domingo, 31 de março de 2024

  Um  dilema primitivo


Desde que o homem existe persiste uma questão a ser resolvida:  — quem nasceu primeiro  o ovo ou a galinha. Parafraseando esta dúvida milenar,  o ilustre ministro do trabalho, o ex-sindicalista Luís Marinho ( o mesmo que “ensinou” que a semana de quatro dias não alteraria a produção de uma  semana de cinco ) ,  critica  a ignorância da maioria mundial dos bancos centrais, que combatem a inflação induzindo uma redução da demanda com aumento das taxas de juros, em vez de estimular os empresários a produzir mais.


Segundo o ministro, os banqueiros dos bancos  centrais deveriam estudar economia, em uma crítica contundente da possível ignorância dos banqueiros , pois “ combater a inflação reduzindo a demanda com aumento de juros ( leia-se - desestímulo ao consumo ) é a forma burra de conter a inflação”. 


A maneira inteligente é o aumento da oferta. Na sua lógica,  ignora que não necessariamente o dinheiro colocado nas mãos dos investidores iria para o investimento e aumento da produção. O contrário seria o mais provável, que dinheiro fácil fosse alimentar mais consumo e, consequentemente, mais inflação. 



O conceito consolidou-se na prática  por inúmeras experiências. É tido como regra infalível de que o aumento dos juros do tesouro é eficaz no combate à inflação. Milton Friedman batalhou anos para convencer a intelligentsia internacional de ser a inflação um fenômeno monetário. Reduza a oferta da moeda e a inflação cai. Isto pelo simples fato de transferir o dinheiro do mercado para o tesouro. Ao aumentar as taxas de juros , os investidores ( que são essencialmente racionais ) tendem a poupar em vez de gastar.


Essa ( a tese de Friedman ) é uma ideia vencedora. Todos os países que adotaram a prática  de “ gastar para gerar progresso” terminaram na hiperinflação como a Argentina e mesmo o Brasil antes do Plano Real. A Turquia tem praticado essa política com resultados inflacionários preocupantes. Acredita o presidente turco que os juros altos são a causa da inflação. O resultado tem sido a troca do dirigente do Banco Central turco como troca de camisa, devido aos seguidos fracassos.


O dilema de quem nasceu primeiro - o ovo ou a galinha - é primitivo como já está sendo  de que estimular a produção com dinheiro  barato geraria oferta, como o ministro  quer ensinar  para os bem sucedidos banqueiros centrais de todo o mundo. 


Estimular um aumento de produção enfrenta alguns obstáculos que não devem ser desprezados. De partida há que se levar em conta a possibilidade de  estarem os meios de produção operando no seu limite ou se há capacidade ociosa a ser utilizada. Outra questão fundamental são as diferenças de tempo entre o início da produção até o produto chegar as prateleiras das lojas. O processo produtivo necessita de oito meses , enquanto  a reação  do consumo é imediata. A consequência é acentuar o fator inflacionário. 


Ademais e sobretudo importante é o fator confiança. Os empresários precisam confiar que haverá demanda adicional para investir e o mercado não apostará na queda da inflação para aventurar-se a um aumento expressivo dos seus investimentos se não acreditar na existência futura de demanda. Já o mercado pode  não acreditar em queda da inflação pelo choque futuro de oferta. E o efeito expectativa é importante elemento no combate à inflação.


 Não há rima mais adequada à arrogância do que a ignorância. E os banqueiros dos bancos centrais não são arrogantes, como regra , por isso não exibem o seu domínio da teoria econômica . Eles sabem muito bem distinguir entre o ovo e a galinha. Os banqueiros aprenderam bem com as ideias da Nova Matriz Econômica da  Dilma Rousseff ( um desastre ) e não esqueceram  nada das primitivas ideias populistas.


Com ideias  como essas, combater a inflação apostando em potencial aumento  da oferta é apostar na inflação .


São Paulo, 28 de março de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob




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