Castelo sobre a areia.
Uns mais... outros menos, estamos sempre figurativamente construindo castelos sobre a areia. São sonhos que duram enquanto não desabam as ilusões. É aquele amor com juras de ser eterno e que não resiste à troca do calendário; é aquele investimento com promessa de forte retorno que só devolve perdas; aquela viagem a um paraíso terrestre que se torna um purgatório; aquele líder político com a empáfia de salvador da pátria que só está focado no próprio umbigo...
É da natureza humana o anseio por segurança, não só física, mas também psicológica. Quando não se as tem, como náufragos, agarramo-nos ao que quer que esteja boiando. Quando nós falta, a cobiçamos com ânsia não só a do presente mas a do futuro. Esse desejo nos torna vulneráveis às promessas de amor, de lucro fácil, de uma aventura paradisíaca e do discurso de um demagogo. Nessa toada, desde o início da Republica, temos construído castelos sobre a areia aceitando regimes autoritários, elegendo candidatos demagogos e aventureiros para fugir da angústia do momento para depois cair na desilusão. Muitos deles terminando em renúncias e deposições, legalizadas ou não, resultantes de golpes e contra golpes. Em todas elas, em maior ou menor grau, houve cisão nas FFAA. O que é natural, sempre há uma diferença entre estar no poder e os preteridos. Agora com a experiência do período recente, que os sujeitou à severas e injustas críticas, os militares adotaram defensivamente um discurso radicalmente legalista : as FFAA são uma instituição do Estado, defensoras da Constituição. Nesta crença alicerçamos a nossa segurança , inclusive diante da situação crítica que vivenciamos no Brasil. Aparentemente um castelo sobre a areia.
A recente crise política, que afastou o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas, a par da perplexidade, resulta na dúvida de distinguir se houve uma tentativa de golpe ou um contragolpe. Em qual narrativa acreditar: na do governo ou na da oposição? Como subproduto ficou à nu a existência de duas correntes políticas nas FFAA. De um lado os governistas dedicados à permanência e reeleição deste governo; e de outro os demitidos com uma postura de não alinhamento , mesmo que o jogo político levasse a descontinuidade deste governo. Uns fiéis ao formalismo e outros ao projeto de poder do Presidente. Acabamos, assim, com a triste constatação de que acrescentamos mais insegurança à que já nos dá um judiciário que não se limita a cumprir a lei, colocando-nos na instabilidade própria das republiquetas de banana .
Com esse quadro institucional justifica-se acreditar que a cada militar demitido - com desrespeito pessoal e profissional - corresponde um desafeto, talvez um inimigo. Eles, antes de profissionais, são seres humanos com sentimentos, ética e valores morais próprios. Amor próprio ferido é mau conselheiro - e eles já não são poucos. Por isto não há como apostar em uma unidade de sentimento entre os militares em que ancorávamos a nossa tranquilidade. Cai com este episódio o nosso sonho de estabilidade política. Era só mais um castelo sobre a areia.
São Paulo, 06 de abril de 2021.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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