Um Escravo Da Sua Paixão.
O fanático está absolutamente certo que suas ideias estão corretas. Seu trabalho é “salvar” os que não acreditam na “verdade”. Aqueles que não se deixam “salvar” serão considerados inimigos. O fanático raramente mente. No entanto acredita em qualquer mentira que reforce sua crença. A parte fanática de todos nós é alvo fácil de “fake news”.
Roosevelt Cassorla, psicanalista.
Para o fanático, traidor é todo aquele que ousa mudar.
Amós Oz, escritor israelense.
A classificação do ser humano seria mais fiel à realidade se fôssemos definidos como animais dotados da razão envolta por camadas de paixões . A razão é na pratica uma ilha cercada de paixões por todos os lados, que a limita ou anula. As manifestações a comprovar a tese encontram-se na caricatura verosímil de uma mãe, que ao ouvir do júri a condenação do filho por tráfico de drogas e assaltos à mão armada, não se contém e grita inconformada: é um exagero, ele errou sim, mas quem não erra! Olhem no fundo dos olhos dele para ver como ele é meigo e bondoso! Onde os jurados racionalmente viram a maldade, a mãe apaixonada, a bondade. A paixão ao fanatizar - cega. A mãe não vê o crime, e o ignora chamando a atenção para a meiguice do filho. Na escala das paixões, no seu cume, está o fanatismo. Um estágio doentio em que não se admite divergências, não se tem dúvidas e não se aceita quem as tenha. O crê ou morre dos religiosos islâmicos ou o nós e eles dos políticos não tem nuances, é puro maniqueísmo . Esta é a lei que o fanático impõe inclusive aos que comungam dos seus objetivos e das suas crenças, não permitindo questionamentos aos métodos e/ou meios.
De todas as paixões humanas, em quase todas as crenças religiosas, em nome da salvação das almas perpetraram-se as maiores crueldades da história da humanidade. Os maias (1) sacrificavam virgens para aplacar a fúria dos seus deuses; a Santa Inquisição lançou incrédulos nas fogueiras; as Cruzadas, financiadas pelo Vaticano, atacaram os mouros com pessoas dispostas a dar a vida para a propagação da fé, A história dos fanatismos políticos não deixa por menos. Eles, que na idolatria de ideias ou do culto à personalidades, secundam os fanáticos religiosos com desastres sócio-econômico-políticos infringidos à milhões de indefesos cidadãos, como os dos comunistas, nazistas, islamistas... . E passa o tempo, os exemplos repetem-se e os fanáticos não se regeneram. A paixão impede o uso da razão e o apaixonado fanatizado perde a auto-crítica. Ele é impermeável, como não quer ver encara qualquer crítica como uma ofensa, e não como uma diferente perspectiva de ver o mundo. Não tolera divergência nem dos que tenham identidade de crenças e objetivos, as criticas não são aceitas como outra forma de participação. Há no ar um tabu - não se fala mal dos ídolos! Ele se fecha na sua torre de cristal e, em nome da causa, justifica tudo. Qual filho denigre a imagem de pureza da mãe - por pior que ela seja?
As idolatrias à instituições e pessoas sobrevivem pela capacidade dos seguidores de racionalizar um fato ou comportamento. Somos nas primeiras abordagens, frios, racionais. Depois de alguma experiência positiva, nós nos rendemos. É assim nas nossas diversas escolhas: desde um parceiro, um produto ou um fornecedor... se os contatos iniciais forem bem sucedidos, o nosso racional cede a vez e o emocional sobrepõem-se (2).
As paixões humanas tem infinitas causas e são afetadas por muitos fatores secundários como os mecanismos de: simpatia-antipatia (3 ); interesses contrariados ou desejados; afinidades culturais - um autoritário se identifica com um seu igual; um ingênuo com promessas fantasiosas; um religioso com a ilusão do paraíso... e ao sublimar estes sentimentos o fanático se torna um escravo da sua paixão.
As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
05 de abril de 2020.
Notas:
1 - Nas ruínas Maias , Yucatán, México há poços d’água onde foram encontrados esqueletos com um colar de pedra no pescoço, que , segundo os arqueólogos, eram de virgens sacrificadas em serviços religiosos.
2- O marketing moderno classifica este como processo de fidelização, que é o criar laços emocionais com o consumidor.
3 - Sócrates foi condenado a tomar cicuta por um ateniense, que não o conhecia, mas tinha antipatia pela sua notoriedade
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