segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Tsunami.


Muitos estavam na praia observando tranquilamente as águas do mar se retraindo abruptamente, exceto uma garota que se sobressaltou ao se dar conta de que o fenômeno era o início do tsunami que causou destruição e morte na Indonésia. Ela havia aprendido na escola que os  tsunamis se iniciavam com um súbito  recuo das águas e retornavam em ondas gigantes avançando terra à dentro. Nos dias atuais, não na praia, mas no mercado, muitos estão acompanhando os juros retraindo-se à  níveis inéditos, até negativos, mas poucos estão atentos às suas consequências. Há, entre nós  poucos, como aquela garota, que  estão dando  conta de que, como as ondas, o atual recuo dos juros, induzido por interferência governamental, é um jogo de soma zero, que terá consequências e poderá ser o prenúncio de um tsunami. Um tsunami financeiro, pois uma ação violenta, como na física, pode provocar uma reação de igual proporção.

Desde 2009, como medida para superação da crise bancária, os bancos centrais da América e do Mercado Comum Europeu vêm dando ilimitada liquidez aos mercados. Mario Draghi , presidente do Banco Central Europeu, declarou que : faremos o que for preciso para salvar o euro, o que resultou na compra de 2,6 trilhões de euros em dívidas. O tesouro americano, por sua vez, comprou quantia equivalente para criar  a maior divida pública da história da humanidade - 21 trilhões de dólares (que cresce 1 trilhão por ano). Estas medidas, que prometiam ter caracter emergencial, ainda estão em pleno vigor, depois de uma  década, provocando sérias distorções nas alocações dos recursos. O mercado financeiro mundial , que não sabe o que fazer com tanta liquidez, investe em qualquer startup que tenha um bom discurso, mesmo nunca tendo gerado senão prejuízos. 


Como o mercado sempre tende ao equilíbrio, a reação aos juros baixos está provocando a  valorização dos ativos reais - bolsa e imóveis - e  desestimulando a poupança. O custo deste  desequilíbrio, está sendo pago pelos   poupadores, que perdem renda; e  pelos potenciais  locatários e compradores da casa própria, que são punidos com o alto preços dos imóveis e com o aumento dos aluguéis.  E os  beneficiados estão sendo, em primeiro lugar, os países endividados e as grandes  empresas com poder de alavancagem à custo ínfimo.  Entre estes , de todos , o maior dos males está no estímulo ao endividamento governamental, que se livrou do custo financeiro de rolagem das suas dívidas, podendo agora emitir despreocupadamente títulos à custo subsidiado pelos poupadores. Estão, portanto, abertas as burras dos tesouros para a farra dos gastos...até que a casa caia.













E tudo acontece sob os aplausos de uma torcida que aponta a queda das taxas de juros, as captações bilionárias  das empresas no mercado, a valorização das ações nas bolsas e a retomada dos lançamentos imobiliários como sinal de prosperidade e não como   uma perigosa distorção do cálculo econômico. As vaias vêm dos despossuídos, inconformados em não participar da alardeada prosperidade, que sofrem com a valorização dos ativos sem contrapartida nas suas rendas; dos poupadores, principalmente os aposentados, que acumularam  para a velhice e que estão vendo decrescer as suas economias; e das pequenas e médias empresas que  veem, sem acesso ao dinheiro barato,  serem alijadas do mercado, pelo crescente  monopólio das grandes empresas. E vêm vaias também daqueles, como a garota, que fizeram a lição de casa e sabem prever as consequências.

O tsunami está se formando. É questão de tempo e de tamanho. Enquanto isto, vemos o público na praia, admirando a movimentação das águas, divididos entre os otimistas - os beneficiários da atual distorção ; e os pessimistas - as suas vítimas. Uns acham , como o professor Pangloss, personagem do Cândido e o Otimismo de Voltaire, que: tudo vai pelo  melhor no melhor dos mundos e outros como Cândido, seu aluno, que, vendo um conjunto  de ideias fracassadas do seu mestre e  da Nova Matriz Econômica da presidenta, começa a duvidar dos otimistas com suas crenças em  soluções mágicas na economia.

As Minhas Reflexões 
Jorge Wilson Simeira Jacob

03 de fevereiro de 2020

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