domingo, 6 de fevereiro de 2022

 Futurologia



O ser humano, nas suas características naturais, é o mesmo desde que se tem notícias da sua existência. Entre as suas marcas psicológicas sempre esteve presente o desejo de prever o futuro. Os primeiros a aventurar-se neste desafio foram os feiticeiros das tribos, que explicavam os fenômenos da natureza como manifestações divinas: raios, trovões, abalos sísmicos e tudo o que escapava ao entendimento do homem comum. Seguiram os Profetas, que,  sabiamente, faziam previsões de prazos mais longos. Usavam o tempo a seu favor. A  Terra da Promissão, a vinda do Messias, o Apocalipse e tantas outras previsões não tiveram prazos marcados. Paralelamente, a par do primarismo dos Pajés e do misticismo dos Profetas, surgem as espertezas das Ciganas lendo as linhas das mãos, as bolas de cristal, as borras de café;  e os iluminados Astrólogos vendo as influências dos astros nas nossas vidas. Os horóscopos ocupam espaço em órgãos de imprensa respeitáveis e são levados a sério por muita gente boa, por incrível que pareça. Finalmente, depois de tanto empirismo, após o  Séculos das Luzes, surge  a Futurologia. 


Como  ciência, a  Futurologia fundamenta-se em  um campo multidisciplinar que estuda tendências para prever os acontecimentos. Os pesquisadores analisam descobertas científicas, avanço tecnológicos, episódios históricos, dados econômicos e ações políticas para criar cenários hipotéticos, com o objetivo de orientar ações no presente. É necessário alertar para a proporção dos acertos   das previsões. Esta ciência, a par da racionalidade, não é exata, e tem uma maior  probabilidade, se errar,  de ser desmentida devido a sua maior divulgação. 



Se, em tempos normais, os homens anseiam por previsões, nos anos  conturbados como estes, que estamos vivendo,  o desejo de visualizar o futuro ganha maior significância. Principalmente em uma  conjuntura sócio-política-econômica, como a atual, em que o mundo virou do avesso. Nada mais é ou será como ontem. Apagaram as luzes. Estamos tendo de adaptar todos os nossos sentidos à nova realidade :  as consequências de uma Revolução Tecnológica, que destruiu todos os paradigmas; e de uma Pandemia, que mudou as relações trabalhador/emprego/vida social . A primeira decretou a morte das lojas físicas, dos escritórios, das viagens de negócios, da posse de carros …  A segunda, a pandemia, com o trabalho em casa e as mesadas governamentais , desmoralizou a maldição de ganhar o pão com o suor da própria testa.


Com essa dupla destruição criativa foram liberados recursos financeiros e mão de obra. Sobra dinheiro para investimento no mundo, mas, paradoxalmente, a redução dos empregos em vez de resultar em sobra de trabalhadores, provocou a sua  falta. Há escassez deles  nos países desenvolvidos, como nos  Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão - onde os efeitos das  mudanças estão mais avançados.  Uma grande porção da massa trabalhadora aprendeu na pandemia, que há outras maneiras de viver, ficando em casa, ainda mais quando os governos proporcionam mesadas sem contrapartida de trabalho. Ao mesmo tempo,  o  governo garante o futuro com aposentadorias generosas e planos de saúde universais,  gratuitos. Deixou de haver motivação para o trabalho tradicional - carga horária, chefia, metas a cumprir e necessidade de poupar para o futuro.


Segundo a futurologia  com  essas  realidades ( Revolução Tecnologia e as mesadas do governo ),  o futuro econômico será dos assalariados, pois eles serão avis raras neste universo.  O que dará oportunidade aos imigrantes e aos menos qualificados. Já os ociosos podem sonhar que o  Paraíso Perdido estará de volta, com a vantagem de que o  fruto proibido  não só é permitido como está super oferecido. Este exercício de futurologia prevê que o lazer será a principal preocupação do homem e o trabalho uma função dos robôs. Portanto, cruze os braços que o governo garante! O trabalho tradicional  vai sair de moda.


Aproveitemos…enquanto durarem essas  previsões!


São Paulo, 24 de janeiro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob


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