segunda-feira, 27 de abril de 2020

O Príncipe Sapo.

Na conhecida fábula dos Irmãos Grimm, uma  princesa, instada por seu pai a cumprir a promessa feita, beijou  o sapo quebrando  o encanto a que estava submetido um príncipe. Os dois apaixonaram-se e festejaram o casamento por uma semana para serem felizes para todo o sempre. Este é um roteiro fabuloso, que não se repete na política., Nesta, ao contrário, os encantados são os príncipes, que, quando desmascarados viram sapos. Ao desencanto dos eleitores não se sucede um enlace, mas uma decepção. Príncipes, que eram admirados e alimentavam fanatismos, viram  sapos quando beijados por  revelações do lado negro da sua conduta. O número deles é quase do tamanho do universo político. Poucas e raras são as excessões. Um fato notório é que quanto maior é o  carisma do personagem maior é a possibilidade de se tratar de um sapo encantado.

O senso comum afirma que todo  malandro tem que ser simpático, caso contrário não engana ninguém. Um pouco mais de sabedoria leva a saber que todo demagogo tem que ser encantador para ter seguidores  fanáticos. Um exemplo presente é o dos dois príncipes carismáticos lavando roupa suja em público, com total desprezo pela crise atual.  Uma troca de ditos e desditos, que só convencem os seus partidários, são julgados sem nenhum filtro crítico. O mesmo fato que  absolve aos olhos de uns, é condenável pelos outros. Eles usam  e abusam da  conhecida  técnica de desqualificar o adversário como ingrato, mentiroso, abuso do poder e jogo eleitoral , em vez  da discussão objetiva dos fatos - os quais na maioria das vezes ficam ignorados, sem respostas. Um verdadeiro teatro do absurdo que, quem  olhe  com isenção de ânimo, fica estupefato com a visão passional dos seguidores de cada lado.

Uma parte da corte está surpresa com as acusações, temendo que o seu príncipe vire sapo comprometendo o seu mandato e a outra, que o seu queime o seu prestígio. Há no ar um suspense - até onde irá o arsenal de gravações, fake news e testemunhos de cada lado?  Como de costume as provas mais comprometedoras ficam para o capítulo final . Pode-se esperar, no tempo devido, uma escalada no atual bate-boca. O eleitorado não perde por esperar, pois, dependendo do poder de destruição dos contendores, surgirão, nas próximas eleições,  outros príncipes encantados para se tornarem  sapos  a ser substituídos por outros  príncipes  encantados ... em uma sequência infinita de desencantamentos - per secula seculorum. Amem.

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
26 de abril de 2020.


segunda-feira, 20 de abril de 2020

Teatro De Marionetes.

Um ator no palco anuncia:

  • Senhoras e Senhores,  temos o prazer de receber este distinto público, nesta casa,  para mais um capítulo  do momento político nacional.  Ora o assunto é a reforma da Previdência, ora, como no momento, a pandemia. Todos partes do enredo geral de  A Luta  Pelo Poder.   Os nossos personagens e  os enredos apresentados são fictícios , qualquer semelhança com a realidade  é intencional.                                                                                        Por favor, relaxem e deixem de lado o espírito crítico. Este é um momento de fantasias e emoções, deixem a razão descansar.                                                                          Apaguem as luzes, pois o espetáculo vai começar.

Dois marionetes estão no palco, discutem  as diferentes propostas   para superar os desafios à saúde pública, o colapso econômico  e o risco  de uma ruptura social. Todos os  argumentos têm aparência altruísta, voltados  ao bem comum. Mas , à boca pequena, cada ator na sua vez,  trocam graves acusações à lisura do adversário e não deixam de desqualificá-lo. Todos acusam o  jogo sujo do outro . Um reclama de um complô...o outro replica que às   pedras devolverá  flores. 

O público vai tomando partido de acordo com a sua identificação com o personagem. Envolvidos pela emoção,  com  luz só no palco, poucos se dão conta de que, atrás , nos bastidores, um outro jogo está fluindo. Um conjunto de interesses pessoais, corporativos, não acessíveis à plateia, permanece no escuro. Como crianças inocentes, embevecidos com a magia do espetáculo, julgam  pelo que está visível, sem atentar de que  a verdade está oculta. Melhor assim, porque  se a realidade fosse explícita, este seria um teatro de horror. A real politik  tem nuances que ultrapassam a  nossa imaginação. Só os ingênuos  põem fé  incondicional nos políticos. Só os apaixonados tomam partido sem um mínimo de ceticismo. Só a  pureza infantil não realiza que  somos todos atores de uma trama maquiavélica, joguetes indefesos   de manipuladores  escondidos  nos  bastidores deste grande teatro de marionetes.

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
20 de abril de 2020.


sábado, 18 de abril de 2020


O Melhor Desta Quarentena.


A felicidade está onde a colocamos, 
Mas nunca a pomos onde estamos.
Vicente Carvalho 


Resolvi pôr  a felicidade onde estou. Decidi ignorar o coronavírus e  ser feliz. Assumi esta decisão nesta manhã. Tomei um café  de gourmand: sucos, frutas, omelete de champignon, cesta de pães, Bel Paese e café com leite. Depois da higiene pessoal, fui ao Clube jogar tênis -  3 sets ( incrível !!! saí invicto) e faço uma hora de musculação na academia, sob o olhar de admiração de uma modelo de capa da  PlayBoy. O cansaço agradável das atividades físicas pediram uma ducha quente, com shampoo e sabonete perfumado da  Hermes. Como estamos em home office, sem pressa,  degustei no almoço um  Burgundy Gran Cru, envelhecido de 1985 - perfeito ! - queijos especiais e , brinis com caviar, como entrada para o menu gourmet, encerrado com cognac Napoleon e um cochilo  ao som da Cavalgadas Das Valquirias de Wagner. 

Em estado de êxtase, lembrei-me da piada  daquele idoso que ,tendo uma ereção , recusou o convite da mulher para ir para cama, pois preferia  ir ao clube para exibir-se.  Tive a mesma preferência, vou fazer o mesmo, vou mostrar aos meus amigos como  estava pondo a  felicidade onde eu estava. Pura  ilusão, toca o despertador, acordo  do doce sonho para enfrentar a  dura realidade: café requentado,  clube fechado, pão amanhecido,  BigMac de almoço e , pior do que tudo,  nem sinal de ereção . O sonho durou pouco, não restou nada digno de exibição, não importa -  poder ter sonhado foi o melhor desta quarentena.’. 



As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

18 de abril de 2020.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

O Bello Antonio.


Marcelo Mastroiani, no papel de Antonio , em filme baseado no  romance de Vitaliano Brancati, é atraente e belo, idealizado pelas  mulheres  como o amante ideal. Ele apaixona-se pela belíssima Bárbara Pugliese (Claudia Cardinale).  O casamento, apesar do imenso amor dos dois, resulta em um fracasso. A  impotência sexual o impede de cumprir  a sua obrigação matrimonial, o que leva a anulação do casamento. No sacramento religioso, o ato material é tão importante como o ato espiritual - uma só carne em um só sangue.  Se não se consuma esta  união, o casamento pode ser anulado por não atender ao preceito bíblico de casar e multiplicar,  diz o padre a Alfio, pai de António

 O Belo Antônio  tornou-se um clássico da literatura e do cinema. Uma caricatura referencial  ao atraente e belo, mas que não funciona. Na época do seu lançamento, o filme  foi visto como uma sátira ao fascismo e outras teorias bonitas e atraentes, que, como o Belo Antônio, não sobrevivem  à realidade. Estas quimeras,  como o comunismo, que só produziram servidão e  pobreza, não foram além das noites de núpcias e   como a  China, que  para sobreviver adotou  parcialmente práticas capitalistas. Na contramão dos Estados Unidos, que depois de ficar rico no capitalismo, está namorando  o socialismo.


O enredo deste romance de amor tem semelhança com outro Belo Antônio, que no passado encantou o  mundo como promessa de ser o país do futuro. Mas que, ao deixar-se seduzir pelo populismo-estatizante,  tornou-se uma economia inviabilizada. À  tristeza dos resultados,  para recuperar o encanto,  segue-se como proposta uma reforma   baseada na economia de mercado. O desafio não é pequeno. Toda a Catania sabe do fracasso do Antônio. A confiança , para ser recuperada,  exige um tratamento de choque. O casamento entre a opinião pública e as ideias propostas só será mantido se as promessas estiverem  sendo cumpridas.  A diferenciação entre uma noite de núpcias bem sucedida e outra não, é a mesma que existe entre o  populismo e o capitalismo . Uma dá resultados...a outra, não! Na visão das massas, o que conta são fatos.  Bárbara ( Cardinale) casou-se enamorada, mas um ano de espera, sem ser possuída, foi tempo para matar o seu fervor.  Os brasileiros, por mais que possam estar encantados   com as promessas do capitalismo, também podem perder o fervor, se as novas ideias não forem sendo   implementadas de imediato  para recuperar  a confiança. Se o ideário ficar só nas boas intenções, se  não for praticado em profundidade, não haverá resultados e  o casamento será desfeito por não ter levado em conta que  o  ato material é tão importante como o ato espiritual . E , como herança, manchará indevidamente a reputação do capitalismo,  comparando-o ao   Bello Antônio - bonito, atraente, mas impotente.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob

09 de abril de 2020.

domingo, 5 de abril de 2020

Um Escravo Da Sua Paixão.


O fanático está absolutamente certo que suas ideias estão corretas. Seu trabalho é “salvar” os que não acreditam na “verdade”. Aqueles que não se deixam “salvar” serão considerados inimigos. O fanático raramente mente. No entanto acredita em qualquer mentira que reforce sua crença. A parte fanática de todos nós é alvo fácil de “fake news”.
Roosevelt Cassorla, psicanalista.

Para o fanático, traidor é todo aquele que ousa mudar.
Amós Oz, escritor israelense.


A classificação do ser humano seria mais fiel à realidade se fôssemos definidos  como animais dotados da razão envolta por camadas de paixões . A razão é na pratica uma ilha cercada de paixões por todos os lados, que a limita ou anula. As manifestações a comprovar a tese encontram-se na caricatura verosímil de uma  mãe, que ao ouvir do júri a condenação do filho por tráfico de drogas e assaltos à mão armada, não se contém e grita inconformada: é um exagero, ele errou sim, mas quem não erra! Olhem no fundo dos olhos dele para ver como ele é  meigo e bondoso! Onde os jurados racionalmente viram  a maldade, a mãe apaixonada, a bondade. A paixão ao fanatizar - cega.  A mãe  não vê o crime, e o ignora  chamando a atenção para a meiguice do filho. Na escala  das paixões, no seu cume, está o fanatismo. Um  estágio doentio em que  não se admite divergências,  não se tem dúvidas e não se  aceita quem as tenha. O crê ou morre dos religiosos islâmicos ou o  nós e eles dos políticos não tem nuances,   é puro  maniqueísmo .  Esta é  a  lei que o fanático impõe inclusive aos que comungam dos seus objetivos e das suas crenças, não permitindo  questionamentos  aos métodos e/ou meios. 

De todas as paixões humanas, em quase todas as crenças  religiosas, em nome da salvação das almas perpetraram-se as  maiores crueldades da história da humanidade. Os maias (1) sacrificavam virgens para aplacar a fúria dos seus deuses; a  Santa Inquisição lançou incrédulos nas fogueiras; as Cruzadas, financiadas pelo Vaticano, atacaram os   mouros com  pessoas dispostas a dar  a vida para a  propagação da fé, A história dos fanatismos  políticos não deixa por menos. Eles, que na idolatria de ideias ou do  culto à personalidades, secundam os fanáticos religiosos com  desastres sócio-econômico-políticos  infringidos à milhões de indefesos cidadãos, como os dos  comunistas, nazistas, islamistas... . E passa o tempo, os exemplos repetem-se e os fanáticos não se regeneram. A paixão impede o uso da razão e o apaixonado fanatizado perde a auto-crítica. Ele é impermeável, como não quer ver encara  qualquer  crítica como  uma ofensa,  e não como uma diferente perspectiva de ver o mundo. Não tolera divergência nem dos que tenham identidade de crenças e  objetivos, as criticas não são aceitas como outra forma de participação. Há no ar um tabu - não se fala mal dos ídolos! Ele se fecha  na sua torre de cristal e, em nome da causa, justifica tudo. Qual filho denigre a imagem de pureza da mãe -  por pior que ela seja? 

As idolatrias à instituições e pessoas sobrevivem pela capacidade dos seguidores de racionalizar um fato ou comportamento. Somos nas primeiras abordagens, frios, racionais. Depois de alguma experiência positiva,  nós nos rendemos. É assim nas nossas diversas escolhas: desde um parceiro, um produto ou um fornecedor... se  os contatos iniciais forem  bem sucedidos, o nosso  racional cede  a vez e o emocional sobrepõem-se (2).

As paixões humanas tem infinitas causas e são afetadas por muitos fatores  secundários como os mecanismos de: simpatia-antipatia (3 ); interesses contrariados ou desejados; afinidades culturais - um autoritário se identifica com um seu igual; um ingênuo com promessas fantasiosas; um religioso com a ilusão do paraíso... e ao sublimar estes sentimentos  o fanático  se torna um escravo da sua paixão.


As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
05 de abril de 2020.

Notas:
1 - Nas ruínas Maias , Yucatán, México há poços d’água onde foram encontrados esqueletos com um colar de pedra no pescoço, que , segundo os arqueólogos, eram de virgens sacrificadas em serviços religiosos.
2- O marketing moderno classifica este como processo de  fidelização, que é o criar laços emocionais com o consumidor. 

3 - Sócrates foi condenado a tomar cicuta  por um ateniense, que não o conhecia, mas tinha antipatia  pela  sua notoriedade 

sábado, 4 de abril de 2020

A Sorte Premia Os Que Não Se Rendem.

Superados os dois meses fracos do ano, o início de  março sinalizava ligeira melhora na economia dando esperanças de ser este um ano melhor do que o anterior. De repente apagaram as luzes. A surpresa nos assustou  e a escuridão nos desorientou. Nestes momentos surgem os fabricantes de fantasmas. Eles estão a todo vapor na imprensa, nas mídias sociais,  aproveitando-se de fakenews para tirar proveito do ânimo dos que temem as ameaças que  terão de enfrentar. O que não faltam são os interessados em pescar em águas turvas. Há, a nos perturbar,  um violento jogo político e comercial com vistas às próximas eleições e a  promover produtos e serviços. Ingenuamente a população deixa-se influenciar e corre para estocar até papel higiênico. A pessoas  estão confinadas, mas o medo está correndo solto. Ficar impermeável a este jogo de interesses exige lucidez e serenidade, que deveria ter como  exemplo a das lideranças governamentais. 

A par da crise comportamental mencionada, não há como ignorar os dois desafios do momento: - o coronavírus e  - as perdas financeiras. A primeira tem prazo marcado e trajetória conhecida. Espera-se que entre em declínio após os  meados de abril.  O mal a ser evitado é que o pico de casos supere a capacidade de atendimento hospitalar. O vírus vai morrer de morte natural,  tão logo a maioria tiver sido contagiada. Já o pânico criado, baseado em um   índice de mortalidade, cuja  confiabilidade é contestada, também passará ( ler artigo no rodapé). Assim, veremos em breve a volta à normalidade, como sempre aconteceu na história das epidemias. A segunda ameaça, as perdas financeiras ( redução salarial, prejuízos nas operações), esta não será recuperada em curto prazo. Sairemos todos empobrecidos. Teremos pela frente um longo processo de retomada das atividades. As pessoas, as empresas e o País sairão enfraquecidos  deste episódio. Hoje o que importa é a sobrevivência. 

Lamentavelmente  vidas serão perdidas,  empresas sairão do mercado, mas a maioria sobreviverá. A ameaça à vida aguça o instinto de sobrevivência. Os indivíduos estão se cuidando  como nunca. As empresas continuarão a atender às  necessidades da sociedade. Alimentação, medicamentos , roupas , serviços e lazer continuarão a ser demandados. Afinal a fome não foi abolida, o nudismo não será obrigatório e nem os anseios naturais deixarão de existir. A história registra que o ser humano sempre cria novas necessidades e a ciência médica,  novas soluções . Vale, pois, a pena cuidar para  estar entre os sobreviventes. Isto depende da higidez pessoal e da determinação de superar os desafios, mesmo não sendo estes desprezíveis. Esta é a hora de trabalho duro, de não temer os problemas a serem equacionados e de não morrer de medo de fantasmas - nem se deixar sugestionar pelos demagogos de plantão. Não verão o amanhã os que abraçam a  cultura da covardia! Não se entrega os pontos e menos ainda se abandona o barco na tempestade . 

Serão convidados  para navegar nos mares mansos do amanhã  quem superar os desafios do momento, que começa por  cuidar:
  • da sua saude;
  • de afastar o medo;
  • de apostar que a sorte premia os que  não se rendem.

Até os dias melhores que nos esperam!

As Minhas Reflexões.
Jorge Wilson Simeira Jacob
04 de abril de 2020.



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