Os benefícios dos terroirs
Há palavras que não tem tradução e nem sinônimo - são únicas . Terroir é uma delas. Algoritmo é outra. Explicar os seus significados exige mencionar uma série de funções que fazem parte da ideia. Seria como, para esclarecer o significado de algo que desconhecemos, fazermos uma dissertação das suas condições. Terroir é assim. Os enólogos ao usar o termo sabem estar referindo-se ao conjunto de fatores que vão do solo, ao regime de chuva, da temperatura, de insolação, dos ventos ... e por aí vai. Terroir é uma palavra de origem francesa para indicar a vocação de uma região para a vitivinicultura. Hugh Johnson, renomado enólogo e escritor inglês, diz que qualquer região pode produzir vinhos, mas o equivalente a um Bordeaux de cinquenta dólares custaria vinte vezes mais se feito na Inglaterra, pelas condições desfavoráveis em relação às do terroir francês. Não basta um produtor inglês ter a indispensável vocação e conhecimento de enologia, se não tem um terroir apropriado ao seu dispor.
Vimos, portanto, não ser suficiente vocação ou determinação para ser bem sucedido na produção, não só do vinho, mas de outros bens. Outros produtos também exigem condições para serem competitivos. Aplicando com certa liberdade o termo, podemos usá-lo a quase tudo o que se produz no mundo. Os economistas definem ser esta uma vantagem competitiva . O Brasil vem mostrando ter enorme vantagem competitiva com a sua agricultura. A vocação do nosso agricultor e o terroir favorável é um casamento perfeito, que permite competir no mercado globalizado à despeito dos custos e obstáculos ao transporte até os portos. Indo do usou ao abuso ( do termo ) poderíamos afirmar que raramente uma região não tem um terroir favorável a algum tipo de atividade quer seja agrícola, industrial e/ou comercial.
Os países com grandes territórios, Estados Unidos, China e Brasil, podem dar-se ao luxo de uma variedade maior de produtos competitivos. Dos três é a China a que melhor está aproveitando-se das suas vantagens. Já os pequenos territórios como Suíça, Chile, Coreia...ficam limitados nas suas possibilidades. Tendem à especialização .Outros como O Canada, Rússia, Índia são castrados ou pela inclemência do clima ou por uma cultura desfavorável ao desenvolvimento. Estas carecem ou de vocação ou de um terroir generoso. Um mercado aberto é a condição para um país beneficiar-se das vantagens dos terroirs alheios. A Inglaterra degusta os vinhos franceses à custo razoável e os franceses o whisky escocês, que não produzem. Ao contrário da irracionalidade que seria os ingleses e franceses terem de consumir o produto nacional. A troca é benéfica, pois propicia a todos os benefícios dos melhores terroirs. A globalização é , em última instância, a troca das vantagens competitivas. Blasfemar contra os produtos importados é lutar contra a natureza.
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São Paulo, 25 de maio de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
Gostei da crônica. O marido e eu não dispensamos um bom vinho , principalmente agora no inverno. Queria ter um terroir generoso por aqui. Um abraço.
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