domingo, 20 de agosto de 2023

 O gênio da garrafa.



Somos uma nação continental e queremos continuar sendo. Custou- nos séculos para preservar a unidade nacional. Lutamos contra os franceses, holandeses e expulsamos os colonizadores. Os bandeirantes alargaram as nossas fronteiras. Tudo à custa de sangue. Foram séculos de sacrifícios. Não devemos permitir  que insatisfações regionais ponham em risco esse valioso patrimônio.


Nessa trajetória, o centro político e econômico do Brasil mudou de regiões. Salvador foi sede do governo de 1549/1763; Rio de Janeiro de 1763/1960; e Brasília desde 1960. Os diversos ciclos econômicos - extração do pau-brasil, cana de açúcar, do ouro e do café - induziram o estabelecimento do poder político. 


Brasília tornou-se a capital do Brasil a despeito de não ter nenhum poder econômico. Foi um ato político com vistas a interiorização do poder . A não ser o Rio de Janeiro, que foi esvaziado, nenhum estado ficou contrariado com a nova capital. Prevaleceu o desejo nacional de uma federação.


Brasília, economicamente falando, é um zero à esquerda : não produz nada, só leis.Porém é o poder central que distribui os recursos arrecadados. As proporções não seguem os critérios da distribuição per capita, mas o jogo político.Uns valem menos do que os outros,  dependendo da sua região. Os estados menos favorecidos detém uma desproporcional maioria na Câmara dos deputados - que tem poder sobre os critérios os gastos públicos. Um voto do  cidadão do sul elege menos representantes  do que do norte e nordeste. De um total de 513 deputados , São Paulo está limitada a 70 cadeiras em uma forte desproporção ao número dos seus habitantes. 


Essa desigualdade tem sido tolerada. Ainda que haja um sentimento crescente de insatisfação. A ponta desse ressentimento aflorou na última eleição em que praticamente o nordeste elegeu um presidente indesejado pelo Sul. E agora o governador de Minas Gerais levanta a voz para propor um Consórcio dos Governos Estaduais das Regiões Sul e Sudeste  para atuar politicamente em igualdade de condições com as forças políticas do nordeste, organizadas no Consórcio Nordeste, sob a presidência do governador da Paraíba. Se é legítimo uma parte organizar-se politicamente, também o é da outra!


A proposta de Zema é uma moeda de duas faces: há de um lado os que entendem que a iniciativa será uma resposta aos ressentidos e que como consequência do jogo aberto contribuirá para a unidade nacional; de outro lado há os que veem na iniciativa um estopim de discórdia. 


Estamos como o garoto que  abriu a garrafa mágica e liberou o gênio. Não há como prendê-lo, outra vez. O tema está na pauta. Não será fugindo dele que teremos melhoras na pacificação das ideias. A iniciativa do Governador Zema tem o mérito de ter trazido à tona  uma realidade. Diz ele com razão:”  o   sul deve se organizar para defender os seus pobres. Não há pobreza só no nordeste . Há muita no sul”. 

E eles merecem participar da distribuição do bolo.


Zema não criou um problema. Ele existia encoberto. Trazer à luz é encaminhar para uma solução. O nordeste não tem o direito à exclusividade de lutar por seus interesses. O que o faz bem tendo inclusive, uma contrapartida do Consórcio dos governos estaduais das Regiões Sul e Sudeste.  É do debate aberto que surgirão as respostas aos insatisfeitos. O mérito do governador foi colocar sob a luz solar um estado de ânimo que não contribui para o nosso desejo de ter a unidade nacional preservada. Ignorar o desafio é tentar tapar o sol com uma peneira.


São Paulo, 08 de agosto de 2023.

Jorge Wilson Simeira Jacob



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