O Grande Mistério.
Um compêndio de reflexões, como pretende ser este livro, não estaria completo se não abordasse a origem do Universo. Um desafio que tem como barreira a propensão humana de fugir das abstrações que não nos são inteligíveis. Como as crianças, diante de uma cena de horror, fechamos os olhos pretendendo fugir da realidade. E a este mistério, a origem do Universo, enfrentamos de olhos fechados, pois é uma realidade que ultrapassa o nosso nível de compreensão. Não há uma narrativa com exemplos práticos, acessíveis mesmo às mentes privilegiadas. Só temos acesso a abstrações. No enfrentamento deste desafio duas correntes de pensamento - a religião e a ciência - tentam explicar o inexplicável - o mistério da existência do Universo.
As religiões, de forma sintética, atribuem à uma força superior, fetichismo, panteísmo, monoteísmo, a criação do mundo. As manifestações da natureza, raios, trovões, epidemias...eram entendidas como mensagens divinas. A ignorância ensejava a proliferação de falsos profetas, os quais angariavam seguidores operando supostos milagres: Abrahão, Moisés falavam com Deus; Jesus era filho do Criador; Maomé o seu profeta. Os livros tidos como sagrados, O Velho e o Novo Testamento, o Alcorão, foram obras escritas por milhares de seguidores, que acrescentaram ou mudaram capítulos de acordo com as circunstâncias e as conveniências. A conjugação da ignorância com a lei do menor esforço protege as religiões dos questionamentos racionais. O conforto de ter uma resposta à grande questão acomoda as mentes, simplificando tudo na Fé.
A evolução da Ciência, no período denominado o Iluminismo, dá início ao questionamento da Fé e início da era da Razão. A Terra deixa de ser o centro do Universo, os profetas não conseguem mais enganar os crédulos, os fenômenos da natureza têm explicações científicas, os milagres não mais ocorrem e as instituições humanas, as igrejas, perdem a aura de pureza e santidade. A interpretação da Bíblia deixou de ser monopólio dos iluminados. Não há mais espaço para o Crê Ou Morre do Islamismo e da Inquisição. Mas os avanços da ciência não responderam ao grande mistério, a Origem do Universo. O darwinismo esclarece a evolução e sobrevivência dos mais aptos, mas silencia sobre o seu ponto inicial. O elo perdido não esta entre o homem e o macaco, mas entre este e o seu antecessor. Se não há nem fé e nem razão para acreditar-se em um Criador, como tudo começou?
Este é o grande mistério!
A resposta religiosa do Criador é inaceitável com base na Razão. A Bíblia ou o Alcorão exigem muita fé para serem explicações aceitáveis. Não sobrevivem a um mínimo de ceticismo. São narrativas de contos de Mil e Uma Noites. O tempo, o espaço e a matéria do Universo, com a sua complexidade sem limites, não permitem acreditar que um Deus todo poderoso teria interesse num micróbio chamado ser humano. As nossas limitações intelectuais e fragilidade psicológica não nos permitem viver sem uma explicação, ainda que absurda. Ficamos, então, entre o criacionismo e a geração espontânea. Como contraponto à resposta finita* da religião coloca-se a infinita da ciência. Stephen Hawking** afirma ser o início o Big Bang, pois antes dele nada existia. Antes dele não existia o tempo, portanto não se explica um deus, a menos que deus seja um outro nome para a natureza.
Se a Religião e a Ciência podem conciliar-se , a base da conciliação deve ser o mais profundo, amplo e acertado fato entre todos - o de que o poder manifesto do Universo é completamente incognoscível para nós - concluiu Spencer*** no texto Ideias Fundamentais Da Religião.
* Segundo Spencer: a causa é finita se existe algo exterior a ela, por exemplo Deus. É infinita ao não ter a resposta final. Se Deus não existe, quem criou o espaço, o tempo e a matéria?
**Stephen Hawking, físico, citado no livro Breves Respostas Para Grandes Questões.
***Herbert Spencer, filósofo, extraído do livro Primeiros Princípios.
Jorge Wilson Simeira Jacob
São Paulo, 26 de fevereiro de 2021
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