O Encilhamento.
Muito já foi escrito sobre O Encilhamento, um capítulo importante da história brasileira - 1889/1994. Sobre o acontecido, nenhuma descrição foi mais apreciada do que a do Visconde de Tauney , no romance homônimo, que descreve os fatos políticos, econômicos, mas os envelopa com o drama social causado por esta crise econômica. Infelizmente esta e outras importantes obras deste escritor caíram no esquecimento. E com elas perdemos a memória de lições que poderiam nos ajudar a evitar os mesmos erros cometidos naquela época.
O personagem principal do Encilhamento foi nada menos do que o famoso Rui Barbosa ,Ministro da Fazenda do Mal. Deodoro da Fonseca, no primeiro período republicano. O seu projeto de estímulo ao desenvolvimento industrial liberou a emissão da moeda inundando o meio circulante, cujas consequências foram inflação e desenfreada especulação mobiliária. A soma desta liquidez sem lastro e a liberação dos capitais antes investidos na escravidão absorviam qualquer lançamento de ações das empresas. Muitas das quais só existiam no papel. Eram emissões, sem nenhum lastro, de empresas fantasmas. Era pura especulação, onde havia uma única dificuldade, segundo Taunay, inventar nomes para as empresas. A farra durou até o estouro da Bolsa , seguida de uma crise econômica que durou uma década. Como sempre as bolhas só são reconhecidas quando a realidade fala mais alto do que a fantasia.
Sabidamente dinheiro fácil é mal conselheiro. Este caso, o Encilhamento, é um exemplo pinçado entre tantos outros. A coleção deles surpreende pela frequência e pela capacidade de enganar não só os tolos, mas parte da elite intelectual, política e empresarial. O que as crises tem tido em comum é a existência de emissão monetária sem lastro - que pode ter como causa mudanças de paradigmas econômicos ( a revolução tecnológica com suas inovações ) e/ou políticas ( rupturas de guerras, rebeliões ... com limitações ao livre trânsito de pessoas ou bens ).
A partir da crise financeira desencadeada pela quebra do Lehman Brothers, em 2008, criou-se um mecanismo de socorro aos sistema financeiro, Quantitative Easing ( QE ) para suprir recursos ao mercado para evitar uma recessão e dar liquidez aos bancos para evitar uma desestabilização sistêmica. Dos trilhões dólares injetados na economia parte foi para o consumo, mas grande volume foi em busca de investimentos ( investidor não come dois bifes ) como alternativa aos juros negativos , inflacionando os preços dos ativos mobiliários e imobiliários. Segundo a revista The Economist, na edição especial The World in 2020 , os imóveis estão sobrevalorizados em 50% em um acompanhamento de longo prazo. Uma medida da SPY, as ações valorizaram 250% desde 2008, além dos dividendos. É assustador ver os bilhões aplicados em lançamentos de ações de empresas sem patrimônio expressivo e deficitárias operacionalmente. Na verdade , uma versão moderna das empresas fantasmas do Encilhamento. Mais assustador ainda é ver os governos, encantados com juros negativos e sem inflação nos bens de consumo, ignorarem o equilíbrio orçamentário e pagarem despesas correntes, como o déficit de 1 trilhão anual dos Estados Unidos, com recursos captados a juros negativos, que castigam os poupadores, subsidiando governos perdulários.
Se Rui Barbosa, confrontado com a existência destes fatores hoje, se fosse vivo, em bom keynesianismo , provavelmente diria : desta vez é diferente.As contas e as mazelas serão pagas e sanadas com o desenvolvimento. Ele faria coro a muitos que afirmam que a tecnologia, melhorando a produtividade, está apta a realizar o milagre de oferecer o free lunch para todos, livrando-nos do castigo bíblico de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Ao que não dizemos Amém!
A poupança deixou de ser uma virtude a ser premiada, até que a realidade fale mais alto do que a fantasia!
As Minha Reflexões
Jorge Wilson Simeira Jacob
20 de dezembro de 2019.
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