sábado, 14 de setembro de 2019

Os Meus Sonhos Dourados.


Em um milagre de reencarnação, Dom Quixote e Sancho Pança fazem uma pausa nas suas andanças em solo brasileiro  para ler os jornais. 

Diz Dom Quixote:

  • Sancho,  estou lendo que o governo Bolsonaro avança nas reformas do esclerosado governo brasileiro. Praticamente, a reforma da Previdência foi aprovada, a inflação está contida, a privatização está sendo encaminhada e a reforma  deverá racionalizar o irracional sistema tributário. Neste passo, os humildes  terão dias melhores e nos poderemos ir acudir os injustiçados de outro país. Não seremos mais necessários aqui!

  • Dom Quixote, reconheço a minha visão excessivamente prática da vida. Mas, não vejo com otimismo o desempenho deste governo. Não só eu, mas todos sabem que a Reforma da Previdência é uma gota d’água  no oceano de desafios dessa sociedade. Neste país os carrapatos ficaram maiores que a vaca. Não há sangue para alimentar tantos parasitas. Quem vai enfrentar os lobbies da burocracia contra o corte das suas regalias, reduzir o exército de funcionários e simplificar a vida de quem produz riqueza? Sinto muito, mas acho que vamos ficar aqui por muito tempo!

-  Sancho, vc ignora que o combate à corrupção vai contribuir para melhoria da produtividade e                
     para o crescimento do mercado. Isto irá diluir os custos da governança. A venda das  
    estatais vai  aliviar do orçamento os seus prejuízos e, pagando a dívida,  irá
    eliminar o custo do seu carregamento tirando o governo como tomador de recursos no
    mercado. Estes serão destinados a investimentos com taxas de juros dos países
    desenvolvidos. O potencial do Brasil para crescer é único no mundo!

 -  Dom Quixote, o seu entusiasmo abala as minhas convicções. O que me faz apostar contra é 
    ter presente a facilidade com que vc se entusiasma com os sonhos. Todas as donzelas são a 
    a sua sublime Dulcinéia! Acontece que as reformas não vão acontecer! Quem escreve as leis 
    são os burocratas e eles  não irão favorecer o fim dos seus  privilégios  e os da sua curiola. 
    Espere por greves, lobbies, intriga palacianas e interesses políticos a impedir a realização do
    seu sonho. A maquina continua produzindo diariamente 4mil determinações a serem
    cumpridas pelas empresas. Veja esta pérola - a Lei do Lixo da Prefeitura de São Paulo a se
    somar às 5 milhões de leis, normas e decretos a sufocar a produtividade nacional.
    A realidade é que se está copiando o drama argentino - onde o projeto era o ideal:  economia
    de mercado, orçamento equilibrado, câmbio livre e desburocratização. Como na verdade lá 
    nada aconteceu, está à vista a volta ao  pior do pior dos mundos, o peronismo. Uma recaída é
    sempre mais grave. É como a  resistência  dos vírus aos antibióticos. 
    A amostra do que aconteceu aqui  nestes  nove meses   não é nada animadora. Nada
    mudou para melhor na vida do povo. O termômetro das massas é o estômago. Leis e decretos
    não matam a fome, não criam emprego, não aumentam a renda e nem amenizam as dores da
    recessão. Os pequenos empresários, a classe média,  estão inconformados com as suas
    privações para suportar as mamatas e regalias da nomenclatura. Ela descobriu que é ela quem
    paga pelo o welfare state .


  • Sancho, os desafios são dantescos. Há que se resolver um de cada vez. Décadas de socialismo demandam tempo para correção. E este tempo o governo tem. O risco de retorno da oposição ao governo é nula. Eles não têm liderança capaz de aglutinar as diversas facções, 
    os principais partidos estão destruídos, desmoralizados. E , caso o Bolsonaro - que já está em
    campanha eleitoral - se veja em risco, ele manda o Paulo Guedes para casa e convida um 
    Keynesiano para abrir as burras do tesouro. Ação que o Macri só tomou quando já era tarde.
     O desespero é mal conselheiro!

  • Dom Quixote, agora estamos nos entendendo. Abertas as burras, abandonado o enxugamento do governo, voltaremos aonde sempre estivemos - mudamos tudo para continuar na mesma! . Só não concordo em subestimar o tempo - a fome não espera, tem pressa  - e menos ainda,  a  oposição. Este  é um erro grave. Por subestimar o candidato Bolsonaro a oposição não se aliou ao Ciro Gomes e perdeu a eleição. Entender o atual  silêncio dos adversários como impotência pode ser erro fatal. Pode ser uma estratégia deles  de se fazer de morto para comer os vivos. É o dar corda para enfocar a soberba. 
    Se a oposição tiver sucesso no processo de se unir para as próximas eleições, não repetindo o 
    erro, e se este governo não tiver satisfeito  as esperanças que havia criado, vamos  ter que
    ficar aqui por muito e muito tempo.

-   Sancho, vc não perde esse defeito abominável de acordar-me dos  meus sonhos dourados!


Jorge Simeira Jacob

Reflexões 

Setembro 2019. 



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