domingo, 28 de julho de 2024


Salvem as baleias!


Algumas campanhas publicitárias sensibilizam o público mais do que outras. Uma  marcante foi a dos salvacionistas das baleias — Save Whales. Ganhou a simpatia popular. Até onde se sabe, em consequência da campanha ou não, as baleias não estão mais entre as especiais com risco de extinção. Um viva para a humanidade. 


A questão que se levanta é o porquê das baleias terem sido ameaçadas de extinção e as vacas não. Uma mensagem disseminada pela   Whatsup formulava esta questão . Era colocada como um quebra cabeça.Entre inúmeras conjecturas prevalece a mais simples das respostas:  — as vacas têm dono e as baleias não. O que não tem dono ou tem muitos donos morre de fome.


A propriedade cria valor. E tendo valor há quem a proteja. Aquilo que é de todos, geralmente, acaba sendo de ninguém. Consequentemente entregues à própria sorte. É o  caso das baleias, dos bens públicos e do próprio governo. Todos os edifícios públicos — escolas, delegacias, repartições— são como as baleias “ espécies em extinção “ , abandonadas por não terem dono.


A propriedade privada , considerada entre os direitos fundamentais nas democracias liberais, é um instrumento, entre outros, de preservação de valores da sociedade. O direito de dispor do bem adquirido de forma honesta ao seu bem entender , inclusive a herança , é um incentivo a poupança e ao investimento. O bem que pode ser transferido como herança está protegido. O confisco da herança é um destruidor de valores da economia.


Uma sociedade torna-se rica quando os valores da propriedade privada são respeitados. As soluções intervencionistas de taxar as heranças é um esbulho ao direito do proprietário. Os benefícios pretendidos com a arrecadação destes impostos são pagos com o desestímulo ao espírito empreendedor. O que na prática significa menor estímulo ao investimento. Em outras palavras empobrecimento.


Todas as experiências que aboliram ( comunismo ) ou limitaram o direito ( populismo-socialista ) geraram pobreza na exata proporção do prejuízo causado ao proprietário. Depois de um século da revolução comunista e de experiências mil na América Latina está na hora de se olhar com mais respeito os benefícios da propriedade privada.


Porém  não é o que está acontecendo, principalmente na propriedade rural. Por todos é enaltecido o feito heroico dos empreendedores do agronegócio no Brasil. Eles foram a salvação da lavoura, pois tem salvo o país da bancarrota. O feito é ainda mais espetacular se se colocar na conta dos desafios enfrentados por esses empresários o desastre que é o MST. Em país sério as invasões de terra deveriam propiciar imediata desocupação,  prisão dos invasores e indenização dos prejuízos causados.


Mas não só as invasões de terras, propriedades urbanas, violentam o direito à propriedade. A insegurança jurídica, cantada em prosa e verso pelo Brasil afora, também prejudicam o direito à propriedade. Leis que não são respeitadas,  a politização do judiciário, e o emaranhado sem fim das questões em juízo criam uma base volúvel para se construir um empreendimento. A já famosa frase de que no Brasil nem o passado é previsível, pois leis e práticas novas desrespeitam os direitos de propriedade, desestimulando os projetos— principalmente os de longo prazo.


Quando a propriedade privada for sagrada como as vacas da Índia, e os bens tiverem donos inquestionáveis,  não seremos como os países socialistas — uma espécie em extinção. Salve a  propriedade privada!


Sao Paulo, 01 de maio de 2024

Jorge Wilson Simeira Jacob 

domingo, 21 de julho de 2024

 As causas do nosso subdesenvolvimento.


O ex-presidente  Emílio Garrastazu Medici , entrevistado no auge da popularidade, saiu-se com o seguinte brocardo: “ o Brasil vai bem, mas o povo vai mal”. Esta situação continua ainda valida , mesmo  depois de passados tantos decênios desde que foi enunciada.


Quem olha em perspectiva o pais tem certeza do quanto avançamos em termos econômicos. Não ha comparação do pais de hoje e do Brasil dos anos 1970. O progresso é inegável. Somos um outro pais. A evolução tecnológica trouxe modernidade material. 


Se houve tanto progresso porquê então o povo vai mal? Em primeiro lugar progresso não é desenvolvimento. Desenvolvimento exige a melhoria da civilidade, dos serviços públicos, da ordem  e da segurança jurídica. Enfim é de qualidade de vida que se trata. A  deficiente  qualidade dos nossos serviços públicos e a nossa precária civilidade são as causas nosso subdesenvolvimento. 


Nos últimos 40 anos a economia cresceu o equivalente ao crescimento populacional — coisa de 2% ao ano cada um. Não houve ganho substantivo. O que significa estagnação. Cresceu o  PIB nacional tanto quanto a população, não houve, portanto, ganho da renda per capita . O Brasil está entre os dez  maiores PIBs do mundo, mas está no 76 lugar no ranking da renda per capita. 


Na corrida pela melhoria da renda per capita estamos atrás até da sofrida Argentina. Perdemos feio para os países asiáticos, que estão eliminando a pobreza. Segundo o presidente do Banco de Desenvolvimento da Ásia, Takehiko Nakao, os quatro fatores que determinaram o sucesso asiático foram:  1 - a igualdade de oportunidades por princípio; 2 - a educação por base;  3 - o livre mercado por meio; e 4 - o progresso social por fim.



Porquê o Brasil está estagnado?


Ninguém responde melhor a essa pergunta do que o Professor Marcos Mendes em seus livros, artigos e entrevistas. E’  tal a competência dele que causa surpresa ter notícia de alguém ligado ao governo brasileiro com uma visão tão lúcida das razões do nosso atraso. Ainda mais quando a lucidez vem acompanhada de um profundo conhecimento de causa. De tanto ver a mediocridade grassar entre os dirigentes ( ou pretendentes a dirigir o país), ouvir uma palestra do ex-consultor do Senado é melodia aos nossos ouvidos.


A entrevista no YouTube  — “ Como ideias dos anos 40 empobrecem o Brasil “ — do professor Marcos Mendes é imperdível para quem não quer perder-se entre tantas ideias equivocadas que circulam no nosso meio intelectual e político. O entrevistado com a serenidade dos sábios, sem a mínima empáfia, discorre sobre os nossos desafios ao desenvolvimento: o governo hipertrofiado, a burocracia irracional, as distorções de toda ordem — que criam subsídios que exigem outros subsídios para corrigir as disfunções…que pedem outros subsídios sem fim.



Autor de inúmeros artigos e alguns livros, professor do Insper e consultor licenciado do Senado, o economista Marcos Mendes é um estudioso. É daqueles que vai ao âmago das questões para tirar as melhores conclusões. Ler e ouvir o professor Marcos, principalmente sabendo que ele é ouvido por políticos , é motivo de esperança. Esperança de que em algum momento ( talvez em uma  crise ) as suas ideias serão praticadas para tirar o país do triste caminho que vem trilhando.


Entre as suas boas conclusões está a de considerar o país viciado em subsídios e de que  a seguir na atual trajetória de acreditar que “ gasto é vida” , prevê Marcos,  estarmos caminhando novamente para uma aceleração inflacionária.


Melhor do que palavras é assistir, no YouTube — Como ideias dos anos 40 ainda empobrecem o Brasil  e outras   entrevistas do professor Marcos Mendes. Certamente ouvir uma voz tão abalizada vai servir como vacina contra o discurso populista dos atuais governantes.



Sao Paulo, 04 de junho de 2024.

Jorge Wilson Simeira empobrecemJacob

domingo, 14 de julho de 2024

 




God save the dollar!!!


Os Estados Unidos estão cozinhando o dólar em água morna, como na conhecida história do sapo. No  começo do mês de junho de 2024, o Tesouro dos EUA anunciou que vai endividar-se mais ainda, e o valor será maior do que os especialistas imaginavam.


Há não muito tempo atrás, Jamie Dimon , nada menos do que ser presidente do maior e mais prestigioso banco mundo, alertava para o risco do endividamento americano, que estava sendo financiado com emissões de títulos da dívida pública. Ver artigo O céu não é o limite, nesta coluna, no dia 03.03.2024.


Agora, não muito  depois, é a vez do mais bem sucedido empresário do mundo vir a público com um alerta assustador. Declarou Elon Musk que : “o dólar pode ir a zero caso os EUA não pare de emitir dívida”. Desse modo, em uma troca de mensagens na plataforma em que é dono, o X, Elon Musk revelou sua crescente preocupação com o dólar e os EUA.Elon Musk afirma que dólar vai para ZERO caso EUA continue gerando dívida.


Nenhum deles mencionou o término do  acordo do petrodólar, que assegurava a conversibilidade do dólar como moeda de referência para pagamento do petróleo. — o que aumenta o risco da moeda. 


A Arábia Saudita não vai renovar o acordo de petrodólar com os Estados Unidos. O anúncio feito pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman (MBS), no último domingo, 9 de junho de 2024, é um divisor de águas na economia global e na geopolítica. 


Mais um elemento que sinaliza a construção de um novo mundo multipolar.O acordo entre o país árabe e a maior economia do mundo perdurou por 50 anos e estabelecia que o petróleo saudita seria vendido exclusivamente em dólares estadunidenses, consolidando o dólar como a moeda dominante no comércio global de petróleo. Em troca, a Arábia Saudita receberia proteção militar e apoio econômico dos EUA.



Esse acordo deixou de existir. Na prática, parte do petróleo já vem sendo pago  com moeda russa e chinesa. O yuan chinês, pretendente a disputar com o dólar uma posição relevante como moeda de troca e reserva de valor, já é hoje a terceira força monetária.


Nem sempre os profetas são ouvidos. Muitas racionalizações são construídas para provar que a capacidade de endividamento dos Estados Unidos está longe do seu limite. 


Entre essas é a de que um concorrente ao dólar deve necessariamente estar escorado em instituições sólidas, que proporcionem segurança; em ampla conversibilidade, que propicie liquidez; e tradição, que dê confiança. E o yuan chinês não atende a

 todos estes requisitos, por enquanto.


O euro, a segunda moeda de curso internacional, não cumpriu também essas exigências e não decolou como moeda corrente em transações internacionais. Faltou ao euro a pujança da economia americana, uma estável instituição política ( Brexit foi uma ruptura ) , e não tem uma longa vida.


São essas considerações que alimentam os otimistas da resiliência do dólar, que permitem cozinhar o sapo em água morna. 


Realmente, mesmo os pessimistas, não ignoram que desbancar o dólar não será obra fácil. Tudo indica que o tesouro americano ainda vai ter vida longa. 


Mas a história é farta de fatos imprevisíveis que precipitaram verdadeiras catástrofes. Napoleão, excelente planejador e admirado guerreiro, subestimou o “general inverno” para colher os amargos frutos de uma Moscou esvaziada. O que levou de volta à França derrotado.


Certamente aqueles que negociam com o dólar, diante de alertas do maior  banqueiro e do empresário mais rico do mundo, estão hoje nas pontas dos pés. Entretanto as alternativas de defesa contra uma desvalorização do dólar não estão disponíveis. A China está apostando no ouro para proteção das suas reservas, fugindo do dólar.


Porém, não é de calote que se trata , mas do  tesouro não conseguir mais tomadores para a dívida medida em trilhões de dólares, e ser forçado à medidas anti inflacionárias que levarão a uma recessão mundial sem precedentes.


God save the dollar!!!


São Paulo, 24 de junho de 2024

Jorge Wilson Simeira Jacob






domingo, 7 de julho de 2024

 Algo está podre no reino da Dinamarca.


O mercado financeiro está nervoso. Os termômetros mostram a Bolsa em queda e o dólar em alta. O real foi a moeda com pior desempenho entre os países emergentes com alta de 1,46%, muito acima de cerca de 0,30% das moedas da Rússia, Peru e Argentina, as únicas a desvalorizarem frente ao dólar nesta sexta-feira ( 28.06.24 ).São sinais de desconfiança com a administração econômica do país.


 Por debaixo dessa perda de credibilidade está o crescimento voraz da dívida pública. O setor público consolidado –formado por União, Estados, municípios e estatais– registrou déficit primário de R$1,062 trilhão no acumulado de 12 meses até maio. Esse foi o maior saldo negativo da série histórica, iniciada em 2002. 


Mesmo excluindo o pagamento de juros da dívida, o rombo nas contas públicas está em alta e no maior valor desde junho de 2021. O déficit aumentou em maio no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mesmo com a arrecadação de R$203 bilhões no mês, que bateu recorde para o mês na série histórica, iniciada em 1995....


Acrescente-se que as divergências do Presidente da República com o Presidente do Banco Central contribuem para o aumento da insegurança. A relativa calmaria está cedendo vez ao nervosismo pelo fim do mandato do Roberto Campos Neto, que tem sido uma âncora para segurar a inflação . O final do seu mandato  tem sido o estopim da atual crise. 


Como a visão do Presidente assusta o mercado financeiro, a proximidade da troca do Presidente do Banco Central  estimula as apostas mais pessimistas. A atual política do Banco Central  tem sido um freio à equivocada ideia de ser o governo o indutor do crescimento. 


O mercado não apagou da memória os tristes resultados do incompetente governo da Dilma Rousseff, que também acreditava que “ gastar é vida”.A Nova Matriz econômica do Ministro Mantega não suportou o teste da prática. Morreu de morte morrida para ser enterrado sem choro e nem velas.


A aposta de que as exuberantes reservas cambiais do Tesouro são uma âncora a assegurar a confiança dos mercados é uma quimera. Dinheiro não aguenta desaforo. Uma disseminação de desconfiança pode promover uma corrida contra o dólar e as reservas podem desaparecer em um instante. 


Em situação semelhante, em que o mercado via com desconfiança a gestão da economia,  George Soros derrotou o Banco na Inglaterra,  que teve que suportar forte desvalorização da Libra. Apostar contra o mercado tem sido uma história de insucessos. E aqui não seria diferente. Acreditar em equilibrar-se em terreno escorregadio é mais do que otimismo, é ingenuidade.


O governo, em busca de um bode expiatório, acusa os especuladores como responsáveis pelo derretimento do real. Mas o que são esses “ especuladores” senão um valioso instrumento do mercado para inibir abusos à realidade econômica dos governos. Não são os especuladores que inventam oportunidades, eles tomam partido delas. 


Ê a ação deletéria dos  governos que criam as oportunidades para a especulação. Os especuladores com a sua virtuosa ação, antecipando -se aos fatos, provocam as correções de rumo das situações econômicas. A sua ação é um aviso para antecipar um fato indesejado. Como está acontecendo com o insuportável crescimento da dívida pública.


Em vez de buscar bodes expiatórios na ação dos possíveis especuladores, o sensato seria ver na sua ação um aviso premonitório de que algo está podre no reino da Dinamarca, como diria Hamlet.


São Paulo, 29 de junho de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob