domingo, 2 de junho de 2024

 Ritos de passagem


Passamos pela vida como se tivéssemos os olhos semi-fechados. Não vemos com clareza a maior parte do que acontece sob as nossas vistas.  Vivenciamos no dia a dia situações  ignorando o seu significado. Entre tantos, os  dois maiores eventos da nossa existência —  o nascimento e a morte não são devidamente avaliados. Uma miríade de outros  preenchem a nossa vida sem termos consciência dos seus significados e repercussões. O sexo, mãe da vida e de prazeres, está entre as muitas causas que são encaradas pelo povo de forma diversa dependendo da época e cultura.


A antropologia, ciência recente, pretende explicar as causas das cousas nossas. Não só explicar, mas principalmente abrir de todo os nossos olhos. Isto é o que conseguiu fazer Arnold Van Gennep no seu clássico livro Os Ritos De Passagem ( editora Vozes, 4* edição, $ 54,23, 164 pg ). No texto, o autor aborda os ritos e introduz pela primeira vez no campo da Antropologia Social o ritual e os mecanismos básicos como um objeto de estudo relevante.


A vida é rica em momentos de transformação o que Van Gennep didaticamente  batizou de passagens. Todos os eventos sociais marcam passagens. Em umas a comemoração pela mudança é festiva — o casamento por exemplo; em outros é de acomodação — o luto. Todas cumprem a função de nós ajudar a compreender e nos ajustar a  uma nova realidade.


Surpreende no livro, muito baseado em estudos de  sociedades primitivas, como  as passagens são variadas e diversas. O sexo, como não poderia deixar de ser, é encarado de tantas maneiras que surpreendem. A virgindade, a promiscuidade, a abstenção sexual ou o seu uso não é uma constante. Varia de cultura a cultura.


Não só as sociedade primitivas têm os seus ritos — e elas os têm em quantidade, mas também as desenvolvidas têm o seus. Quer sejam da vida pessoal, do social, do político e muito em especial do religioso.


Portanto, todas as atividades humanas têm ritos de passagem. Elas estão impregnadas na política, nas religiões, na vida em geral. Comemora-se feitos nacionais, como também datas religiosas. De todas as passagens a que melhor serviço presta ao psicológico das pessoas é o luto. As roupas pretas, as cerimonias religiosas, a reclusão…são instrumentos que ajudam a adaptação à nova realidade.


Conhecer o texto de Van Gennep é fundamental, pois com frequência somos confrontados com exemplos de “ passagens” e é necessário saber do que se trata. Não faltam comemorações a marcar eventos em nossas vidas que não façam parte de um rito de passagem , como ideia desenvolvida pelo autor.



Van Gennep é considerado entre os grandes autores que marcaram os estudos antropológicos. Nasceu na Alemanha, filho de mãe francesa, em 1873. Estudou em Lyon filosofia e matemática. Morreu na França em 1957. O seu livro mais importante, o que o fez notável, foi Les Rites de Passage — motivo desta resenha.



São Paulo, 22 de maio de 2024

Jorge Wilson Simeira Jacob


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