Um dilema primitivo
Desde que o homem existe persiste uma questão a ser resolvida: — quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha. Parafraseando esta dúvida milenar, o ilustre ministro do trabalho, o ex-sindicalista Luís Marinho ( o mesmo que “ensinou” que a semana de quatro dias não alteraria a produção de uma semana de cinco ) , critica a ignorância da maioria mundial dos bancos centrais, que combatem a inflação induzindo uma redução da demanda com aumento das taxas de juros, em vez de estimular os empresários a produzir mais.
Segundo o ministro, os banqueiros dos bancos centrais deveriam estudar economia, em uma crítica contundente da possível ignorância dos banqueiros , pois “ combater a inflação reduzindo a demanda com aumento de juros ( leia-se - desestímulo ao consumo ) é a forma burra de conter a inflação”.
A maneira inteligente é o aumento da oferta. Na sua lógica, ignora que não necessariamente o dinheiro colocado nas mãos dos investidores iria para o investimento e aumento da produção. O contrário seria o mais provável, que dinheiro fácil fosse alimentar mais consumo e, consequentemente, mais inflação.
O conceito consolidou-se na prática por inúmeras experiências. É tido como regra infalível de que o aumento dos juros do tesouro é eficaz no combate à inflação. Milton Friedman batalhou anos para convencer a intelligentsia internacional de ser a inflação um fenômeno monetário. Reduza a oferta da moeda e a inflação cai. Isto pelo simples fato de transferir o dinheiro do mercado para o tesouro. Ao aumentar as taxas de juros , os investidores ( que são essencialmente racionais ) tendem a poupar em vez de gastar.
Essa ( a tese de Friedman ) é uma ideia vencedora. Todos os países que adotaram a prática de “ gastar para gerar progresso” terminaram na hiperinflação como a Argentina e mesmo o Brasil antes do Plano Real. A Turquia tem praticado essa política com resultados inflacionários preocupantes. Acredita o presidente turco que os juros altos são a causa da inflação. O resultado tem sido a troca do dirigente do Banco Central turco como troca de camisa, devido aos seguidos fracassos.
O dilema de quem nasceu primeiro - o ovo ou a galinha - é primitivo como já está sendo de que estimular a produção com dinheiro barato geraria oferta, como o ministro quer ensinar para os bem sucedidos banqueiros centrais de todo o mundo.
Estimular um aumento de produção enfrenta alguns obstáculos que não devem ser desprezados. De partida há que se levar em conta a possibilidade de estarem os meios de produção operando no seu limite ou se há capacidade ociosa a ser utilizada. Outra questão fundamental são as diferenças de tempo entre o início da produção até o produto chegar as prateleiras das lojas. O processo produtivo necessita de oito meses , enquanto a reação do consumo é imediata. A consequência é acentuar o fator inflacionário.
Ademais e sobretudo importante é o fator confiança. Os empresários precisam confiar que haverá demanda adicional para investir e o mercado não apostará na queda da inflação para aventurar-se a um aumento expressivo dos seus investimentos se não acreditar na existência futura de demanda. Já o mercado pode não acreditar em queda da inflação pelo choque futuro de oferta. E o efeito expectativa é importante elemento no combate à inflação.
Não há rima mais adequada à arrogância do que a ignorância. E os banqueiros dos bancos centrais não são arrogantes, como regra , por isso não exibem o seu domínio da teoria econômica . Eles sabem muito bem distinguir entre o ovo e a galinha. Os banqueiros aprenderam bem com as ideias da Nova Matriz Econômica da Dilma Rousseff ( um desastre ) e não esqueceram nada das primitivas ideias populistas.
Com ideias como essas, combater a inflação apostando em potencial aumento da oferta é apostar na inflação .
São Paulo, 28 de março de 2024.
Jorge Wilson Simeira Jacob