quarta-feira, 7 de abril de 2021

 Castelo sobre a areia. 




Uns mais... outros menos, estamos sempre  figurativamente construindo castelos sobre a  areia. São sonhos que duram enquanto não desabam as ilusões. É aquele amor com juras de ser eterno e que não resiste à troca do calendário; é aquele investimento com promessa de forte retorno que só devolve  perdas; aquela viagem a um  paraíso terrestre  que  se torna um purgatório; aquele líder político com a  empáfia de salvador da pátria que só está focado no próprio umbigo...


É da natureza humana o anseio por segurança, não só física, mas também psicológica. Quando não se as tem, como náufragos, agarramo-nos ao que quer que esteja boiando. Quando nós falta,  a cobiçamos com  ânsia não só a do  presente mas a  do futuro. Esse desejo  nos torna vulneráveis às promessas de amor, de lucro fácil, de uma aventura paradisíaca e do discurso de um demagogo. Nessa toada, desde o início da Republica, temos construído castelos sobre a areia aceitando regimes autoritários, elegendo candidatos demagogos e aventureiros para fugir da angústia do momento para depois cair na desilusão. Muitos deles   terminando em  renúncias e deposições, legalizadas  ou não, resultantes de golpes e contra golpes. Em todas elas, em maior ou menor grau, houve cisão nas FFAA. O que é natural, sempre há uma diferença entre estar no poder e os preteridos. Agora com a experiência do período recente, que os sujeitou  à severas e injustas  críticas, os militares  adotaram defensivamente um discurso radicalmente legalista : as FFAA são uma instituição do Estado, defensoras da Constituição. Nesta crença alicerçamos a nossa segurança , inclusive diante da situação crítica que vivenciamos no Brasil. Aparentemente um castelo sobre a areia.


A recente crise política, que afastou o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas, a par da perplexidade, resulta na  dúvida de distinguir  se  houve uma tentativa de  golpe ou um contragolpe. Em qual narrativa acreditar: na do  governo ou  na da oposição?  Como subproduto ficou  à nu  a existência de duas correntes políticas  nas FFAA. De um lado os governistas dedicados à permanência e reeleição deste governo;  e de outro  os demitidos com uma postura de não alinhamento , mesmo  que o  jogo político  levasse a  descontinuidade deste governo.  Uns fiéis ao formalismo  e outros ao projeto de poder do Presidente. Acabamos, assim, com a triste constatação de que acrescentamos mais insegurança à que já nos dá um  judiciário que não se limita a cumprir a lei, colocando-nos na instabilidade  própria das republiquetas de banana


Com esse quadro institucional justifica-se  acreditar que a cada militar demitido - com desrespeito pessoal e profissional - corresponde um desafeto, talvez um inimigo. Eles, antes de profissionais, são seres humanos com sentimentos, ética e valores morais próprios. Amor  próprio ferido é mau conselheiro -  e eles já não são poucos. Por isto não  há como apostar em uma unidade de sentimento entre os militares em que ancorávamos a nossa tranquilidade. Cai com este episódio o  nosso sonho de estabilidade política. Era  só mais um castelo sobre a areia.


São Paulo, 06 de abril de 2021.

Jorge Wilson Simeira Jacob

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