Os Homens Que Vendem A Alma.
Contada como piada, mas na verdade um retrato do caráter dos humanos, é a história do conquistador barato abordando uma possível vítima. Ele insistente diz “ Você é muito bonita! Gostaria de levá-la para uma noitada. Vamos marcar? Ao que ela indignada refuta: “Sou uma mulher casada, tenho princípios éticos e morais, sou uma pessoa de convicções. Passe bem…”.
O conquistador não se deu por vencido e diz: “ Escuta a minha oferta. Eu lhe dou um casaco de peles e uma noite no Ritz” . Ela vira a cara com desprezo. Ele promete um automóvel. Nada. Aumenta a oferta até prometer 1 milhão de dólares, pagos adiantados. Ela balançou. E responde: “ Quando seria essa tal noitada?”
Foi surpreendida com a resposta: “ Nunca! Só queria saber o preço das suas conveniências para abrir mão das suas convicções. Agora sei: “você se vende por um milhão de dólares”.
Cabe perguntar como sequência desta pilhéria : Todos temos um preço para as nossas convicções?
Thomás Morus não. Foi decapitado por recusar-se a pagar esse preço. Lord Chanceler do Rei Henrique Viii - o barba azul - não abriu mãos do princípio da Igreja de ser o casamento um sacramento sagrado, ao recusar intermediar com o Vaticano a dissolução do matrimônio do rei. Ficou na história o seu encontro na prisão da Torre de Londres, quando a sua filha suplicava que cedesse ao desejo real para não ser decapitado . Argumentava: “ se não for por você, o faça por nós, a sua família”. Ele permaneceu irredutível: “ Minha filha, a grande maioria dos homens deixa-se levar pelas conveniências. Poucos, pela convicção. Eu quero ser um deles. E teve a cabeça decepada, mas não cedeu às conveniências. “Eu não vendo a minha alma!”
Aí estão dois casos, uma piada e um fato histórico , que fazem toda a diferença. Os homens de convicções são confiáveis. Pode-se prever as suas ações. Estão fundeados em bases sólidas , independentemente de estarem certos ou errados. Já os seres de conveniência não o são. Mudam de posição de acordo com o seu oportunismo. Se a nossa personagem que inicia este ensaio, tivesse como convicção a infidelidade e não a fidelidade, a sua decisão não seria incoerente. Seria natural. Mas as suas convicções eram relativas às oportunidades. Portanto, não há de haver razão para confiar num adepto das conveniências . Eles têm o seu preço para cada situação.
Na história da humanidade os homens de convicções fizeram a história, para o bem e para o mal. Os homens de conveniências só serviram para o mal. Como é natural somos governados pela maioria - os oportunistas, que agem de acordo com os seus interesses pura e exclusivamente. Raros são os líderes que se podem equiparar a um Thomás Morus. A maioria pauta-se como a moça da piada. Vendem até a alma.
É raro entre nós, dando destaque a prática política, heróis das convicções . Em recente entrevista a uma rádio gaúcha ,o Presidente Lula, entre outras das suas costumeiras escorregadelas, disse duas que desapontam. Disse ele : “ A democracia é relativa “ e “ acredito na democracia por conseguir me eleger, senão não acreditaria”. Em outra ocasião relativizou a condenação por crime de roubo de um pão . Se tudo é relativo, nada é absoluto - tudo é permitido. Nada é crime, nada é pecado.
Olhadas essas declarações , sob a ótica psicanalítica, elas serão classificadas como fortes sinais de um caráter moldado nas conveniências. As oportunidades determinam o curso das ações. Um pragmático vê o bom no que convém , independente de valores ético- morais. Um idealista, no que está de acordo com as suas convicções.
Como confiar em um homem que vende a alma?
São Paulo, 26 de julho de 2023.
Jorge Wilson Simeira Jacob