quarta-feira, 14 de abril de 2021

 


À espera de um Robespierre.



A família real francesa era admirada por sua história e riqueza por todas as outras monarquias. Luís XVI, neto do rei sol,  pelo casamento com Maria Antonieta era ligado ao poderoso  reino austro-húngaro dos Habsburgos. Nada parecia ameaçar a casa real dos Bourbons. A França estava no centro do poder mundial.  Versailles , símbolo do poderio francês, era razão de admiração e inveja pela sua dimensão e luxo. Era por isto imitada. A vida neste  palácio seguia dentro dos  seus conformes. Os negócios de estado tinham curso normal: recepções, reuniões com potentados estrangeiros, banquetes e pressão sobre o ministro das finanças para aumentar a arrecadação, pois a manutenção da corte arrasava com  os cofres públicos. Equilibrar o orçamento reduzindo os custos não era uma opção considerada. A tentativa  do Ministro das Finanças,  Jacques Necker , de tributar a nobreza e o clero  - não prosperou - os privilegiados  não aceitaram ser melhor perder os anéis do que os dedos. Perderam os dois!


Maria Antonieta era uma rainha frívola que, frustrada na  sua vida íntima  pela fimose do Rei,  preenchia o  tempo e satisfazia a sua lascívia  participando com as damas e valetes de brincadeiras de pega-pega nos jardins de Le Nôtre. Este era o mundo Real, não o real. A realidade  era bem diversa.  Nas comunas o povo passava fome, grassava a miséria, e havia consciência da   gritante desigualdade social e econômica. De um lado a corte e seus acólitos com todos os privilégios e de outro a burguesia e os “sans culottes“ -  uma  massa ignorada e invisível ao governo. A corte  e o clero não se dando conta da insatisfação contida, do clima de revolta, ignorava  estar sentada sobre  um barril de pólvora.


Os inimigos da monarquia, Marat e Hebert,  escreviam artigos incendiários.         Conspiravam contra o regime   insuflando a população  denunciando  a desigualdade existente. Dramatizavam fatos para mostrar a absoluta indiferença existente com a sorte da população. Disseminavam a versão de  pouco caso da rainha que teria dito: - se faltava pão que comessem brioches. Usavam  a Bastilha como  símbolo da tirania e fizeram da sua queda o estopim da Revolução Francesa. Versailles  foi invadida pela turba enfurecida. A guilhotina matou muito mais do que a Bastilha!


Como em Versailles,  a vida em Brasília  segue como se no melhor dos mundos estivéssemos. Os negócios de estado seguem seu curso habitual: os gastos do governo com a nomenklatura não são contidos, tendo os seus privilégios e os empregos assegurados. Já a burguesia e os” sans culottes” estão submetidos a uma tributação insuportável, ao desemprego, à proibição de trabalhar -  uma  quarentena que mata de fome os desprotegidos. Na França, o clero e a corte não aceitaram  perder os anéis, aqui o governo não cogita cortar  na própria carne, mas consideram equilibrar o Orçamento da União cortando o auxílio às pequenas empresas e aos necessitados. Escândalo dos escândalos - nenhuma voz no governo e nem na sociedade levanta-se para defender os que passam fome. Na gravidade da situação, estes deveriam ser a prioridade. Dane-se a máquina governamental!!! Reduzam as verbas dos ministérios o quanto for necessário. Que se aperte os cintos dos de pança cheia, antes que uma multidão de 

famélicos saiam às ruas em passeata pedindo comida. Estamos sentados sobre  um barril de pólvora... à  espera de um  Robespierre para a “ derrubada da nossa Bastilha”.


“Quem ignora a  história, corre o risco de repetir os seus erros!”


Jorge Wilson Simeira Jacob

São Paulo, 13 de abril de 2021.I

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