segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A Hora E A Vez  Das Mulheres.

A história  da humanidade é dividida em dois  grandes períodos, a pré-historia e a história, que se subdividem em diversas Idades: pedra, cobre, bronze... .  Sua totalidade poderia   ter como título  A Era Masculina, que se caracterizou  pela valorização da força física . Nestes períodos, sem interrupção, sob um único guarda-chuva,  ocorreu   a preponderância do domínio masculino.As mulheres, como regra, eram coadjuvantes na vida social. Durante esses  milênios  a superioridade  foi determinada  pela  força bruta - uma característica masculina. Eram eles, avantajados na musculatura, melhores dotados para  rachar pedras, carregar pesos e fazer guerras. Esta condição lhes dava uma posição vantajosa, dominadora, mantendo as mulheres em posição de subserviência. Com isto eles mantiveram-nas sob sanções sociais que as inibia de aventurar-se a desafios mais arrojados. Como resultado, ocorreu  uma divisão do trabalho, cabendo às mulheres os cuidados da prole,  da casa,  da  agricultura doméstica e do ensino primário. Elas eram educadas a aceitar esta estratificação pacificamente, sem críticas e sem questionamentos. Esta situação começou a mudar com a revolução capitalista. O primeiro passo foi dado pela  Revolução Industrial  que deu início a  profundas mudanças sociais.   A industrialização, necessitada de mão de obra disciplinada para tarefas simplificadas,  acentuadas na segunda Guerra Mundial,  deu independência econômica às mulheres e, com as inovações,  liberou-as da maioria dos afazeres domésticos. Não mais gastando tempo com lavar roupas, louças, costurar, cozinhar...  dedicaram-se aos estudos e às disputas de posições mais valorizadas na ordem econômica. Em seguida, a pílula ( contracepção ),  propiciando a liberdade sexual e o controle da prole, deu o domínio sobre o  próprio corpo, do tamanho da família , e, com  a disseminação da universalização do ensino e o acesso à  informação, reposicionou a mulher no mundo. Todas esta alterações  foram se somando para, como pequenos rios,  formarem   um grande amazonas, que se tornou  a mais profunda e influente de todas as inovações.  - a liberação da mulher - , superando em importância  todas as merecidamente decantadas conquistas tecnológicas. 

A mudança  dos costumes, ocorrida nos últimos decênios, supera em profundidade todas as demais inovações e descobertas. Um acontecimento, o  feminismo, foi favorecido  por ter sido lançado no momento certo, pois as   mulheres estavam maduras e o ambiente era propício   para mudar o milenar status quo. A mulher , economicamente independente,  com melhor educação e acesso à informação,  deixou a condição de objeto, de  serva a serviço do macho e escrava da opinião pública. A inquisição deixou de ser uma ameaça.Daí a disputar as posições intelectualizadas foi um passo. Passo propiciado pela  Revolução Tecnológica, que tornou secundária a força física. Os homens perderam o seu grande trunfo. A força perdeu poder ao intelecto. Uma situação que  beneficiou menos os homens do que  as mulheres, que mais sensíveis, objetivas, com maior senso pratico  , donas de um sexto sentido e desejosas de realização pessoal estão tomando posições em todas as áreas, sem alarde, sem soberba e sem descanso. São elas a maioria nas Universidades dos países adiantados. Estão hoje comandando países,  grandes empresas privadas e estatais . São chefes e provedoras  de muitas famílias. Além de saberem usar politicamente o irresistível fruto proibido. 
Enquanto eles são criados por elas para as obedecer em casa e, por treino, na vida.

Chegou a hora e a vez das mulheres!

Estamos, portanto,  no fim da Era Masculina e no início da   Era Feminina. A supremacia da força física , à exemplo de outras fontes de energia como o carvão, a lenha..., está no fim, cedendo a vez para a força intelectual ( feminina ou masculina ) e a outras fontes de  energia: a  eólica, solar e nuclear. Dentro em breve, subestimando como estão no avanço das conquistas feministas,  os homens terão que se unir para um movimento em defesa do machismo, em busca de igualdade de oportunidade e de   proteção ao assédio  sexual.

Homens de todo  mundo , uni-vos! - o sexo forte está sendo ameaçado pelo sexo invencível!

Jorge Simeira Jacob
Reflexões - setembro de 2019














quarta-feira, 25 de setembro de 2019



Ideias, Crenças e Valores 



Segundo Max Weber , somos escravos das nossas ideias, crenças e valores, as quais   nos sujeitam   a  três tipos de dominação: o legal, o tradicional e o carismático. São elas que conferem autoridade   aos dominadores desde o começo da humanidade , pois  um  processo de dominação só existe enquanto as crenças existirem como causa. Se elas desaparecem, cessa o seu efeito, que é a subordinação.

Na política, a dominação foi  legitimada na antiguidade, no Japão e em algumas tribos africanas, pela   crença de    serem  os reis descendentes dos deuses; nas  religiões, pela crença em outra vida,  premiando os fiéis com o céu e castigando os  infiéis    com o inferno; na  vida social , com um  código de ética, não escrito, fundamentado em crenças diversas, que disciplinam o convívio entre os seus membros. Nestes exemplos e mesmo na relação familiar,   a autoridade depende das ideias, das  crenças e valores dos submetidos.

Todas as formas  de dominação tem nas crenças  um forte  aliado. Elas ficam presentes   na consciência do indivíduo. São instrumentos    invisíveis  e incansáveis  que,  usados pelos  dominadores,  fazem dele  um perigoso inimigo. As ideias ficam  tão  arraigadas nas mentes que escapando à autocrítica  passam desapercebidas, mas afloram, como a dor de consciência, como se diz, se cometemos  uma infração à  ética social. Quem já não se sentiu mal por ter mentido, enganado, burlado a confiança de alguém? No romance Crime e Castigo, Dostoiévski mostra  a  dor de consciência como o real castigo de seu personagem. Quantos crimes, não desvendados foram confessados  pelos criminosos por não suportarem o peso de sua consciência?

As crenças inseridas em nossa consciência nos escravizam. É a  polícia que temos dentro das nossas mentes. Estas crenças, em  lavagem cerebral , são usadas pelos   dominadores políticos, religiosos ou civis . Elas nos influenciam  nas  formas mais diversas, sendo a crença no pecado a mais usada. Na cultura judaica, na tábua da lei, dez mandamentos registram  as nossas  proibições. A estes, a igreja católica acrescentou mais sete pecados capitais.  A sociedade formaliza nas leis e  nos usos e como   crenças do interesse social, que quase nunca questionamos, obedecendo sem pensar.

Aí reside o grande erro -    não  distinguir, nas crenças propagadas,  o que é  razão do que é  pretexto. O celibato sacerdotal tem como pretexto a dedicação total ao Senhor, mas sua razão era evitar o desvio das rendas da paróquia para a família; a  virgindade,  a pretexto de ser condição ao matrimônio, mas sua razão   era evitar a gravidez e a preservação da família; a superioridade ariana como pretexto , mas sua razão era  criar bodes expiatórios - os  judeus, os homossexuais e os negros; as leis  britânicas, o live and let  live , pretextando civilidade, mas sua  razão era   não alimentar animosidades e perpetuar a dominação; o comunismo pretextava o fim da propriedade privada, mas sua  razão era justificar o domínio da nomenclatura.

De todas as formas de dominação a mais eficaz foi o machismo, não só por atingir mais de cinquenta por cento do universo,  por  ser a mais longeva e  pela profundidade da submissão  conseguida. A tal ponto chegou a influência da crença na superioridade masculina que muitas mulheres ainda hoje não confiam nas profissionais femininas;    aceitam que a infidelidade é  imperdoável só para elas; e sem senso critico , aceitam como  impureza o ato sexual ao não questionar a  virgindade (  pretexto ) das  mães de Buda e de Jesus para resguardar uma imagem de imaculadas, puras (  razão ).  É ato de fé a crença de Maria ter  concebido   por obra do Espírito Santo, com concordância e aceitação do São José. Uma censura ao  ato sexual das mulheres. Um desvirtuamento  de valores  que  dá aos homens a liberdade de  vangloriarem das suas aventuras, do seu apetite sexual, enquanto elas ocultam  as suas  intimidades vergonhosamente. Ao   ponto de, em passado recente, aceitarem não poder admitir o  prazer no ato sexual. Concordavam com   esta prática com o pretexto de cumprir uma  obrigação conjugal ou dar  satisfação ao parceiro. “Só as vadias tinham prazer no ato sexual”! Dizia-se.

Quando se perdeu  a crença  na superioridade dos colonizadores , ruíram as colônias romanas, inglesas e soviéticas. Quando a pílula  deu controle à fecundação, caiu o tabu da virgindade e quando a industrialização trouxe a  liberdade econômica à mulher , o machismo foi desafiado; quando a ciência substituiu a religião, a igreja católica perdeu o carisma, os  fiéis,  grande parte dos seus territórios,  reduzindo o  seu poder político e  até mesmo deixando de ungir os reis. Restando-lhe  a influência nas áreas conservadoras e atrasadas do planeta,  cedendo, em termos globais,    terreno para os pentecostais e muçulmanos.

Em resumo,  às mudanças das ideias, crenças e valores precedem a queda de algum processo de dominação. São como o vulcão cujo barulho e tremor anunciam a erupção. Barulhos e tremores  perceptíveis, hoje,  a anteceder uma erupção que ameaça   a queda de três   tipos de dominação : o  americano, o machismo e o católico.

  • o americano,  baseada na crença  do reconhecimento do mérito e igualdade de oportunidades ( democracia e liberdade individual ), que está perdendo espaço às ideias do populismo-socialista. Enquanto a China caminha no sentido inverso , praticando : na economia o  capitalismo “selvagem”, que enriqueceu os States , e na política uma autocracia que se apresenta como alternativa a enfrentar a  crescente crítica à   vulnerabilidade  da democracia ao populismo;

  • o  machismo,  sustentada na crença da superioridade da força física , que perdeu espaço para a intelectualidade, onde as mulheres se destacam;

  • e  o católico,  na crença de serem representantes de Deus na terra, na  infalibilidade  papal, no cultivo dos valores espirituais, na autoridade moral dos sacerdotes, desmoralizada    pela convivência com um  pedofilismo institucionalizado e por práticas materialistas;

Como as mudanças das crenças precedem as revoluções, e elas estão acontecendo, a  questão que se coloca  é   prever os seus efeitos. Em  que  crenças se basearão as relações políticas, religiosas e sociais no futuro?Quais serão os seus pretextos e as suas razões? Teremos o fim do império americano? Da proeminência da religião católica? Da dominação masculina?

Parece que sim!



Jorge Simeira Jacob

Reflexões 


Setembro f2019h

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

 Sou  Dono Da Minha Vontade.




 A Sagrada Escritura é meu livro de cabeceira. Gosto de chamar o sono lendo alguma parábola.  A última  foi sobre a Rebelião dos Anjos, que me lembrou o romance com o mesmo título de Anatole France. A leitura  fez-me pensar na influência do  sobrenatural  em nossas vidas. Vida que enfrenta tantos  desafios que a sobrevivência da espécie necessita de uma ajuda milagrosa. Milagre só  possível por  existirem, como na parábola,  anjos bons,  protetores, a nos livrar dos perigos e a  nos defender da ação nefasta dos anjos maus.

Segundo a crença geral, na rebelião, os  anjos bons se alinharam  ao Senhor para encaminhar   a criatura humana na  obediência aos ditames divinos, a servir ao Senhor.   Enquanto  os  anjos maus, em campos opostos, decidiram dedicar-se a destruir a  criação divina pela inveja de não terem como os homens o livre arbítrio ,  nem  feitos  à imagem e  semelhança do criador. Criaturas, que diferentemente dos anjos,  são dotadas de vontade própria  e liberdade para   decidir o que é  pecado ou virtude... e poder escolher uma ou outra.

Há interpretações, ao contrário, que atribuem aos anjos maus a condição  de libertadores   da espécie da  ditadura divina. Estimulando- a  a usar do direito da livre escolha, pois,  na condição de  libertadores,  assumiram   como   missão   servir ao seu tutelado - a criatura humana. Segundo eles a felicidade humana  era  o seu objetivo. Outra versão existente tenta desqualificar a rebelião dos anjos como  uma tentativa de Lúcifer de subverter a ordem  e assumir o papel do Criador.

Independentemente das variadas versões dessa parábola, há entre muitos a descrença na existência desses anjos. Alguns acreditam  que é pura fantasia, anjos não existem, sendo  como os fantasmas, “nos quais não acreditamos , mas que existem, existem! “ - A verdade é  que não  podemos  vê-los, mas  os  sentimos. Eles estão presentes no nosso superego - núcleo da nossa censura. Essa consciência que refreia os nossos instintos, manipula a nossa vontade e afasta as tentações. É o espaço onde as forças do bem e do mal  disputam a nossa decisão. Ali as partes operam os  seus instrumentos de persuasão:   o castigo e o prêmio. Uma luta onde  o  anjo bom  nos aconselha a virtude da abstinência, da prudência e do respeito aos ditames divinos. Virtude não reconhecidas  como tal pelo anjo mau.  Este não concorda e diz que não existe virtude naquilo que causa a nossa infelicidade. A vida é curta e não deve ser sacrificada por crenças questionáveis . Faça a sua vida, aproveite! E enfatiza o descrédito na proposta  do anjo bom, afirmando que virtude e  pecado são puras convenções,  um mero instrumento de dominação. 

Estes pensamentos tiraram o meu  sono. Fiquei com minhoca na cabeça . À dúvida instalou- se e a ela seguiu-se  o questionamento: será  que por cordeirismo, por falta de espírito crítico, estou deixando-me enganar? Será que  estou cometendo o erro de aceitar  como sendo mau justamente o anjo salvador, o que quer o nosso bem? Não foi o dito anjo bom  que por milênios colocou-se contra a  liberdade sexual das mulheres, contra a opinião favorável  do  anjo mau? Por ação dele às  mulheres foi negada a igualdade de direitos  ao dos homens. Um absurdo, uma injustiça, pois o que antes era um pecado abominável, imperdoável, merecedor do inferno, hoje é uma realidade  mais do que aceita. O mesmo acontecia com os  jovens , aos quais   proibia-se  a masturbação,   com mil razões,   e que hoje é aconselhada como saudável, física  e psicologicamente,  para todos em todas as idades.


Onde andava o anjo bom,  que,  condenando a satisfação dos desejos naturais, impediu o prazer exigido pelo nosso DNA, colocando um obstáculo à nossa felicidade?  Quando em  direção contrária, a nosso favor,  estava o anjo mau, sugerindo exercer ao limite todas  as nossas possibilidades. E,  este, dando colorido às tentações , nos mostrava que o que contava  era ser feliz! Se o Criador ama a Sua criação deveria fazer da felicidade dele a Sua, não o contrário. O Criador deve cuidar da sua criatura e não a criatura  do seu Criador. 

Só consegui conciliar o sono quando ocorreu-me que Lúcifer sim era o anjo bom e que o inferno era o paraíso.  Como seria possível acreditar que  um Deus bondoso pudesse punir tão severamente o que era a Sua imagem e semelhança?!  Esta conclusão   deu-me tranquilidade. Agora sim, conclui,  vou poder exercer o direito de buscar com empenho  a minha felicidade.  Agora sim faz sentido o livre arbítrio! Agora vou  poder exercer a minha liberdade de escolha sem as ameaças de prêmio  e  castigo. Sinto , como nunca, ser agora dono da minha vontade! Agora posso escolher a minha maneira de ser feliz! Felicidade cuja perseguição só deve parar quando afetar a felicidade de outro . Exatamente igual à liberdade individual!


Jorge Simeira Jacob

Reflexões 


Setembro, 2019.

sábado, 14 de setembro de 2019

Os Meus Sonhos Dourados.


Em um milagre de reencarnação, Dom Quixote e Sancho Pança fazem uma pausa nas suas andanças em solo brasileiro  para ler os jornais. 

Diz Dom Quixote:

  • Sancho,  estou lendo que o governo Bolsonaro avança nas reformas do esclerosado governo brasileiro. Praticamente, a reforma da Previdência foi aprovada, a inflação está contida, a privatização está sendo encaminhada e a reforma  deverá racionalizar o irracional sistema tributário. Neste passo, os humildes  terão dias melhores e nos poderemos ir acudir os injustiçados de outro país. Não seremos mais necessários aqui!

  • Dom Quixote, reconheço a minha visão excessivamente prática da vida. Mas, não vejo com otimismo o desempenho deste governo. Não só eu, mas todos sabem que a Reforma da Previdência é uma gota d’água  no oceano de desafios dessa sociedade. Neste país os carrapatos ficaram maiores que a vaca. Não há sangue para alimentar tantos parasitas. Quem vai enfrentar os lobbies da burocracia contra o corte das suas regalias, reduzir o exército de funcionários e simplificar a vida de quem produz riqueza? Sinto muito, mas acho que vamos ficar aqui por muito tempo!

-  Sancho, vc ignora que o combate à corrupção vai contribuir para melhoria da produtividade e                
     para o crescimento do mercado. Isto irá diluir os custos da governança. A venda das  
    estatais vai  aliviar do orçamento os seus prejuízos e, pagando a dívida,  irá
    eliminar o custo do seu carregamento tirando o governo como tomador de recursos no
    mercado. Estes serão destinados a investimentos com taxas de juros dos países
    desenvolvidos. O potencial do Brasil para crescer é único no mundo!

 -  Dom Quixote, o seu entusiasmo abala as minhas convicções. O que me faz apostar contra é 
    ter presente a facilidade com que vc se entusiasma com os sonhos. Todas as donzelas são a 
    a sua sublime Dulcinéia! Acontece que as reformas não vão acontecer! Quem escreve as leis 
    são os burocratas e eles  não irão favorecer o fim dos seus  privilégios  e os da sua curiola. 
    Espere por greves, lobbies, intriga palacianas e interesses políticos a impedir a realização do
    seu sonho. A maquina continua produzindo diariamente 4mil determinações a serem
    cumpridas pelas empresas. Veja esta pérola - a Lei do Lixo da Prefeitura de São Paulo a se
    somar às 5 milhões de leis, normas e decretos a sufocar a produtividade nacional.
    A realidade é que se está copiando o drama argentino - onde o projeto era o ideal:  economia
    de mercado, orçamento equilibrado, câmbio livre e desburocratização. Como na verdade lá 
    nada aconteceu, está à vista a volta ao  pior do pior dos mundos, o peronismo. Uma recaída é
    sempre mais grave. É como a  resistência  dos vírus aos antibióticos. 
    A amostra do que aconteceu aqui  nestes  nove meses   não é nada animadora. Nada
    mudou para melhor na vida do povo. O termômetro das massas é o estômago. Leis e decretos
    não matam a fome, não criam emprego, não aumentam a renda e nem amenizam as dores da
    recessão. Os pequenos empresários, a classe média,  estão inconformados com as suas
    privações para suportar as mamatas e regalias da nomenclatura. Ela descobriu que é ela quem
    paga pelo o welfare state .


  • Sancho, os desafios são dantescos. Há que se resolver um de cada vez. Décadas de socialismo demandam tempo para correção. E este tempo o governo tem. O risco de retorno da oposição ao governo é nula. Eles não têm liderança capaz de aglutinar as diversas facções, 
    os principais partidos estão destruídos, desmoralizados. E , caso o Bolsonaro - que já está em
    campanha eleitoral - se veja em risco, ele manda o Paulo Guedes para casa e convida um 
    Keynesiano para abrir as burras do tesouro. Ação que o Macri só tomou quando já era tarde.
     O desespero é mal conselheiro!

  • Dom Quixote, agora estamos nos entendendo. Abertas as burras, abandonado o enxugamento do governo, voltaremos aonde sempre estivemos - mudamos tudo para continuar na mesma! . Só não concordo em subestimar o tempo - a fome não espera, tem pressa  - e menos ainda,  a  oposição. Este  é um erro grave. Por subestimar o candidato Bolsonaro a oposição não se aliou ao Ciro Gomes e perdeu a eleição. Entender o atual  silêncio dos adversários como impotência pode ser erro fatal. Pode ser uma estratégia deles  de se fazer de morto para comer os vivos. É o dar corda para enfocar a soberba. 
    Se a oposição tiver sucesso no processo de se unir para as próximas eleições, não repetindo o 
    erro, e se este governo não tiver satisfeito  as esperanças que havia criado, vamos  ter que
    ficar aqui por muito e muito tempo.

-   Sancho, vc não perde esse defeito abominável de acordar-me dos  meus sonhos dourados!


Jorge Simeira Jacob

Reflexões 

Setembro 2019. 



sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Um Rótulo Inadequado.


É emocionante ver na televisão um exército de 13mil eletricistas, recrutados pela  Flórida Power and Light , em fila indiana,   dirigindo-se à Flórida  para  socorrer a população dos possíveis danos  à chegada do  Dorian - um furacão igual aos piores que já atingiram o continente. Esta é  só uma amostra de mobilização da sociedade. Onde se ponham os olhares o que se vê é uma comunidade em preparativos para sobreviver à grande ameaça. Os meios de comunicação transmitem ininterruptamente   a evolução do furacão, mostrando cenas dos escombros da sua passagem e recomendando a evacuação das áreas no  trajeto previsto. A população responde  enfileirando-se  em busca de recursos para a possível falta de energia, comunicação, combustível, água e  alimentos. O clima é de estado de guerra! Sobram  filas e congestionamentos nas estradas e aeroportos ... o que não falta é civilidade. Todos respeitam a ordem ajudando-se mutuamente. Não há competição para levar vantagem. Chama a atenção  a  solidariedade  nesta e em outras situações de crise. 

Quando New Orleans foi devastada pelo furacão Katrina,  de todos os estados  vieram tantos    caminhões de socorro a ponto de congestionar as estradas. Voluntários de todo o país se dirigiram  à região, espontaneamente, voluntariamente, sem outro interesse senão oferecer ajuda. Se este espírito comunitário só ocorresse nas calamidades, ainda assim seria de se elogiar. Mas não, esta disposição é visível no dia a dia da vida. Desde cedo as crianças  são educadas  a contribuir para bem comum.  As escolas têm no seu curriculum ações comunitárias; o judiciário apena  crimes menores com trabalho social; as universidades privilegiam  os candidatos que demonstraram  envolvimento social... . E , primus inter pares, em nenhuma economia do mundo se pratica com tanta generosidade a  filantropia . Os Estados Unidos são os maiores doadores do Vaticano sem serem um país predominantemente católico . Onde mais os milionários doam grande parte das suas heranças para o bem público?

Essa descrição da vida  se torna pertinente por contrastar com a imagem que se tem povo americano, considerado individualista, egocêntrico e socialmente frio. Características que não se coadunam com  um espírito de solidariedade, como a que se vê nas calamidades públicas e nas ações filantrópicas. O que não significa a inexistência destas características, mas não um traço predominante , sendo portanto, um rótulo inadequado

 Nos latinos somos críticos do individualismo. O social prevalece,  o que tornam calorosas as  nossas relações.  O contato físico, a proximidade, a intimidade são sinais de bem querer, de amizade de  aprovacão. As  relações são circunscritas à uma grande família :  parentes, padrinhos,  amigos e parceiros identificados por algum interesse - o clube, o trabalho, a igreja...Esta grande família é socialmente   autossuficiente, morando os seus  preferencialmente na vizinhança. O que a torna naturalmente fechada para  os estranhos ao ninho. 

Já os  americanos, não se fecham em  uma grande família. A grande mobilidade e uma independência cultural lhes  faz ter relações sociais mais diversificadas e menos profundas - que equivocadamente definimos como individualismo em vez de independência. Se de  um lado estão mais abertos ao estranho, de outro aprofundam menos os vínculos pessoais. As relações são mais formais e o contato físico soa como agressão. Características de personalidade adquiridas na educação.  A vida em casa, os exemplos, a escola e a organização da sociedade é toda voltada a estimular a independência pessoal. Desde de criança, cada um cuida das suas coisas: veste-se, arruma cama, tira a mesa... mas, ao mesmo tempo, aprende a valorizar o bem comum, a responsabilidade social , a civilidade. As escolas ensinam a repreender os atos de incivilidade de terceiros.

Temos assim uma formação  cultural diversa. Nossas crianças ( exceto nas classes menos  favorecidas economicamente) não são treinadas à serem independentes Nossa educação é protecionista . O jovem americano sai de casa ainda na puberdade, enquanto o latino vive sob o rabo de saia até constituir família . Não é por menos , senão por esta educação, que tendemos a esperar de alguém  pela solução de todos os nossos problemas. Somos uma sociedade vocacionada para um governo forte, para o socialismo e não  para a  liberdade com responsabilidade.

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