O gênio da garrafa.
Somos uma nação continental e queremos continuar sendo. Custou- nos séculos para preservar a unidade nacional. Lutamos contra os franceses, holandeses e expulsamos os colonizadores. Os bandeirantes alargaram as nossas fronteiras. Tudo à custa de sangue. Foram séculos de sacrifícios. Não devemos permitir que insatisfações regionais ponham em risco esse valioso patrimônio.
Nessa trajetória, o centro político e econômico do Brasil mudou de regiões. Salvador foi sede do governo de 1549/1763; Rio de Janeiro de 1763/1960; e Brasília desde 1960. Os diversos ciclos econômicos - extração do pau-brasil, cana de açúcar, do ouro e do café - induziram o estabelecimento do poder político.
Brasília tornou-se a capital do Brasil a despeito de não ter nenhum poder econômico. Foi um ato político com vistas a interiorização do poder . A não ser o Rio de Janeiro, que foi esvaziado, nenhum estado ficou contrariado com a nova capital. Prevaleceu o desejo nacional de uma federação.
Brasília, economicamente falando, é um zero à esquerda : não produz nada, só leis.Porém é o poder central que distribui os recursos arrecadados. As proporções não seguem os critérios da distribuição per capita, mas o jogo político.Uns valem menos do que os outros, dependendo da sua região. Os estados menos favorecidos detém uma desproporcional maioria na Câmara dos deputados - que tem poder sobre os critérios os gastos públicos. Um voto do cidadão do sul elege menos representantes do que do norte e nordeste. De um total de 513 deputados , São Paulo está limitada a 70 cadeiras em uma forte desproporção ao número dos seus habitantes.
Essa desigualdade tem sido tolerada. Ainda que haja um sentimento crescente de insatisfação. A ponta desse ressentimento aflorou na última eleição em que praticamente o nordeste elegeu um presidente indesejado pelo Sul. E agora o governador de Minas Gerais levanta a voz para propor um Consórcio dos Governos Estaduais das Regiões Sul e Sudeste para atuar politicamente em igualdade de condições com as forças políticas do nordeste, organizadas no Consórcio Nordeste, sob a presidência do governador da Paraíba. Se é legítimo uma parte organizar-se politicamente, também o é da outra!
A proposta de Zema é uma moeda de duas faces: há de um lado os que entendem que a iniciativa será uma resposta aos ressentidos e que como consequência do jogo aberto contribuirá para a unidade nacional; de outro lado há os que veem na iniciativa um estopim de discórdia.
Estamos como o garoto que abriu a garrafa mágica e liberou o gênio. Não há como prendê-lo, outra vez. O tema está na pauta. Não será fugindo dele que teremos melhoras na pacificação das ideias. A iniciativa do Governador Zema tem o mérito de ter trazido à tona uma realidade. Diz ele com razão:” o sul deve se organizar para defender os seus pobres. Não há pobreza só no nordeste . Há muita no sul”.
E eles merecem participar da distribuição do bolo.
Zema não criou um problema. Ele existia encoberto. Trazer à luz é encaminhar para uma solução. O nordeste não tem o direito à exclusividade de lutar por seus interesses. O que o faz bem tendo inclusive, uma contrapartida do Consórcio dos governos estaduais das Regiões Sul e Sudeste. É do debate aberto que surgirão as respostas aos insatisfeitos. O mérito do governador foi colocar sob a luz solar um estado de ânimo que não contribui para o nosso desejo de ter a unidade nacional preservada. Ignorar o desafio é tentar tapar o sol com uma peneira.
São Paulo, 08 de agosto de 2023.
Jorge Wilson Simeira Jacob
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