sexta-feira, 19 de junho de 2020

O Próximo Governo.


Era uma vez uma aldeia em um território muito bonito e rico - onde em se plantando tudo dá. Apesar disto a maioria da população  era pobre, vivia em favelas,  sem nenhum conforto.  Os serviços públicos essenciais  só pioravam: segurança, escolas,  higiene, transporte público, água, esgoto eram um luxo, que igualava por baixo ricos e pobres. O desemprego era uma constante, como o eram as barrigas vazias. A única coisa que  aumentava eram os impostos e, por consequência,  as carências. Era uma história  marcada por  tristezas e decepções com os políticos locais - corrupção, politicalha, demagogia, em um jogo de poder pelo poder. O presente não é diferente.  Mas a população não perde as esperanças de dias melhores. Ninguém se dá ao trabalho de questionar o por quê de  insistir em um modelo que esta dando errado: arrecadar cada vez mais para sustentar o governo.

Um  alívio vinha  de  tempos em tempos com a  troca da guarda, mas  as ilusões não demoravam a morrer. Afinal é receita infalível - acreditar em promessa de político é apostar na decepção.  Mas as esperanças resistem a morrer. Um dia faleceu um ditador que havia tiranizado, como nenhum outro, a população e prejudicado a infeliz  aldeia. Logo ele que se dizia  um deles, o salvador dos costumes e que garantia que com vontade política todos teriam a pança cheia. No dia do seu enterro, toda a comunidade saiu às ruas para festejar. A morte dele foi recebida como uma benção. Surgia como um milagre, pois só assim era possível escapar de uma  ditadura tão cruel. 

Com a esperança recuperada, todos  estavam felizes, menos uma velhinha muito sofrida, que chorava em seu canto. Um senhor ouvindo os soluços da pobrezinha, foi consolá-la:
- Não chore minha senhora!  Por acaso o falecido era seu parente?
- Não,  respondeu .- Nem o conhecia.
- Então o que a faz sentir tanto o passamento dele. Ele foi um mau governo, um bandido. A nossa vida nunca foi tão sofrida. A morte dele traz a alegria da esperança. Agora tudo vai melhorar.
- Ah, meu filho! Você é muito jovem. Eu tenho perto de cem anos. Já vi muitas trocas de governo. Cada um   que chega é pior do que o anterior. Como sou muito velha, pelo menos estas serão as minhas últimas lágrimas.Tenho pena de vocês. Espere só para ver  o próximo governo!


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
18 de junho de 2020.







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