca mais os homens tiveram  partida igual na partilha dos  bens terrestres. O esquema  funcionou pacificamente enquanto a humanidade resumia-se a um  restrito núcleo familiar, uma organização que pratica o ideal comunista de: - dar a  cada um de acordo com as suas necessidades e de cada um das suas possibilidades. Mesmo assim não impediu a  rebeldia  de Caim  matando  Abel,seu irmão. Este evento  de pura inveja marca o início das demonstrações de insatisfação com a desigualdade.


Na história de Roma os irmãos Graco *  foram assassinados por suas propostas de redução das desigualdades econômicas dos plebeus.  Não só em Roma, mas em toda a  humanidade  a desigualdade nunca deixou de incomodar. Só não foram às últimas consequências por terem sido desestimuladas pela pregação: -  do cristianismo, no Ocidente, que promete que os céus serão dos humildes; -  e das tiranias do Oriente, que sufocavam as vontades pela força. Na Índia, a maior democracia do mundo, as aspirações são contidas  pela religião  e pela divisão da sociedade  por castas. Com estes instrumentos de dominação, os desfavorecidos  são contidos pela resignação e pelo fervor religioso .  Recentemente, no  século 18,  surge  a ideologia socialista baseada na luta de classes. Segundo esta concepção, uma ação política faria uma justiça social distribuindo os frutos independentemente do suor derramado.  Este discurso pôs  calor no debate entre a inveja e o egoísmo. Uns cobiçando o que não lhes pertence e outros recusando-se  a   abrir mão das suas conquistas. Uma  disputa que pode ser classificada como a  luta do capitalismo versus o socialismo ou  do egoísmo versus a inveja. 


A democracia americana inovou com o  voto universal.  Deu poder político às massas, que pressionam os governos a redistribuir as rendas, tributando quem tem para transferir aos outros. Os governos, com vistas aos votos da maioria,  para aplacar os apetites, alargam a sua ação intervencionista . A consequência foi o incessante crescimento da máquina governamental, cuja degeneração e corrupção  é correspondente. Como viciado, que um gole, em vez de saciar a sede, pede outro, assim são as expectativas populares e o crescimento da avidez da bur(r)ocracia ** . Porém, como  na Física  a Economia também  tem limites. Nesta apresenta-se  no esgotamento da capacidade contributiva dos cidadãos. Como os recursos são sempre inferiores às necessidades, chega-se  a uma situação de atrito  entre a inveja e o egoísmo, entre o  “ nós e eles”, tão bem explorado pelos demagogos.





Há, porém, uma distinção a ser feita: - onde o tributo arrecadado retorna em benefícios ao povo e , onde, não retornam,  são gastos com a máquina pública. Quando o produto da arrecadação retorna em serviços e benefícios aos cidadãos, há uma redução na desigualdade; mas se a  máquina governamental esteriliza os recursos arrecadados em sua manutenção, há o aumento da desigualdade. De onde conclui-se ser o governo perdulário, burocrático, o maior  responsável pelas desigualdades.

 A desejada melhoria das condições dos menos favorecidos  deve começar pelo melhor cuidado com aquilo em que todos são iguais. Somos todos igualados, independente da  situação sócio-econômica,   no uso  dos bens fundamentais : Segurança, Justica, Soberania Nacional, Educação e Higiene. Somos  também nos bens de uso comum: na qualidade da água, do ar, das vias públicas, comunicação , mobilidade… Somos, ricos e pobres, desiguais  é nos consumo dos bens conspícuos: carros e restaurantes de luxo, aviões particulares, iates, as grifes…  Aceita esta divisão entre os diversos bens ( fundamentais e conspícuos) , um processo de redução da desigualdade deve  começar pelo governo cuidando dos bens fundamentais e deixando os não fundamentais por conta da sociedade. Assim , o governo melhoraria  a vida de todos naquilo em que estamos igualados, que é o fundamental para a qualidade de vida e deixando  a

as desigualdades  entre os Abeis  e os Caims  limitada aos bens  conspícuos, que segundo a Bíblia devem ser conquistados com o suor de cada um.


  • Os irmãos Graco são conhecidos reformadores romanos que tentaram realizar a reforma agrária e outros tipos de reformas em benefício dos pobres. Ambos, chamados Tibério e Caio, foram eleitos tribunos da plebe e acabaram sendo vítimas dos senadores insatisfeitos com as medidas defendidas por eles.

** bur(r)ocracia brasileira - a máquina do governo, entre arrecadação, inflação e endividamento, esteriliza perto de cinquenta por cento do que é produzido no Brasil, pelo péssimo retorno nos bens essências. Não só administra mal  como dificulta a vida de quem quer trabalhar. A bur(r)ocracia produz 700 regras tributárias por dia, como obstáculos à produção, desde 88 até 2017 produziu 5 milhões de normas tributárias, colocando o país na posição 184 entre os 190 piores países para pagar impostos. O resultado é  maior contencioso fiscal do mundo - 5 trilhões de reais. 



São Paulo, 26 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


Este blogue respeita o seu tempo. Por favor, caso não tenha interesse em receber estas reflexões, solicite a exclusão pelo e-mail jwsjbr@gmail.com . Basta digitar a palavra NÃO. 



quinta-feira, 24 de junho de 2021

 As curvas de um  rio.



Felícia era o retrato da própria felicidade.Como  Filha  de Maria, frequentava regularmente os ofícios religiosos da igreja do seu bairro. Piedosa,  orava pela saúde dos filhos, mas sobretudo para que a Virgem Protetora das Perdidas a protegesse de uma infidelidade do Brás, seu adorado marido. Estavam casados há uma década, eram os únicos namorados desde a infância. Felícia era o ciúme personificado. Tinha pesadelos com possíveis aventuras do marido. Fiscalizava a sua agenda, policiava os seus passos, sem nunca ter tido um único indício de desvio de conduta. Ainda que nada descobrisse, nada acalmava  as suas suspeitas, mas continha-se discretamente. Até que um dia recebe a vizinha em prantos a  contar-lhe ter descoberto uma amante do marido. Aquilo transtornou a cabeça da pobre Felícia: - todos os homens são infieis, vou descobrir a minha rival. Não aceito ser enganada! Prefiro a morte a suportar uma traição.


À noite, toda embonecada, antes do jantar, mesa à luz de velas, estava determinada a descobrir o pecado do marido,  Felícia  encheu-o de elogios e serviu-lhe  um vinho para deixá-lo mais solto. Sorrateiramente, com ar angelical, comenta o caso da vizinha dando razões ao infiel: -  Afinal, diz ela, é da natureza humana ceder às tentações…e essas não faltam. E, na sequência  lança a  isca: Brás, vc já foi tentado a ter um caso amoroso com outra? Se o vizinho, um velho  que nada tem para atrair alguém,consegue uma jovem como amante,  vc que é um galã deve ter muitas aos seus pés? Brás, vaidoso, confirma:  sim, tenho sido tentado inúmeras vezes. Não tem sido fácil resistir. Ainda que tenha  como  grande sonho  provar outra maçã que não a sua. Vc sabe que tirando vc, eu sou virgem!  Assumo que a tentação é grande, mas estou determinado a resistir! Ademais sei que a mataria de ciúmes.


Aliviada com a sinceridade visível nas palavras do marido, no dia seguinte, foi à igreja rezar um rosário em agradecimento à Virgem Protetora das Levianas. A partir daí a sua vida tornou-se mais suave. Tinha afastado a suspeita da infidelidade. Porém, a vida é cheia surpresas. São como as das curvas de um  rio. Uma destas surpresas foi o marido ter contraído o coronavírus. Foi internado. Piorou. Foi incubado. Foi desenganado. Felícia não suportava o risco de perder o pai dos seus filhos, a viuvez, o seu único e sincero amor na vida. Resolveu in extremis fazer o máximo dos sacrifícios, prometeu à Virgem que: - se ele voltasse para casa ela aceitaria pacificamente que ele arrumasse uma amante. Afinal, racionalizou, se vou perdê-lo para o vírus que perca metade para outra. Promessa feita vai da igreja ao hospital cheia de esperança. Outra surpresa no rio da sua vida. Sem mais nem menos, Brás tinha reagido aos tratamentos e teria alta em breve. Os médicos falavam ter sido uma cura milagrosa.


Dias depois, em casa, antes do jantar, Felícia, com a consciência pesada, sente-se obrigada a cumprir a promessa, que salvou a vida do Brás. Conta a ele a causa da sua “ ressureição “ e os detalhes do compromisso que estava determinada a cumprir. Outra surpresa, Brás reage com indignação: - nada disto! não sou fraco de vontade como os outros. Tenho orgulho de fazer parte de uma minoritária que resiste à tentação.Não abro mão da fidelidade conjugal.  Faço questão de ser diferente. A minha alta estima não suportaria ser nivelado por baixo. E, irritado: -   não aceito a proposta de ter uma amante. Tenho prazer de dizer não às mulheres também por orgulho pessoal. Felícia cai em prantos, desesperada. Não querido, não faça isto comigo. Há tantas moças bonitas que lhe dariam muito prazer. As aventuras amorosas vão alegrar a sua vida. A infidelidade é só uma convenção social. No nossos caso nem será uma traição, pois estamos de acordo e temos as bênçãos  da Virgem . Os seus amigos morrerão de inveja. Vc tem tudo a ganhar, além da minha gratidão, pois, se   eu não cumprir o meu voto,  nunca mais poderia ir à igreja e terminarei no inferno. Serei uma desgraçada. Não! Não Brás, arrume uma amante! Pela minha felicidade, pelo amor de Deus , coma quantas maçãs  vc quiser! Eu imploro, faça este sacrifício por mim. Só assim eu voltarei a ser feliz!



São Paulo, 24 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


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quarta-feira, 16 de junho de 2021

 Entre a Entropia e a  Sintropia.


 Entropia é, segundo a termodinâmica, o processo que condena todas as organizações para a estagnação e morte. Este fato é percebível para qualquer indivíduo com  um mínimo de senso de observação. Esta lei da física aplica-se também a todos os seres vivos. Nos humanos acompanhamos a evolução que percorre o corpo e a mente , que vai do nascimento, amadurecimento e decadência até a morte. As organizações  privadas seguem a mesma  tendência, basta verificar o tempo das organizações e sistemas políticos. Poucos são longevos. E quando o fazem é sob uma nova direção.


Nos livros de história há registro da organização da ordem pública, desde as do  antigo Egito, que tinha na Teocracia o princípio da autoridade. Os faraós eram considerados deuses, o que lhes dava legitimidade. Com o esgotamento do modelo, surgem os regimes autoritários, legitimados pela força tirânica, que foram  sucedidos  pelo modelo democrático na Grécia antiga. O império romano sustentou-se nos cesares por um milênio. No Oriente, as tiranias, supostamente mais cruéis e dominada pela ignorância,  tiveram vida mais longa, mas sob diferentes dinastias. A China, findo o mando delas  foi cair no colo  maoísmo-comunismo;  o império otomano acabou com a derrota na guerra de 14/18. No Ocidente, na idade média, o mundo fragmentou-se e foi disputado pelas  colônias imperiais: espanholas, francesas, portuguesas, austro-húngara. Porém a supremacia foi do Império Britânico, o qual cedeu a posição ao americano e soviético,  após a segunda guerra mundial. A URSS acabou com a queda do muro de Berlim em consequência do fracasso do modelo comunista. E o império americano treme hoje com a perda da hegemonia mundial frente ao império chinês — um modelo híbrido de máximo de tirania-autoritária na ordem política e um mínimo de restrições à liberdade econômica. 


A par das organizações materialistas, que as história mostra serem transitórias, há as voltadas para o espiritual - as religiões. Estas são mais resilientes. A fé tem muita força…move montanhas de ignorância. Após  o paganismo  surgem diversas tendências espirituais, sendo as mais expressivas: o budismo e confucionismo, como filosofias ;  judaísmo com todas os seus desdobramentos (cristianismo, protestantismo, pentecostais ) ; e o maometanismo. Ao confrontar as duas trajetórias: as organizações dedicadas à matéria e as ao espiritual, fica evidente serem estas a de maior longevidade. Nenhuma organização material sobreviveria às  crises que sofreram os judeus, cristãos e mulcumanos, ao longo da história. Mas de todas a que mais surpreende é a igreja católica. Esta foi a que mais decaiu nos usos e abusos do  poder. Os seus crimes, principalmente na idade média e a pedofilia nos dias atuais  não deveriam ter sido tolerados. Ainda que, após a reforma luterana, que os denunciou, perdeu a hegemonia no reino espiritual e com o tratado de Latrão perdeu territórios e força política . O reinado católico perdeu  expressão relativa, está estagnado em 1 bilhão de seguidores neste crescente universo de 7 bilhões de almas. Menos de 15% do universo.



Sintropia é, justamente, o conceito diametralmente oposto: é a medida do grau de organização de um sistema. Logo, um elemento sintrópico é aquele que contribui para o equilíbrio e ordenamento de um sistema, buscando romper com o caos. Se a entropia é o processo em direção à morte das organizações, a sintropia é o oposto. A sintropia recupera os valores que deram vida às organizações:   as virtudes do estudo, do trabalho e da poupança. As organizações humanas , quase como uma fatalidade, quando estão no auge do poder,  abandonam  os valores  que causaram a sua ascensão  ( espartanos, estoicos ) e deixam-se levar pelo modo de  vida hedonista. Geralmente, no pico do sucesso, os homens afastam-se das tarefas ditas menos nobres ( trabalho duro, incessante )  e desviam-se para as do prazer e prestígio. A louvação da glória, as vaidades, a doce vida  sacrificam  os valores que geraram a prosperidade. Este processo, como exemplo mais ilustrativo, está em curso nos Estados Unidos e na China. Eles enfrentam o desafio da entropia ( USA )  e da sintropia (China).  A vida é dinâmica!


São Paulo, 17 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob



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segunda-feira, 14 de junho de 2021

 


Xô, xô, Satanás!



Uma parte da nação brasileira sofre do complexo de vira-latas, na conhecida classificação do escritor Nelson Rodrigues. A outra parte, sofre do complexo de corinthiano*, de minha autoria. Vira-latas é um complexo de inferioridade do brasileiro em relação ao resto do mundo. Ele só  percebe as mazelas do país e as deficiências do nosso povo, ignorando as suas conquistas. Qualquer insucesso ou críticas derrubam a baixa estima dos vira-latas, deprimindo-os. É uma deficiência emocional exarcebada pela incapacidade de sopesar racionalmente todos os fatos em  busca do possível equilíbrio. Na última Grande Guerra, a máquina de propaganda nazista, como parte da guerra psicológica , para abalar o  moral, fazia transmissões radiofônicas dirigidas  aos nossos  expedicionários como macaquinhos mal amestrados incapazes de enfrentar a elite militar germânica, Não tão longe, nem tão distante, um presidente de país vizinho para enaltecer a etnia do seu povo, menosprezava a nos brasileiros e aos mexicanos como tendo vindo das selvas,  enquanto eles vieram de barcos.


Contrapondo-se aos vira-latas, temos no outro extremo os  corinthianos.  Corinthianismo é o complexo de superioridade sobre os demais. É um estado de espírito.  Não é uma escolha racional,  mas um fanatismo religioso. Nada abala a sua devoção. Até a exibição de ignorância de um ex-presidente do Clube era apreciada.  ( Não por menos o Lulla é corinthiano! ) Nada abate a autoestima desta gente. É de admirar a sua resiliência psicológica, mas  deve preocupar  a falta de equilíbrio emocional. Falta a eles a serenidade para enfrentar a realidade, a qual está em constante mudança. Pois, como tudo na vida, erros acontecem  e  ajustes  são necessários. Com isto, é válido para ambas as correntes psicológicas  questionar os resultados. Mas o fanático é cego, e o maior deles é o que não quer ver!



Nesta altura do texto, torna-se necessário dar-se nome aos bois,  fazendo melhor uso do nosso idioma,  traduzindo as classificações acima usadas: 


  • Vira-latas ou negativistas/derrotistas - complexo de inferioridade  que leva os indivíduos  a fixar-se  só os aspectos negativos dos fatos, chegando mesmo, em casos mórbidos, a torcer pelo pior. Vivem em  estado de absoluto desalento. Na história da pátria negam-se  a ver os avanços da sociedade, mas só focam  os aspectos negativos: corrupção, semi-analfabetismo, desorganização, demagogia, desemprego…


  • Corinthianos ou ufanistas/utópicos - complexo de superioridade que leva o indivíduo a olhar só os aspectos positivos, chegando ao extremo de negar a realidade, se o fato contraria a sua crença. Estão sempre em estado de alerta para defesa das sua posições. Qualquer conquista ou possibilidade dela é razão suficiente para referendar o seu discurso. Sistematicamente não se rendem à realidade de uma posição fracassada e à validade de busca de um outro caminho. E quando pioram as situações, em vez de dúvidas, mais  fanáticos ficam. 



Estes extremismos,  causaram  uma confusão semântica. Distorceram o sentido do termo otimismo tornando-o, na linguagem popular,  o politicamente correto -  uma obrigação. Este deixou de ser uma escolha, uma posição para ser vista como uma virtude, independentemente de estar assentado em fundamentos  emocionais. Já o termo pessimismo transformou-se no politicamente incorreto . O vocábulo   perdeu a conotação de uma visão crítica, quando racional,  para ser vista como um vício. Geralmente não se faz a distinção entre o ser e o estar otimista ou pessimista. Um referir-se-ia à natureza do indivíduo, outro às circunstâncias. As causas destas distorções devem ser explicadas: os complexos pela psicologia e a confusão vernacular pela filologia.  


Xô, xô  Satanás que,  com as suas confusões, está matando a virtude da racionalidade. 


  • a torcida conrinthiana não é, na essência,  diferente das outras, mas tem a fama de ser a mais fanática.


São Paulo, 14 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob 



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sábado, 12 de junho de 2021

 Efeito sem causa.



Os ingleses são conhecidos como sendo um povo fleumático. O mundo pode estar caindo, mas eles não perdem a postura. Ilustra esta característica a “piada” de três deles  fumando charuto, em um clube só de cavalheiros, às vésperas das eleições. Um deles, pigarreia , faz  uma longa pausa, e balbuciando diz: - acho que Churchill vai vencer as eleições! Um segundo, absorto , olhando o teto, dá boas tragadas e muito depois, sem pressa,  retruca: - estou certo de que não vencerá! O terceiro, de idade mais avançada, pede um whisky que saboreia lentamente. Ao terminar a bebida, levanta-se e dirige-se aos dois amigos : - vou-me embora mais cedo. Não suporto discussões acaloradas!


A The Economist, da qual sou fiel leitor há quarenta anos, nos últimos tempos dedicou diversos  artigos  de capa , com boa reportagem sobre o Brasil. Fugindo à fleuma britânica,  colocou em jogo a sua reputação de ser a mais prestigiosa revista formadora de opinião do mundo, fazendo rasgados elogios ao Brasil. Na época, as nossas elites bateram palmas e enalteceram a revista. Agora, quando o editorial faz uma análise crítica em que mostra-se surpresa com: -  a velocidade da deterioração da nossa economia e qualidade de vida; - e propõe que para recuperar-se o país deve - antes de mais nada - entender o que aconteceu. A matéria, para quem a leu no todo, não concentra a culpa a este governo, ainda que seja crítica ao atual presidente, mas a um longo período de políticas equivocadas.  É evidente que o nosso sentimento vá do desconforto à revolta. Nenhum ser mentalmente saudável sente-se bem sendo criticado. Mas é um falso patriotismo desqualificar a revista quando nos  crítica se é a mesma que antes elogiávamos quando nos era favorável. Isto é ufanismo puro e simples.


Nós brasileiros somos notoriamente um povo de bem com a vida. Temos motivos de sobra. A natureza foi generosa com o  nosso território - o sol, as praias as mais sensuais e  lindas mulheres do mundo… - tudo e por tudo  somos uma nação exuberante, de ricas  e fortes emoções. Somos de corpo e alma sentimentalistas. Um campeonato mundial perdido, a morte de um Ayrton Sena, um Tancredo, abalam o ânimo nacional. Como também a conquista  de uma Jules Rimet . Somos pura emoção. Foi, pois, com o brio  dessa gente que a  The Economist foi mexer.


Depois do polêmico artigo,  três brasileiros, em vez da missa do domingo, sentados,  no boteco de uma esquina, discutem furiosamente sobre futebol, Covid 19, Lula e os quarenta ladrões, Bolsonaro e as suas trapalhadas. A discussão é interrompida  quando um deles, para impor-se, sentencia: -  quem é essa revistinha, alinhada à sabotagem internacional contra o Brasil,  para dizer que há vinte anos a economia perdeu posição no mundo, que o nível de ensino piorou, que temos 14 milhões de desempregados e mais milhões dos “ nem nem”  e que a maioria da  indústria local está regredindo? Quem são eles para não ver que seremos o celeiro do mundo, que, saindo da pandemia, faremos uma reforma política, administrativa, tributária, eliminaremos a corrupção, e o judiciário será  modelo  para inglês copiar  ? Afobado, como são todos os emocionais, o número dois  rebate: a revista tem razão , se as causas não mudarem, os efeitos serão os mesmos. Se não entendermos onde erramos, se não corrigirmos as causas não mudaremos  os resultados e nada ainda indica que isto vá acontecer.  O número três não se aguentou: vou embora correndo antes que seja acusado pelo Papa Francisco de tomar muita cachaça e de não orar o suficiente. Vou para a igreja , pois estou  convencido que para conseguir  o milagre do desenvolvimento sem fazer força, um efeito sem causa, vamos ter que rezar muito!


São Paulo, 13 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob

quarta-feira, 9 de junho de 2021

 Na evolução da humanidade.



Steve Jobs ( Apple )  foi um gênio. No jogo de rivalidades  entre ele e Bill Gates, fazia pouco caso deste que, segundo ele, não havia criado nada. Tinha parcialmente razão. Bill não era um inventor, como ele. Não havia inventado nada, mas viabilizou com os seus programas da Microsoft o computador pessoal. Jobs exagerou na crítica ao não dar um crédito a Bill como  inovador. Jobs foi genial por ter ambos talentos: foi inventor ao criar novos produtos e inovador  difundindo  os seus usos. O inventor cria, o inovador as coloca em uso.  A invenção é um produto da criatividade e da imaginação. A inovação o é da engenhosidade e  da energia. Henri Ford não inventou o automóvel. Foi um inovador ao usar a sua engenhosidade para tornar o carro acessível às massas, forçando a aposentadoria das  carruagens. Além de Jobs, Thomas Édison, Walter Disney, Elon Musk …, entre tantos gênios, foram ao mesmo tempo criativos e inovadores.


 A criatividade é fruto de uma inteligência rica de boa imaginação , forte memória e capacidade de associar e dissociar ideias. Criações que surgem do nada ou de uma pequena lembrança ou de uma fusão ou difusão de outras ideias. Elas podem surgir no chuveiro, ao dirigir o carro ou em qualquer momento em que, desligados de uma tarefa,  damos largas ao devaneio. Em aquelas ocasiões  em que descompromissados de tudo,  deixamos as ideias , mesmo as mais absurdas,  exercitarem-se em nossas mentes. Nestes sonhos acordados  as  lembranças ou pensamentos,  que teríamos receio de submeter à crítica,  podem ser o estopim a gerar uma invenção ou inovação. Na  memória está o reservatório das ideias a serem usadas no jogo. Sem uma boa imaginação para combinar ou descombinar crenças arraigadas, sem um bom arsenal de lembranças um devaneio pode resultar em conclusões medíocres.


A inovação depende da energia e determinação do agente. Assumir uma ideia nova e criar novos hábitos sociais e de consumo é desafio para desbravadores. É esta a condição necessária aos criadores de impérios, quer sejam nações quer sejam empresas... As primeiras feministas foram inovadoras, pois transformaram as relações entre os sexos. Sem elas e os abolicionistas ainda estaríamos vivenciado a servidão das mulheres e a escravidão humana. Karl Marx e Engels foram criadores de uma nova ordem sócio-econômica, mas Lenin foi o inovador com a revolução russa de 1917, que gerou a União Soviética.


Steve Jobs ficaria bem se tivesse atentado à parábola em que Jesus, provocado pelos judeus, respondeu que: - a  César o que é de César e a Deus o que a Deus pertence. Nem Cristo pretendeu que tudo deveria ser dado a Deus, mas que a cada um com os méritos - de criador ou de inovador   ou de gênio , quando  somar  as duas virtudes. O mundo deve a ambos as virtudes à sua contribuição na evolução da humanidade.


São Paulo, 09 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob



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sábado, 5 de junho de 2021

 O país do passado.


O Brasil tem um enorme passado pela frente.

Millor Fernandes.


Era uma vez um país que se acreditou seria o  país do futuro. Quem quer que avaliasse  esta promessa acabava concordando: o Brasil estava condenado a ser o país do futuro.Stefan Zweig, renomado escritor exilado em Petrópolis, executando uma encomenda do ditador Getúlio Vargas, cunhou esta expressão  em convincente texto. O livro correu o mundo e implantou a crença de que o futuro estaria aqui. Argumentava o autor de que de cada ângulo que se olhasse tudo aqui mostrava oportunidades.  Ele só enganou-se ao não considerar a nossa vocação de tirar vantagem de tudo. O que deu espaço para o socialismo-populista.


Stefan Zweig , judeu austríaco, fugindo do nazismo veio para o  Brasil. Incrível que  sendo vítima de uma ditadura tenha escolhida a de Vargas para viver. À par da distância da guerra, o território nacional  era na época reconhecido pela sua  potencialidade. A ditadura vigente tinha  os seus crimes políticos, mas eram poucos em relação às outras tiranias. Havia um clima de liberdade no ar: o governo era mínimo, os impostos baixos, e as instituições favoráveis ao espirito empreendedor. Doutra parte a  índole do povo era pacífica e sociável. Era visível que, com o desenvolvimento  iniciado nos Estados Unidos, o Brasil estava destinado a um lugar importante no cenário econômico mundial. Tudo estava a favor e nada contra. Mas , países com tudo contra, sem recursos naturais, território limitado, cultura diversa da ocidental como Japão, Correia do Sul, deixaram  a nossa economia para trás. Sem esquecer da China, um grande território  com uma população imensa e miserável, que dá passos largos para ser a maior economia mundial.


O Brasil conseguiu a proeza de ser mais dinâmico economicamente no passado do que no presente. Nossas posições relativas nas escalas de aferição de desenvolvimento, de qualidade de vida, de renda per capita  e de nível educacional veem caindo ano a ano. De oitava economia no mundo, hoje somos a décima segunda. As nossas instituições governamentais  fazem parte da vergonha nacional. Mas nem tudo está perdido! Podemos (ironicamente) argumentar  que antigamente tínhamos uma elite muito preparada intelectualmente e uma massa dominante de analfabetos. Agora estamos reduzindo as  desigualdades educacionais. Com a piora do nível de ensino, o pior do mundo,  e  as cotas de admissão nas universidades, baixando o nível dos discentes,  seremos uma nação igualitariamente de semianalfabetos. Hoje já é raro quem saiba interpretar uma leitura. Não só se lê pouco, de baixa qualidade e o entendimento é superficial, não se apreende os conceitos básicos. O que esperar de semianalfabetos além da eleição do mesmo  socialismo-populista, que comprometeu o nosso futuro? Assim, hoje, de cada ângulo que se olhe , ao contrário da visão de Zweig, o que mais se vê são as oportunidades perdidas. Realmente surpreendemos os otimistas conseguindo ser o país do passado sem ter chegado a ser o do futuro. 




O que se passou?


Pura e simplesmente castramos o espírito empreendedor. Não somos mais uma economia de impostos mínimos , a nossa legislação trabalhista desestimula empregar e a nossa burocracia desincentiva o investimento e a produtividade . A nossa  insegurança jurídica só é comparável às piores do mundo. No final, os sacrificados são os desempregados e a classe média. Só não estamos no nível dos países atrasados africanos devido à nossa agricultura, que por sorte o governo ainda não decidiu proteger e regulamentar. 


A The Economist, cujas matérias de capa, no passado, tiveram coberturas entusiastas ao Brasil, na ultima edição, afirma com desalento que: poucos países caíram tão depressa. Para recuperar-se, o Brasil tem de reconhecer o que deu errado * . Infelizmente a nação recusa-se a cair na real, continua dormindo em berço esplêndido sob um céu azul e resplandecente abençoado por Deus.


Acorda Brasil para deixar o estigma de ser um país com enorme passado pela frente.


São Paulo, 04 de junho de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob



*Brazil’s dismal decade

Few countries have fallen so fast. To recover, Brazil must recognise what went wrong.

Above all, the government needs to serve the public rather than itself. That means reducing the privileges of public-sector workers, which eat up an unsustainable share of government spending. Politicians must not spare themselves either. Office holders should have fewer legal protections. They should shake up the electoral and party systems to let new blood into Congress.


On the latest pisa tests of learning among 15-year-olds, Brazil came 57th out of 79 countries in reading. One analysis estimated that it would take 260 years to reach the oecd average. After 15 months without in-person classes, the outlook is worse. Some 15% of six- to 17-year-olds may have dropped out of school.


The Economist, 05 de junho de 2021.



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