Octogenariedade.*
O octogenário é um vencedor!
Era feliz e não sabia.
Superou os desafios do tempo,
Experimentou vitórias e derrotas ,
Viu heróis tombados pelo caminho
E bandidos bem sucedidos.
Perdeu conhecidos e amigos,
Com eles, pedaços de si mesmo e
Da sua história , que sabe ser irrecuperável.
Fez cousas certas que deram errado
E muitas erradas que deram certo.
Conheceu a sorte e o azar.
Teve ilusões de amores,
Sonhos de glórias ... Muitos em vão.
Nunca viu morrer a esperança,
Nem deixou ao meio o que começou.
Não perdeu o prazer de aprender,
Caminhando como se tudo fosse novo
Tendo a curiosidade como aliada inseparável.
Não sabe quantas vezes caiu,
Só se lembra das que se levantou.
Do passado só guarda o que tem valor,
O inútil e os fracassos joga no lixo.
Já não tem vaidades fúteis nem úteis,
Usou e abusou desta virtude.
Não o incomoda mais
Um fio de cabelo fora do lugar,
Uma camisa amarfanhada,
Uma braguilha desabotoada.
O espelho, as grifes não o atraem,
Não se importa com a moda, com o luxo,
O conforto se sobrepõe à elegância.
A opinião alheia não mais lhe afeta,
Sabe quem é, e nada mais quer ser.
Não quer disputar nada com ninguém,
Não pede passagem, lhe oferecem.
Dele mais ninguém tem ciúme,
Muito menos inveja,
E não as têm de ninguém.
Nunca é uma ameaça.
As moças oferecem o carinho
E a liberdade antes negados.
Não tem competidores,
Nem rivalidades, só condescendências.
A sua fragilidade é a sua fortaleza.
Agora é uma figurinha carimbada ,
Uma raridade nos álbuns de colecionadores,
Faz parte de uma minoria .
Tornou - se valioso e sabe disto.
Não sofre mais as angústias da puberdade,
A crise da meia idade, a fase do lobo,
Os fracassos e as desilusões amorosas.
Pensa grande, mas avança com cautela.
Tem todo o tempo do mundo,
Sabe que ele não vai acabar.
Faz tudo devagar, saboreando.
Apreendeu a beleza escondida sob as rugas,
O valor das marcas do tempo.
Olha tudo de maneira diferente,
Enxerga com a percepção do artista,
No simples vê o lado da obra prima,
Onde o jovem, cego ao belo, ao real,
Só enxerga o aparente , o superficial.
Não tem urgência de ver a marca da chegada,
Aproveita cada momento como se fosse único,
Valoriza cada atenção como se fosse a última.
Ao contrário dos jovens, sempre apressados ,
Mesmo com todo o futuro pela frente,
Que correm como se estivessem na final,
Furiosos como se fossem dominar o mundo,
Professa a suprema sabedoria
De não se levar muito a sério.
Sabe não ser ninguém e que tudo é nada!
Encara com humor as suas desditas,
Faz da alegria a sua constante companhia.
Não compartilha tristezas e más notícias,
As tem como só suas, são exclusivas.
Faz pilhérias de si, dos seus projetos e de tudo,
Principalmente dos seus fracassos.
Sabe que tudo muda, que nada é perene,
Que o tempo é para ser usado
E não deve ser desprezado,
Que os angustiados usam a impaciência
Para cavar a própria sepultura.
Acima de tudo, é rico de sentimentos,
E vibra com as emoções,
Tem entusiasmo para dar e vender,
Se emociona com a solidariedade
Mas tudo canaliza para o principal:
Àqueles que ama, respeita e admira.
Tem mais amor, amizade a dar que a receber.
A Octogenariedade é um estado de espírito,
É estar acima das tentações da carne,
Da inveja e das glórias deste mundo.
Como um anjo, não tem sexo e nem peso.
Aos oitenta ficou invisível, ninguém o vê.
A vida é toda sua e recomeça agora,
Não mudará nada do que foi ou fez,
Mesmo tendo vivido intensamente,
Só se arrepende do que não tentou fazer,
Tem convicção de que é único,
E que o mundo é todo seu.
Alimentando a alma com idealismos
E por estar acima do bem e do mal ,
Sublimou!!! É feliz e agora sabe!
*. Octogenariedade, neologismo para adjetivar à condição de octogenário.
Jorge Wilson Simeira Jacob
As Minhas Reflexões
Outubro, 2019
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