sábado, 13 de setembro de 2025

 


O rato que ruge no Galeão


Roberto de Oliveira Campos costumava dizer que o Brasil tinha três saídas para o subdesenvolvimento: o Galeão, Guarulhos e o Liberalismo. Se vivo fosse, talvez acrescentasse uma quarta: declarar guerra aos Estados Unidos e, de quebra, ao sermos derrotados pedir a Trump que nos transformasse no 52º estado da União — depois do Canadá, claro.


Com isso ganharíamos moeda forte, língua universal, segurança jurídica e até poder militar, além de um salto civilizatório.


Mas, como lembrariam logo os críticos dos americanos, essa ideia não passa de uma versão tropical de O Rato que Ruge,  (The Mouse That Roared)  uma sátira política britânica publicada em 1955, escrita por Leonard Wibberley.

Uma sátira em que o minúsculo Ducado de Grande Fenwick declara guerra aos EUA para perder e, com isso, receber ajuda como a Europa e o Japão depois da Segunda Guerra Mundial. 

Na ficção, o impossível acontece: o exército ridículo de  Fenwick envia uma “força invasora” composta por apenas vinte e poucos soldados, armados com armaduras medievais, espadas e arcos, mas  acabam, por acidente,  vencendo a guerra.



E aqui surge o perigo: Trump topar a guerra com o Lula  e nós, por ironia do destino, acabarmos vencendo. Aí, em vez de dólares e estabilidade, teríamos de exportar nossas manias — o jeitinho que viola direitos, a fila  que desrespeita o cidadão, os compromissos que não se cumprem,  o favor que nunca acontece, a corrupção que faz a máquina girar e os privilégios dos príncipes da nação . Os americanos não suportariam nem isto e nem o jeito petista de governar. Seria o caos para uma cultura acostumada à lei e à ordem.


E se Trump vencesse? O caos não seria menor: perderíamos o feijão com arroz, o samba no sangue, a gargalhada em dia de tragédia, a cordialidade constante, a paixão acima da razão e o conforto da desordem. Em suma, trocaríamos calor humano por frio de ar-condicionado.


Diante desse dilema, melhor ficar com nossas velhas mazelas. Afinal, como ironizava Campos, o Brasil nunca perde a chance de perder uma oportunidade. E esta deve ser mais uma delas.

São Paulo, 25 de agosto de 2025.

Jorge Wilson Simeira Jacob

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