sexta-feira, 29 de outubro de 2021

 




Um Sonho Impossível.



Sonhar o sonho impossível

Combater o inimigo imbatível

Suportar uma dor insuportável

Ir aonde os corajosos não se atrevem ir


Corrigir o erro incorrigível

Ser muito melhor do que se é

Tentar com os braços exaustos

Alcançar a estrela inalcançável


Esta é minha busca, seguir aquela estrela

Não importa quão sem esperança

Não importa quão distante

Lutar pelo que é certo

Sem questionar ou repousar

………………………………..

O mundo será melhor por isto!

Elvis Presley



Não consigo ouvir esta canção sublime sem pensar nos grandes desafios das nossas vidas. Inspiro-me nela para os casos pessoais, profissionais e especialmente no do meu país. Afastando-me do pessoal, ela coloca- me diante do desafio da maioria dos  inconformados com a miséria de muitos de nossos concidadãos-irmãos. Inconformismo legítimo tendo em conta termos sido abençoados com as  melhores condições de território, clima, povo…para o desenvolvimento econômico. Só temos, como paralelo para comparação, o país mais poderoso do mundo - os Estados Unidos da América. Então o que tem feito o nosso  desejo legítimo de sermos uma nação próspera parecer um sonho impossível?


A nossa economia não cresce há duas décadas. A renda per capita é inferior à da decadente  Argentina. Os nossos assalariados disputam remunerações miseráveis. Temos a pior das desigualdades: salários, vantagens e regalias à nomenclatura e miséria à camada menos favorecida. O mérito, que deveria ser o critério de premiação, está desvirtuado. Não se premia  o  espírito empreendedor, talento inventivo, esforço físico, mas os  “amigos do rei”. Em consequência, nestas décadas, o que prosperou foi o tamanho do governo. Desde a proclamação da República ( 1889 )  o custo do governo subiu de 7% do PIB para estimados 50% ( incluindo déficit público e inflação) * . Destes  97% são desperdiçados com o custeio da máquina e uma migalha com gastos sociais. O resultado, sem ter investimentos,  é a atual estagnação da economia. A qualidade de vida da maioria não melhorou e a infraestrutura deixa a desejar.


Porém, a coisa poderia ser menos ruim. Um governo sem recursos para investir poderia ter como compensação investimentos da iniciativa privada, que tem sido a salvação da “ lavoura “ , mas esta está castrada pela burocracia, insegurança jurídica e instabilidade política. Chegamos, assim, a inviabilizar a economia mais propícia de ser viabilizada - a do Brasil. A tal ponto chegamos que os brasileiros atravessam o deserto do México para ser trabalhadores clandestinos nos Estados Unidos e outros  têm depositados US $400 bilhões  no exterior, que poderiam estar investidos aqui para dar emprego àqueles que emigram.


O Brasil se tornou, politicamente falando, um travesti. Nem é uma administração centralizada e nem é o  modelo de  federação, que copiamos dos americanos. Em uma federação  os estados têm autonomia e o governo central cuida das funções básicas, respeitando a independência dos estados. Mas, no nosso caso, fazemos um jogo duplo: a União duplica todas as funções existentes nos estados. Não só duplicam-se os custos como multiplica-se a burocracia estatizante. O ideal do modelo federativo, o princípio da subsidiariedade,  é a descentralização tendo em conta  o respeito às características regionais. Nem sempre o que é bom para um estado é bom para os  demais. O poder de decidir é mais eficaz quanto mais perto está do fato. E os fatos acontecem nos municípios, estados e só depois na União. Este modelo surgiu nos Estados Unidos , como diz  o próprio nome, por terem se formado da união de estados independentes , 13 no início, mas foi deformado aqui por termos  surgido de uma monarquia sobre um território único. No modelo travesti  o país do futuro está inviável!



Um sonho impossível seria voltarmos à ideia original republicana de  sermos realmente uma Federação. Neste sonho,  Brasília teria no máximo 6 ministérios, Defesa, Economia, Relações Exteriores,  Higiene e Saúde, Meio Ambiente e Casa Civiil, que coordenariam as ações de carácter nacional, mas respeitando a independência dos secretários estaduais de cada função. Brasília , em vez de 3,1 milhões de habitantes, teria a população de Washington  ( capital do mundo ) de 690 mil. Com a redução do patrimonialismo, da burocracia e da corrupção o governo seria o mínimo desejável. A arrecadação federal poderia ser reduzida tornando a economia competitiva - o que hoje não o é em termos internacionais. Esta deve ser  a  nossa busca : “ sonhar o sonho impossível… seguir aquela  estrela, não importa quão sem esperança, não importa quão distante, mas lutar pelo que é certo… O mundo será melhor por isto! “


São Paulo, 29 de outubro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob


* “Há um século, a renda per capita argentina era superior a quase todos os países europeus. Mas os gastos públicos, que nos anos 40 correspondiam a 10% do PIB, chegaram a 30% nos anos 70 e em 2015 atingiram 46%”

 . 

O Brasil copia o modelo que inviabilizou a Argentina.

Fonte: O Estado de São Paulo, A14, 17 de novembro de 2021.


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 A Cognição.


A cognição é a capacidade do cérebro perceber, raciocinar e armazenar as informações captadas pelos sentidos.

Dicionário Oxford Languages


Um dos maiores desafios da humanidade é a transmissão do conhecimento. A cognição é um processo lento, sujeito a interpretações e a enorme resistência. Uma parte da humanidade, uma elite, tem a compreensão dos fatos significativos da vida, outra,  os medianos, tem o entendimento, e uma grande massa vive alienada. A elite tem a clareza das causas mais profundas. Ela vai à raiz dos fatos, domina  os conceitos. Os outros entendem as causas primeiras, superficiais, mas não apreendem os conceitos básicos. Já a grande massa  é motivada pelas emoções, sobrevivendo na ignorância.

Desconhecem as razões por não terem sido educadas, mas  condicionadas. Agem intuitivamente por mimetismo ou reflexo. Estas são constatações e não discriminação, pois limitam-se a identificar as diversas reações frente às provocações cognitivas.


Por necessidade de  obter resultados, os responsáveis pelo ensino, pais, mestres, líderes, simplificam a transmissão do conhecimento. Não se ensina a pensar, a refletir e a  questionar. Em casa e nas escolas  ensina-se a obediência, a disciplina e a memorização. Em vez de estimular a compreensão,  limitam-se a fazer entender ou apelam para os sentimentos. É mais fácil fazer sentir o calor de uma chama do que que explicar os efeitos do calor. Demanda esforço, tempo e talento desenvolver o gosto pelo domínio dos conceitos para compreender o entendido. Frente a uma frase em grego, um néscio nada sente, os medianos entendem, mas é  a elite, que  ao dominar o idioma, apreende a mensagem e os seus desdobramentos.


Como desde o nascimento estamos todos em processo de aprendizado, somente avançam intelectualmente, sobressaindo da grande massa, os atentos às causas dos efeitos.  Newton, dizem, não se limitou a ver a maçã cair, viu a causa da queda e deduziu a lei da gravidade.  A ele e a muitos outros, a humanidade deve a sua  sobrevivência na face da terra, por não terem se  limitado a sentir a maçã na cabeça, a entender o fato, mas ao ter dominado a causa da queda.


A natureza foi pródiga com os humanos ao nos dotar, além da razão e do sistema nervoso, de cinco sentidos ( seis se considerarmos a intuição).  Se não tivéssemos estes recursos,  não teríamos sobrevivido como espécie. De todos os instrumentos de transmissão do conhecimento, sao as sensações os mais eficazes, principalmente as que nos causam gosto, desgosto, prazer, tristeza, euforia ou dor. As massas entendem mais por estas  emoções do que pela razão. Ainda que as emoções não levem à compreensão. Uma foto diz mais que mil palavras; um exemplo influencia do mais do que uma aula; e uma derrota ensina mais do que um treinamento. Está assim exemplificado um processo cognitivo.



Se a natureza nos propiciou elementos para a nossa sobrevivência, coube às sociedades criar   instrumentos para transmissão das nossas descobertas.  O uso da razão, incentivando a observação, análise e conclusão, é um recurso limitado a uma elite intelectual. A necessidade de motivar  as camadas não pensantes nos levaram a desenvolver uma arte de comunicação. Surge assim o teatro , a literatura, a pintura, o discurso político… A arte complementou a razão. Todos nós somos influenciados por algum tipo de arte. É maior a  probabilidade de uma ideia ser transmitida por um artista , um líder carismático, do que por um gênio intelectual. Este, ao tentar transmitir um conceito básico, uma teoria, não atinge o emocional … e se o homem comum não se emociona,  ele não se motiva. As grandes ideias necessitam de ser   traduzidas em forma que sensibilizem as massas - só assim caminha a humanidade. E é aproveitando disto que vivem  os demagogos e os demais artistas!


São Paulo, 20 de outubro de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob




sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 O Concorde


O consórcio Airbus lançou com grande alarido o Concorde. O primeiro avião  supersônico a voar.   O entusiasmo com as promessas de fazer o breakfast em Londres e almoçar em Nova York eram manchetes nos jornais. Finalmente superar a velocidade do som tornou-se viável. A realidade, porém, mostrou-se perversa. Ainda que viável tecnicamente, a inovação mostrou-se inviável comercialmente. O consumo  exigia estoque tal de combustível, que limitava a carga ( passageiros e bagagem ) e o tempo de voo. Mal dava para movimentar a carcaça . Uma década decorrida e o sonho do mais veloz que o som aterrizou para não mais voar.  


Restou dessa aventura a informação de ser possível voar-se superando a barreira do som, mas também que, ainda que tecnicamente viável, é inviável algo em que a produtividade está perto de negativa. O supersônico, como operação comercial, mostrou-se  inviável. A sua ressureição, se um dia acontecer,  dependerá da melhoria da equação: menor consumo por quilômetro/carga voada. É um desafio à produtividade.


O Brasil viveu um sonho semelhante, ser um êmulo da riqueza e poderio da América do Norte. Um sonho que fazia manchetes nos jornais. Tecnicamente, pensando em termos de território, população, clima…, tudo corroborava com esse sonho. Pudemos sonhar crescer em velocidade supersônica. O que aconteceu até duas décadas atrás. Mas, a nossa estrutura administrativa tornou-se altamente improdutiva. O potencial de riqueza  brasileiro, ainda que favorecido por Deus,  foi estragado pelo homem. Como o Concorde, no Brasil o   consumo de combustível é gasto só para impulsionar a máquina e assim mesmo para voos de galinha. Não sobra espaço para carga, passageiros e nem autonomia econômica de voo. O resultado é, economicamente e politicamente falando, ter se tornado uma operação inviável.


A sabedoria popular sabe que o primeiro passo para a solução de um problema é reconhecer a sua existência. Não serão os visionários/otimistas que apostam em suposta proteção divina e nem os que se satisfazem com pequenas conquistas, ainda que significativas,  que farão o Brasil realizar o seu potencial. Foram eles, que ignorando a produtividade, fizeram voar o Concorde e provocaram um rombo gigantesco nas contas da Airbus. São eles que nos farão perder tempo, satisfazendo-se com eventos que, ainda que positivos, não resolvem um problema estrutural. Uma maquiagem encobre as rugas, mas não as elimina. Ou o Brasil melhora a produtividade da sua administração ou terá o destino do Concorde.


Infelizmente, nem todos os problemas têm solução, e este será um deles,  se não se descobrir como desmontar uma máquina que consome todo o combustível consigo mesma. Onde quer que se olhe, a improdutividade é uma marca nacional, nos três poderes. Por isto, o Brasil está inviável…mesmo sendo muito viável.




São Paulo, 15 de outubro de 2021.


Jorge Wilson Simeira Jacob

domingo, 3 de outubro de 2021

 Educação e cultura.



Sem a mínima possibilidade de serem contestados, os defensores dos investimentos em educação podem defendê-la como um elemento importante para o desenvolvimento pessoal e nacional. Uma nação ou indivíduo sem boa educação  levará desvantagem diante de outros com melhor nível. Tanto a educação formal, acadêmica,  como a social adquirida na vivência, têm valores incontestáveis. O melhor investimento de um país ou de uma família é o destinado à educarão. Não só em termos de retorno, mas principalmente por ser o único patrimônio que, nos possíveis azares da vida, não se perde. Ninguém tira o que se sabe ! Nada é mais eloquente para mostrar a consciência do valor da educação no desenvolvimento do que o sacrifício pessoal de uma  multidão de estudantes, que trabalham de dia e estudam de noite. Este é um heroísmo que só se justifica pela importante contribuição dela para  forjar o futuro.


Entretanto, a educação por si só não é garantia de resultados. Basta olhar ao redor e ver exemplos de homens, em todas as profissões, com elevado nível educacional e  rica vivência, que não exibem sucesso econômico; e países, como o Brasil, que investiram em educação, mas  perderam a pujança. Nas últimas décadas, o país  passou a fazer companhia à Argentina, que é mais educada hoje, mas menos próspera do que antigamente. Ambos os países copiaram modelos educacionais  incompletos para satisfazer o   esnobismo  dos novos ricos, dos imigrantes pobres, de dar um  título de doutor para os filhos, em busca da ascensão social. Ao contrário da Alemanha, que a par dos cursos de excelência para uma elite, generalizou  cursos profissionalizantes para uma mão de obra com vocação ao trabalho. Esta deu ensejo a uma próspera  economia de pequenas empresas, melhorando a distribuição de renda e sendo o sustentáculo do poderio desenvolvimentista alemão. Na Alemanha, a erudição caminhou, passo a passo, com o  conhecimento prático. Nela, os seus usos e costumes privilegiam uma cultura que gera o progresso. No Brasil o ensino profissionalizante não está generalizado, limita-se ao Sesc,  Senai e ao treinamento nas empresas. 


Se a educação é importante para o desenvolvimento, a cultura é fundamental. Cultura no sentido de usos e costumes, de valores éticos e morais. Sem uma ordem de valores que privilegie o trabalho, a poupança e o investimento; sem  uma ética de respeito ao mérito; e sem o respeito à moralidade, nem o indivíduo e nem a  nação prosperam. A confiança nas leis e na ordem é elemento fundamental para o desenvolvimento de um país.


O Brasil era predominantemente uma economia agrícola até o fim da Segunda Guerra

 Mundial.  O café representava setenta por cento das nossas exportações . As nossas importações iam desde de trigo, arroz,  frutas argentinas a produtos básicos industrializados. A nossa agricultura e indústria era minimamente diversificadas. Durante a guerra havia racionamento de sal, açúcar, trigo… Após, o  governo Dutra deu uma abertura na economia, a que se seguiu um “porre” de importações, devido a um câmbio artificialmente baixo, mas deu início à industrialização. Com esta,  as cidades cresceram explosivamente, esvaziando os campos. O crescimento demográfico e a explosão da migração do campo para as cidade constituem-se em caso único no mundo. O Brasil fez a proeza de acolher nas zonas urbanas 158 milhões de habitantes* em poucos anos. Um fenômeno migratório inédito no mundo, cujo ônus foram as favelas e a  deterioração dos serviços públicos. Esta transição ocorreu sob a cultura de uma ética capitalista, onde imperou a meritocracia. O Brasil  prosperou!  Depois, na sequência, transitando para a ética do populismo-estatizante de inspiração  peronista, do reino da mediocracia, do assistencialismo social, o Brasil estagnou. Com o governo inchado, esterilizando algo como metade do PIB, agravou-se a qualidade de vida. Não foi, porém, um brasileiro menos educado o responsável pela perda do dinamismo da nossa economia, mas a cultura socialista. O Brasil melhorou com o cultivo da  meritocracia e está decadente com a cultura da mediocracia**. 



  • Segundo o Censo, em 1940 a população brasileira era de 40 milhões, sendo 31% nas cidades. Em 2020, estima-se um total de 212 milhões, sendo 41 milhões no campo e 170 milhões nas cidades. Entre 1940 e 2020 as cidades absorveram aproximadamente 158 milhões de habitantes. População maior do que a Rússia e o México em 2020.


    Ano                   população           urbana                           rural.                ( todos números arredondados )

    1940.                40 milhões.         12 milhões  ( 31% )        28 milhões 

    2020                213 milhões.       170 milhões ( 80%)         40 milhões 

    Acréscimos.    173 milhões.       158 milhões.                    12 milhoes


Fontes: Embrapa,  IBGE e Intercultural. O 


** Mediocracia , de medíocres. Governo dos medíocres. 


São Paulo, 02 de outubro de 2021. Milhões 

Jorge Wilson Simeira Jacob