Reductio ad absurdum.
A aritmética tem a “ prova dos noves” para verificar a exatidão das contas. A lógica, ramo da filosofia, que trata de ideias abstratas, tem como instrumento de aferição o método “ Reductio ad Absurdum” (redução ao absurdo). Um exemplo clássico deste método é a seguinte colocação:” Se Deus é onipotente, se tudo pode, ele tem a condição de criar uma pedra que ,de tão enorme, ele mesmo não pode levantar. Diante dessa impotência, evidencia-se que Deus não é todo poderoso”.
Situações menos importantes do que essa desafiam os mortais. Uma delas é a proposta de um ministro de reduzir a semana de trabalho a quatro dias, sem redução salarial. Segundo ele, não haveria nenhuma perda para a economia, pois, as empresas criariam mais postos de trabalho e nos dias de folga, as pessoas estariam movimentando os meios de diversão, alimentação, transporte… Ignorando os aumentos dos custos que inflacionariam os preços reduzindo o poder de compra.
Se a premissa do genial ministro estiver correta, aplicando a fórmula da redução ao absurdo, poderíamos reduzir a zero os dias de trabalho e a produção não seria afetada. Fica a prova tão evidente do erro de raciocínio, que até uma criança do primário desprezará a sua proposta. E a Reductio ad Absurdum prova a sua validade.
O citado ministro ignora que, em um mundo competitivo, há que se levar em conta a produção e também a produtividade. Um trabalhador chinês trabalha mais horas por semana que um ocidental, portanto, se a produtividade for igual ( sabemos que não é) a economia chinesa será mais competitiva que a nossa, por exemplo.
É sabido que temos um dos piores índices de produtividade industrial do mercado. É por mentalidades como essa que a indústria brasileira mal consegue vender para os próprios nacionais. Menos ainda exportar. Ao contrário da nossa agricultura, que somou condições naturais com gestão competente para ser motivo de admiração no mercado mundial. Com certeza na zona agrícola ninguém descansa três dias na semana e a produtividade é elevada por técnicas modernas de produção, que conseguem suportar os desafios da porteira da fazenda até o consumidor.
Os mesmos brasileiros que criaram uma agricultura imbatível poderiam criar uma indústria competitiva. O que faz o nosso industrial inferior ao estrangeiro? É o não ter uma vantagem competitiva, como tem a agricultura, para suportar o Custo Brasil. Morre a indústria diante da impotência frente uma burocracia infernal - leis trabalhistas, insegurança jurídica, juros elevados - que desestimulam os investimentos. Tudo resultando no já famoso custo Brasil. O pior é que são baixas as esperanças de uma melhora. O brasileiro gosta de complicar. Tudo aqui é difícil, nada funciona e nada é previsível. É como construir em um terreno movediço
A consequência dessa distopia é as nossas empresas morrerem cedo. Não chegam a completar a curva da experiência das congêneres do exterior. A importância da experiência está retratada na resposta de um industrial americano quando interrogado do por que a sua empresa era líder mundial na fabricação de cadeiras. Respondeu com singeleza: “ meu bisavô fazia cadeiras , meu avô e o meu pai também. E eu estou ensinando o meu filho como fazer melhores cadeiras. Simples assim”.
Somos um país complicado. Tão complicado que quando constatamos um absurdo, como o reconhecido pior sistema tributário do mundo, a título de simplificar, estamos adotando outro modelo ainda mais complicado. A Reforma Tributária , que deveria simplificar o atual, prevê uma transição por quase uma década. Neste período estaremos sendo vítimas de dois sistemas. Vamos trocar o ruim pelo pior. Que Deus tenha pena dos contadores, que terão um inferno para administrar; e dê saúde para os advogados tributaristas que terão muitas causas a defender.
Se a semana de quatro dias é igual a de cinco, a semana livre seria igual? Que responda o ministro.
Sao Paulo, 31 de outubro de 2023.
Jorge Wilson Simeira Jacob
Nenhum comentário:
Postar um comentário