segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Octogenariedade.*



O octogenário é um vencedor!
Era feliz e não sabia.
Superou os desafios do tempo,
Experimentou vitórias e  derrotas ,
Viu heróis tombados pelo caminho
E bandidos bem sucedidos.
Perdeu conhecidos e amigos, 
Com eles,   pedaços de si mesmo e
Da sua história , que sabe ser irrecuperável.
Fez cousas certas que deram errado
E muitas erradas que deram certo.
Conheceu a sorte e o azar.
Teve ilusões de amores,
Sonhos de glórias ... Muitos  em vão.
Nunca viu morrer a esperança, 
Nem  deixou ao meio o que começou.
Não perdeu o prazer de aprender, 
Caminhando como se tudo fosse novo
Tendo a curiosidade como  aliada inseparável.
Não sabe quantas vezes caiu,
Só se lembra das que  se levantou.
Do passado só guarda o que tem valor,
O inútil e os fracassos joga no lixo.
Já não tem vaidades  fúteis nem úteis,
Usou e abusou desta virtude.
Não o incomoda mais
Um fio de cabelo fora do lugar,
Uma camisa amarfanhada, 
Uma braguilha desabotoada.
O espelho, as grifes não o atraem,
Não se importa com a  moda, com o luxo,
O conforto se sobrepõe à  elegância.
A opinião alheia não mais lhe afeta,
Sabe quem é, e nada mais quer ser.
Não quer disputar nada com ninguém,
Não pede passagem, lhe oferecem.
Dele mais ninguém tem ciúme,
Muito menos inveja,
E não as têm de ninguém.
Nunca é uma ameaça.
As moças oferecem o  carinho 
E a  liberdade antes negados.
Não tem competidores, 
Nem rivalidades, só condescendências. 
A sua fragilidade é a sua fortaleza.
Agora é uma figurinha carimbada ,
Uma  raridade nos álbuns de colecionadores,
Faz parte de uma minoria .
Tornou - se valioso e sabe disto.
Não sofre mais as angústias da puberdade, 
A crise da meia idade, a fase do lobo,
Os fracassos e as desilusões amorosas.
Pensa grande, mas avança com cautela.
Tem todo o tempo do mundo,
Sabe que  ele não vai acabar.
Faz tudo devagar, saboreando.
Apreendeu a beleza escondida sob as rugas,
O valor das marcas do tempo.
Olha tudo de maneira diferente,
Enxerga com  a percepção do artista,
No simples vê o lado da obra prima, 
Onde o jovem, cego ao belo, ao real,
Só  enxerga o aparente , o superficial.
Não tem urgência de ver  a marca da chegada,
Aproveita cada momento como se fosse único,
Valoriza cada atenção como se fosse a última.
Ao contrário dos jovens, sempre apressados ,
Mesmo com todo o futuro pela frente,
Que correm como se estivessem na final, 
Furiosos  como se fossem dominar o mundo, 
Professa a  suprema sabedoria
De não se levar  muito a sério.
Sabe não ser ninguém e que tudo é nada!
Encara com humor  as suas desditas,  
Faz da alegria a sua constante companhia. 
Não compartilha tristezas e más notícias,
As tem como só suas, são exclusivas.
Faz pilhérias  de si, dos seus projetos e de tudo,
Principalmente dos seus fracassos.
Sabe que tudo muda, que nada é perene, 
Que  o tempo é para ser usado
E não deve ser desprezado, 
Que os  angustiados usam a  impaciência
Para cavar  a própria  sepultura.
Acima de tudo, é rico  de sentimentos,
E vibra com as emoções, 
Tem entusiasmo para dar e vender,
Se emociona com a solidariedade 
Mas tudo canaliza  para o principal:
Àqueles que ama, respeita e admira.
Tem mais amor, amizade a dar que a receber.
A Octogenariedade é um estado  de espírito,
É estar acima das tentações da carne,
Da inveja e das glórias deste mundo. 
Como um anjo, não tem sexo e nem peso.
Aos oitenta ficou invisível, ninguém o vê.
A vida é toda sua e recomeça agora, 
Não mudará  nada do que foi ou fez,
Mesmo tendo vivido intensamente,
Só se arrepende do que não tentou fazer,
Tem convicção de que  é único,
E que o mundo é todo seu. 
Alimentando a alma com idealismos
E por  estar acima do bem e do mal ,
Sublimou!!!  É feliz e agora sabe! 


*. Octogenariedade, neologismo para adjetivar à condição de octogenário.


Jorge Wilson Simeira Jacob
As Minhas Reflexões 


Outubro, 2019

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