domingo, 27 de agosto de 2023

 



Ao Irapuan da Costa Jr, o meu amigo do peito.



Procuro Um Amigo.



Procuro um amigo do peito,

Que, do meu singelo jeito, 

Não deve ser perfeito,

Só tenha suportável  defeito;

Que Seja simples  e natural,

Não goste de nada artificial;

Que tenha o ouvido aguçado

 E o coração todo ajustado

Para uma  solida empatia;

Que sofra na minha agonia

E sorria na minha alegria

E entenda o que não sei ser

E  veja o que não sei ver.


Um amigo que tenha o caminho,

A direção certa do  meu ninho,

A consciência da eternidade

E o gosto pela perpetuidade ,

Sem se perder na vulgaridade ,

Que seja dedicado e leal

Como no mundo não  existe igual.




O que procuro  é uma raridade,

Encontrar um amigo de verdade 

Neste mundo da superficialidade, 

De  desventura e adversidade,

 É como estar fora da realidade.


Não é um amigo para  um instante, 

Deve ser pra sempre e constante

Para vivermos  sempre lado a lado

E estar no meu coração grudado. 


Procuro ansioso um amigo

Com o  carinho do amor maternal

E a confiança do zelo paternal. 

Um amigo fiel para estar  comigo ,

Que não me abandone no meio da vida

E suportemos  juntos a dor se a morte for sofrida.



Onde quer que  o vá localizar

Farei de tudo para o encontrar,

Irei atrás com a toda força procurar

E quando desse sonho despertar

Darei a ele  a amizade que posso  ofertar.

Ser  amigo do peito é  o que tenho para dar.


Sao Paulo, 28 de Julho de 2023

Jorge Wilson Simeira Jacob




domingo, 20 de agosto de 2023

 O gênio da garrafa.



Somos uma nação continental e queremos continuar sendo. Custou- nos séculos para preservar a unidade nacional. Lutamos contra os franceses, holandeses e expulsamos os colonizadores. Os bandeirantes alargaram as nossas fronteiras. Tudo à custa de sangue. Foram séculos de sacrifícios. Não devemos permitir  que insatisfações regionais ponham em risco esse valioso patrimônio.


Nessa trajetória, o centro político e econômico do Brasil mudou de regiões. Salvador foi sede do governo de 1549/1763; Rio de Janeiro de 1763/1960; e Brasília desde 1960. Os diversos ciclos econômicos - extração do pau-brasil, cana de açúcar, do ouro e do café - induziram o estabelecimento do poder político. 


Brasília tornou-se a capital do Brasil a despeito de não ter nenhum poder econômico. Foi um ato político com vistas a interiorização do poder . A não ser o Rio de Janeiro, que foi esvaziado, nenhum estado ficou contrariado com a nova capital. Prevaleceu o desejo nacional de uma federação.


Brasília, economicamente falando, é um zero à esquerda : não produz nada, só leis.Porém é o poder central que distribui os recursos arrecadados. As proporções não seguem os critérios da distribuição per capita, mas o jogo político.Uns valem menos do que os outros,  dependendo da sua região. Os estados menos favorecidos detém uma desproporcional maioria na Câmara dos deputados - que tem poder sobre os critérios os gastos públicos. Um voto do  cidadão do sul elege menos representantes  do que do norte e nordeste. De um total de 513 deputados , São Paulo está limitada a 70 cadeiras em uma forte desproporção ao número dos seus habitantes. 


Essa desigualdade tem sido tolerada. Ainda que haja um sentimento crescente de insatisfação. A ponta desse ressentimento aflorou na última eleição em que praticamente o nordeste elegeu um presidente indesejado pelo Sul. E agora o governador de Minas Gerais levanta a voz para propor um Consórcio dos Governos Estaduais das Regiões Sul e Sudeste  para atuar politicamente em igualdade de condições com as forças políticas do nordeste, organizadas no Consórcio Nordeste, sob a presidência do governador da Paraíba. Se é legítimo uma parte organizar-se politicamente, também o é da outra!


A proposta de Zema é uma moeda de duas faces: há de um lado os que entendem que a iniciativa será uma resposta aos ressentidos e que como consequência do jogo aberto contribuirá para a unidade nacional; de outro lado há os que veem na iniciativa um estopim de discórdia. 


Estamos como o garoto que  abriu a garrafa mágica e liberou o gênio. Não há como prendê-lo, outra vez. O tema está na pauta. Não será fugindo dele que teremos melhoras na pacificação das ideias. A iniciativa do Governador Zema tem o mérito de ter trazido à tona  uma realidade. Diz ele com razão:”  o   sul deve se organizar para defender os seus pobres. Não há pobreza só no nordeste . Há muita no sul”. 

E eles merecem participar da distribuição do bolo.


Zema não criou um problema. Ele existia encoberto. Trazer à luz é encaminhar para uma solução. O nordeste não tem o direito à exclusividade de lutar por seus interesses. O que o faz bem tendo inclusive, uma contrapartida do Consórcio dos governos estaduais das Regiões Sul e Sudeste.  É do debate aberto que surgirão as respostas aos insatisfeitos. O mérito do governador foi colocar sob a luz solar um estado de ânimo que não contribui para o nosso desejo de ter a unidade nacional preservada. Ignorar o desafio é tentar tapar o sol com uma peneira.


São Paulo, 08 de agosto de 2023.

Jorge Wilson Simeira Jacob



sábado, 5 de agosto de 2023

 O Liberalismo —antigo e moderno.



Entre as tantas classificações do ser humano, uma é  a de sermos superficiais. Caminhamos pela vida com certa displicência. Se andamos por uma via, seja no campo das ideias ou no da vida prática, pouca atenção damos às nuances do ambiente. Só olhamos para os detalhes se algum fator nos impulsionar. Nada de errado. Não fosse assim não avançaríamos. Porém se, nas situações mais complexas, ignoramos a diversidade das situações podemos correr o risco de grandes erros. Seria como caminhar nas nuvens, sem olhar os buracos no chão.


Os intelectuais existem para nos livrar dessa superficialidade. Atentos às particularidades, comparando, analisando e propondo situações, eles são o nosso farol. São eles que desses perigos nos livram. Focados nos detalhes, sem perder a  visão panorâmica, nos equilibram entre a vida prática e a intelectual.  Este é  o papel que faz com mestria José Guilherme Melquior , no seu livro O  Liberalismo - Antigo e Moderno ( É Realizações Editora,  383 páginas, 59,89 ) . 


Entre tantos  alertas,  Melquior chama atenção para as seis formas de liberalismo, como também para as do socialismo. No liberalismo aponta para um erro comum de definição, quando muitos entendem o liberalismo como sendo tão só a economia de mercado, a livre iniciativa e a propriedade privada. A este credo ele dá o título de liberismo .  Ele  valoriza o liberismo por acreditar que: “  se não houver liberdade econômica as outras liberdades  - a civil e a política - desaparecem”. O liberalismo, entretanto,  tem uma abrangência muito maior, difere do conservador , pois este admite restrições à liberdade política em nome do tradicionalismo, do organicismo e do ceticismo político.


Crítico das sociedades  intervencionistas, Melquior entende que na América Latina, como regra, não existe a democracia liberal. Não aceitamos a disciplina do mercado. Somos muito burocratizados, mantemos inchadas máquinas públicas e apegados à reserva de mercado. Esta é uma prática mercantilista.


O texto abrange os trezentos anos da história do liberalismo. É uma enciclopédia de conhecimentos, que só uma mente privilegiada como a do autor poderia conceber. Ler esse livro é sair de uma visão superficial e entender realmente o liberalismo. O liberalismo é uma filosofia de vida, que tem como escopo a realização do ser humano.Cuida da sua dignidade.  Enquanto que o liberismo está focado no melhor desempenho econômico. 


O liberalismo atento às desigualdades as aceitam. Em regime de liberdade prevalecem os mais aptos. William G. Summer é citado : “ a despeito de toda a dureza, a lei da sobrevivência não era obra do homem, portanto, não pode ser ab-rogada pelo homem”.



O livro recebeu algumas críticas por dar pouco espaço às experiências liberais na América Latina. Há um bom capítulo sobre os liberais argentinos,  Sarmiento e Alberdi - que, enquando praticada,  a colocou entre as cinco nações mais ricas do mundo e , entregues ao populismo a jogaram de joelhos na pobreza. Caminho que estamos a seguir.


José Guilherme Melquior, reconhecidamente uma das mentes mais privilegiadas do Brasil, e certamente no mundo, faleceu precocemente aos 49 anos de idade. À ocasião da sua morte foi dito que: “Deus faz dessas coisas. Fábrica gênios e depois quebra o molde”. Era poliglota, diplomata, erudito e um estudioso. Surpreende no livro a capacidade de análise das diversas escolas do pensamento, colocando-as, lado a lado, e extraindo a sua essência. Difícil é ficar indiferente à distância que nos separa de um gigante das ideias como foi Melquior. Como conseguiu saber tanto, de política, economia e sociologia, se é que não soube tudo, em tão curta vida?


Na introdução do livro, Roberto de Oliveira Campos, disse: “ este é um livro liberal sobre o liberalismo, escrito por quem acredita que o liberalismo, se entendido apropriadamente, resiste a qualquer vilificação “. 


Neste mundo,  em que a velocidade das mudanças, em todos os campo, a superficialidade prevalece, em que os estatolocrátas tomaram conta, não se deve deixar de olhar mais a fundo, para saber definir o liberismo e o liberalismo. Isto  faz muita diferença. O liberismo   é um braço importante  do liberalismo. Certamente sem ele o liberalismo não sobreviveria.Mas o liberalismo é muito mais abrangente. É o  ideal de  uma sociedade de homens livres, em vez de autônomos ao mercê  do Estado. 


Enquanto o liberalismo está voltado para o bem do indivíduo, em oposto   ao socialismo que o está para a supremacia do Estado. Enfim, se você é adepto da economia de mercado é um liberista; se da  valorização do ser humano,  você é um liberal.



São Paulo, 04 de agosto de 2023.

Jorge Wilson Simeira Jacob