Os Meus Sonhos Dourados.
Em um milagre de reencarnação, Dom Quixote e Sancho Pança fazem uma pausa nas suas andanças em solo brasileiro para ler os jornais.
Diz Dom Quixote:
- Sancho, estou lendo que o governo Bolsonaro avança nas reformas do esclerosado governo brasileiro. Praticamente, a reforma da Previdência foi aprovada, a inflação está contida, a privatização está sendo encaminhada e a reforma deverá racionalizar o irracional sistema tributário. Neste passo, os humildes terão dias melhores e nos poderemos ir acudir os injustiçados de outro país. Não seremos mais necessários aqui!
- Dom Quixote, reconheço a minha visão excessivamente prática da vida. Mas, não vejo com otimismo o desempenho deste governo. Não só eu, mas todos sabem que a Reforma da Previdência é uma gota d’água no oceano de desafios dessa sociedade. Neste país os carrapatos ficaram maiores que a vaca. Não há sangue para alimentar tantos parasitas. Quem vai enfrentar os lobbies da burocracia contra o corte das suas regalias, reduzir o exército de funcionários e simplificar a vida de quem produz riqueza? Sinto muito, mas acho que vamos ficar aqui por muito tempo!
- Sancho, vc ignora que o combate à corrupção vai contribuir para melhoria da produtividade e
para o crescimento do mercado. Isto irá diluir os custos da governança. A venda das
estatais vai aliviar do orçamento os seus prejuízos e, pagando a dívida, irá
eliminar o custo do seu carregamento tirando o governo como tomador de recursos no
mercado. Estes serão destinados a investimentos com taxas de juros dos países
desenvolvidos. O potencial do Brasil para crescer é único no mundo!
- Dom Quixote, o seu entusiasmo abala as minhas convicções. O que me faz apostar contra é
ter presente a facilidade com que vc se entusiasma com os sonhos. Todas as donzelas são a
a sua sublime Dulcinéia! Acontece que as reformas não vão acontecer! Quem escreve as leis
são os burocratas e eles não irão favorecer o fim dos seus privilégios e os da sua curiola.
Espere por greves, lobbies, intriga palacianas e interesses políticos a impedir a realização do
seu sonho. A maquina continua produzindo diariamente 4mil determinações a serem
cumpridas pelas empresas. Veja esta pérola - a Lei do Lixo da Prefeitura de São Paulo a se
somar às 5 milhões de leis, normas e decretos a sufocar a produtividade nacional.
A realidade é que se está copiando o drama argentino - onde o projeto era o ideal: economia
de mercado, orçamento equilibrado, câmbio livre e desburocratização. Como na verdade lá
nada aconteceu, está à vista a volta ao pior do pior dos mundos, o peronismo. Uma recaída é
sempre mais grave. É como a resistência dos vírus aos antibióticos.
A amostra do que aconteceu aqui nestes nove meses não é nada animadora. Nada
mudou para melhor na vida do povo. O termômetro das massas é o estômago. Leis e decretos
não matam a fome, não criam emprego, não aumentam a renda e nem amenizam as dores da
recessão. Os pequenos empresários, a classe média, estão inconformados com as suas
privações para suportar as mamatas e regalias da nomenclatura. Ela descobriu que é ela quem
paga pelo o welfare state .
- Sancho, os desafios são dantescos. Há que se resolver um de cada vez. Décadas de socialismo demandam tempo para correção. E este tempo o governo tem. O risco de retorno da oposição ao governo é nula. Eles não têm liderança capaz de aglutinar as diversas facções,
os principais partidos estão destruídos, desmoralizados. E , caso o Bolsonaro - que já está em
campanha eleitoral - se veja em risco, ele manda o Paulo Guedes para casa e convida um
Keynesiano para abrir as burras do tesouro. Ação que o Macri só tomou quando já era tarde.
O desespero é mal conselheiro!
- Dom Quixote, agora estamos nos entendendo. Abertas as burras, abandonado o enxugamento do governo, voltaremos aonde sempre estivemos - mudamos tudo para continuar na mesma! . Só não concordo em subestimar o tempo - a fome não espera, tem pressa - e menos ainda, a oposição. Este é um erro grave. Por subestimar o candidato Bolsonaro a oposição não se aliou ao Ciro Gomes e perdeu a eleição. Entender o atual silêncio dos adversários como impotência pode ser erro fatal. Pode ser uma estratégia deles de se fazer de morto para comer os vivos. É o dar corda para enfocar a soberba.
Se a oposição tiver sucesso no processo de se unir para as próximas eleições, não repetindo o
erro, e se este governo não tiver satisfeito as esperanças que havia criado, vamos ter que
ficar aqui por muito e muito tempo.
- Sancho, vc não perde esse defeito abominável de acordar-me dos meus sonhos dourados!
Jorge Simeira Jacob
Reflexões
Setembro 2019.
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