sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Um Rótulo Inadequado.


É emocionante ver na televisão um exército de 13mil eletricistas, recrutados pela  Flórida Power and Light , em fila indiana,   dirigindo-se à Flórida  para  socorrer a população dos possíveis danos  à chegada do  Dorian - um furacão igual aos piores que já atingiram o continente. Esta é  só uma amostra de mobilização da sociedade. Onde se ponham os olhares o que se vê é uma comunidade em preparativos para sobreviver à grande ameaça. Os meios de comunicação transmitem ininterruptamente   a evolução do furacão, mostrando cenas dos escombros da sua passagem e recomendando a evacuação das áreas no  trajeto previsto. A população responde  enfileirando-se  em busca de recursos para a possível falta de energia, comunicação, combustível, água e  alimentos. O clima é de estado de guerra! Sobram  filas e congestionamentos nas estradas e aeroportos ... o que não falta é civilidade. Todos respeitam a ordem ajudando-se mutuamente. Não há competição para levar vantagem. Chama a atenção  a  solidariedade  nesta e em outras situações de crise. 

Quando New Orleans foi devastada pelo furacão Katrina,  de todos os estados  vieram tantos    caminhões de socorro a ponto de congestionar as estradas. Voluntários de todo o país se dirigiram  à região, espontaneamente, voluntariamente, sem outro interesse senão oferecer ajuda. Se este espírito comunitário só ocorresse nas calamidades, ainda assim seria de se elogiar. Mas não, esta disposição é visível no dia a dia da vida. Desde cedo as crianças  são educadas  a contribuir para bem comum.  As escolas têm no seu curriculum ações comunitárias; o judiciário apena  crimes menores com trabalho social; as universidades privilegiam  os candidatos que demonstraram  envolvimento social... . E , primus inter pares, em nenhuma economia do mundo se pratica com tanta generosidade a  filantropia . Os Estados Unidos são os maiores doadores do Vaticano sem serem um país predominantemente católico . Onde mais os milionários doam grande parte das suas heranças para o bem público?

Essa descrição da vida  se torna pertinente por contrastar com a imagem que se tem povo americano, considerado individualista, egocêntrico e socialmente frio. Características que não se coadunam com  um espírito de solidariedade, como a que se vê nas calamidades públicas e nas ações filantrópicas. O que não significa a inexistência destas características, mas não um traço predominante , sendo portanto, um rótulo inadequado

 Nos latinos somos críticos do individualismo. O social prevalece,  o que tornam calorosas as  nossas relações.  O contato físico, a proximidade, a intimidade são sinais de bem querer, de amizade de  aprovacão. As  relações são circunscritas à uma grande família :  parentes, padrinhos,  amigos e parceiros identificados por algum interesse - o clube, o trabalho, a igreja...Esta grande família é socialmente   autossuficiente, morando os seus  preferencialmente na vizinhança. O que a torna naturalmente fechada para  os estranhos ao ninho. 

Já os  americanos, não se fecham em  uma grande família. A grande mobilidade e uma independência cultural lhes  faz ter relações sociais mais diversificadas e menos profundas - que equivocadamente definimos como individualismo em vez de independência. Se de  um lado estão mais abertos ao estranho, de outro aprofundam menos os vínculos pessoais. As relações são mais formais e o contato físico soa como agressão. Características de personalidade adquiridas na educação.  A vida em casa, os exemplos, a escola e a organização da sociedade é toda voltada a estimular a independência pessoal. Desde de criança, cada um cuida das suas coisas: veste-se, arruma cama, tira a mesa... mas, ao mesmo tempo, aprende a valorizar o bem comum, a responsabilidade social , a civilidade. As escolas ensinam a repreender os atos de incivilidade de terceiros.

Temos assim uma formação  cultural diversa. Nossas crianças ( exceto nas classes menos  favorecidas economicamente) não são treinadas à serem independentes Nossa educação é protecionista . O jovem americano sai de casa ainda na puberdade, enquanto o latino vive sob o rabo de saia até constituir família . Não é por menos , senão por esta educação, que tendemos a esperar de alguém  pela solução de todos os nossos problemas. Somos uma sociedade vocacionada para um governo forte, para o socialismo e não  para a  liberdade com responsabilidade.

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Um comentário:

  1. Há uma diferença consideravel na formação dos jovens norte americanos em relação aos latinos. Percepção de civismo e patriotismo durante seus aprendizados em seus programas de educação e formação cultural.

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