sexta-feira, 29 de julho de 2022

 Será o fim do mundo?



Em uma palestra, Larri Passos, famoso treinador do ainda  mais famoso tenista brasileiro, Guga, dizia que faltava aos jovens esportistas brasileiros resiliência. Exemplificava  ele, que dos seus três melhores alunos, o Guga era o mais fraco. Perdia todos os torneios enquanto os outros eram expoentes no tênis local. Acostumados a ganhar, quando foram submetidos aos torneios profissionais, não suportaram  a pressão e, após algumas derrotas, desistiram  de competir. Menos Guga, que treinado em fracassos, manteve-se disputando. E foi o que foi - número um do mundo. Guga foi mais uma prova de que o que faz o órgão é a função, como ensina a biologia. O que não se usa, atrofia. Assim também a personalidade!


Guga é uma excessão de uma atitude que está generalizando-se entre a nossa juventude. A falta de determinação de lutar por um objetivo. Prevalece na nova geração um  desinteresse por tudo - exceto os joguinhos no celular. Fazem as obrigações contrariados e não demonstram ambição de realização humana e profissional. Até nome eles já têm, os  “nem-nem”. Nem estudam e nem trabalham. Estão de braços cruzados como simples espectadores das benesses que talvez venham da família,  do governo ou do céu. São adultos que acreditam em Papai Noel. Não se sentem responsáveis nem por si mesmos , nem pela família e menos ainda pelo futuro do mundo. Alienados, cedem espaço para os robôs - a prole da inteligência artificial, que vai eliminá-los do mercado de trabalho.


Ainda que seja um truísmo, é pertinente lembrar que o futuro do país está nas mãos dos jovens, o que se torna motivo de preocupação. Eles não mostram interesse em tirar o título de eleitor enquanto não é obrigatório. Um analista mais apressado pode atribuir esta decisão à decepção com os nossos governantes. Um elemento a ser considerado levando-se em conta a biografia da maioria dos nossos políticos. 


Ainda que se tenha que considerar ser essa uma frustração, não só dos jovens, mas de toda a nação, não é razão para justificar a generalizada  apatia juvenil. Uma razão mais profunda deve ser investigada. Talvez Larry tenha a resposta. Os nossos cidadãos-atletas  não tiveram o aprendizado nas derrotas , que deram resiliência ao Guga. A nova geração da classe média e superior foi acostumada a colher sem plantar. O que lhes é mostrado nos  meios de comunicação é automóvel sem motorista, comunicação on time e gratuita, robôs para serviços rotineiros e inteligentes para substituir o cérebro humano, entregas de alimentos, ao toque de um  telefonema, sexo sem restrições …não  esquecendo do Viagra, que substitui a inapetência. Tudo fácil! Tudo à mão! Lutar para quê?




O mundo realmente mudou. Não sabemos para aonde vai nos levar. Mas uma verdade continua absoluta: o que faz o órgão é a função. Aquilo que não é exercitado atrofia-se. E isto está acontecendo com os nossos jovens. São poucos os desafios que têm que enfrentar. A lei do menor esforço impera. Não lêem. Não escrevem. Não encaram os interlocutores. Comunicam-se com siglas. Em uma linguagem primitiva, que lembra os índios do cinema de faroeste.


Enquanto os melhores alunos do Larri desistiram de competir, os jovens da classe média desistem de lutar pela vida. Ou mesmo da própria existência. O absenteísmo e a depressão estão nos mais altos níveis da história dos consultórios dos psicólogos. Não é raro um adolescente não ter a mínima preocupação com a escolha de uma profissão. 


Colocar um problema é o primeiro passo; equacionar para encaminhar uma solução, outro. Este equacionamento passa por chamar 

à responsabilidade os pais e os educadores. Sabemos não ser fácil cortar o celular de um filho. Razões para não fazê-lo são muitas: necessidade de comunicação, pertencimento à tribo, segurança… Enquanto que estabelecer limites e controles , é exasperante, pois a resistência de um adolescente é feroz. 


Neste mundo de facilidades as  colheitas serão de  dificuldades. Deixando  como está, nos resta aceitar a atual realidade e não se deixar levar pela surpresa de que os jovens não mostram interesse em votar, em estudar, em trabalhar e até em casar.

Será o fim do mundo…pelo menos como o conhecemos?



São Paulo, 14. 03. 22

Jorge Wilson Simeira Jacob



Em uma palestra Larry Passos, famoso treinador do ainda  mais famoso tenista brasileiro, Guga, dizia que faltava aos jovens esportistas brasileiros resiliência. Exemplificava  ele, que dos seus três melhores alunos, o Guga era o mais fraco. Perdia todos os torneios enquanto os outros eram expoentes no tênis local. Acostumados a ganhar, quando foram submetidos aos torneios profissionais, não suportaram  a pressão e, após algumas derrotas, desistiram  de competir. Menos Guga, que treinado em fracassos, manteve-se disputando. E foi o que foi - número um do mundo. Guga foi mais uma prova de que o que faz o órgão é a função, como ensina a biologia. O que não se usa, atrofia. Assim também a personalidade!


Guga é uma excessão de uma atitude que está generalizando-se entre a nossa juventude. A falta de determinação de lutar por um objetivo. Prevalece na nova geração um  desinteresse por tudo - exceto os joguinhos no celular. Fazem as obrigações contrariados e não demonstram ambição de realização humana e profissional. Até nome eles já têm, os  “nem-nem”. Nem estudam e nem trabalham. Estão de braços cruzados como simples espectadores das benesses que talvez venham da família,  do governo ou do céu. São adultos que acreditam em Papai Noel. Não se sentem responsáveis nem por si mesmos , nem pela família e menos ainda pelo futuro do mundo. Alienados, cedem espaço para os robôs - a prole da inteligência artificial, que vai eliminá-los do mercado de trabalho.


Ainda que seja um truísmo, é pertinente lembrar que o futuro do país está nas mãos dos jovens, o que se torna motivo de preocupação. Eles não mostram interesse em tirar o título de eleitor enquanto não é obrigatório. Um analista mais apressado pode atribuir esta decisão à decepção com os nossos governantes. Um elemento a ser considerado levando-se em conta a biografia da maioria dos nossos políticos. 


Ainda que se tenha que considerar ser essa uma frustração, não só dos jovens, mas de toda a nação, não é razão para justificar a generalizada  apatia juvenil. Uma razão mais profunda deve ser investigada. Talvez Larry tenha a resposta. Os nossos cidadãos-atletas  não tiveram o aprendizado nas derrotas , que deram resiliência ao Guga. A nova geração da classe média e superior foi acostumada a colher sem plantar. O que lhes é mostrado nos  meios de comunicação é automóvel sem motorista, comunicação on time e gratuita, robôs para serviços rotineiros e inteligentes para substituir o cérebro humano, entregas de alimentos, ao toque de um  telefonema, sexo sem restrições …não  esquecendo do Viagra, que substitui a inapetência. Tudo fácil! Tudo à mão! Lutar para quê?




O mundo realmente mudou. Não sabemos para aonde vai nos levar. Mas uma verdade continua absoluta: o que faz o órgão é a função. Aquilo que não é exercitado atrofia-se. E isto está acontecendo com os nossos jovens. São poucos os desafios que têm que enfrentar. A lei do menor esforço impera. Não lêem. Não escrevem. Não encaram os interlocutores. Comunicam-se com siglas. Em uma linguagem primitiva, que lembra os índios do cinema de faroeste.


Enquanto os melhores alunos do Larry desistiram de competir, os jovens da classe média desistem de lutar pela vida. Ou mesmo da própria existência. O absenteísmo e a depressão estão nos mais altos níveis da história dos consultórios dos psicólogos. Não é raro um adolescente não ter a mínima preocupação com a escolha de uma profissão. 


Colocar um problema é o primeiro passo; equacionar para encaminhar uma solução, outro. Este equacionamento passa por chamar 

à responsabilidade os pais e os educadores. Sabemos não ser fácil cortar o celular de um filho. Razões para não fazê-lo são muitas: necessidade de comunicação, pertencimento à tribo, segurança… Enquanto que estabelecer limites e controles , é exasperante, pois a resistência de um adolescente é feroz. 


Neste mundo de facilidades as  colheitas serão de  dificuldades. Deixando  como está, nos resta aceitar a atual realidade e não se deixar levar pela surpresa de que os jovens não mostram interesse em votar, em estudar, em trabalhar e até em casar.

Será o fim do mundo…pelo menos como o conhecemos?


Jorge Wilson Simeira Jacob


sexta-feira, 22 de julho de 2022

 AYN RAND E O OBJETIVISMO.


A Revolta De Atlas.

Amazon - 1.216 páginas 

R$ 49,92 - português 


Se houvesse a  decisão de construir um monumento aos  grandes pensadores da humanidade,  com estátuas de alturas proporcionais  às suas   estaturas intelectuais , certamente Ayn Rand seria a maior das representantes do sexo feminino. E não seria menor do que nenhum dos  maiores intelectuais do sexo masculino. Ela, com uma produção literária imensa,  conquistou merecidamente uma posição de destaque no mundo intelectual. Os seus livros foram  traduzidos em muitos idiomas. A Revolta de Atlas,  o mais divulgado dos seus textos, foi considerado o livro mais influente dos Estados Unidos pela livraria do Congresso Americano. Foi durante quarenta anos um best-seller,  com uma tiragem de mais de 35 milhões de exemplares. Só a Bíblia tinha mais leitores. 


A Revolta de Atlas narra  um momento em que os Estados Unidos, dominados pelo estatismo,  presencia o desaparecimento inexplicável das mentes mais criativas do país. A par de uma narrativa misteriosa e dramática, Ayn Rand apresenta a essência da sua filosofia: “a defesa da razão, do individualismo, da liberdade de expressão, assim como os valores em que o homem deve viver”.


Ayn Rand foi  uma pensadora seminal. Foi fundadora de uma corrente filosófica, que denominou  O Objetivismo, cuja essência é colocar cada indivíduo como responsável por suas ações tendo como valores supremos a  busca da liberdade e da felicidade. Ela valorizava o individualismo, que definia na ideia de que não se devia  cometer o erro dos ignorantes de pensar que um individualista é um homem que diz: “Eu farei o que quiser às custas de todos”. “ Um individualista é um homem que reconhece os direitos individuais inalienáveis do homem – os seus próprios e os dos outros”.Ela criticava todo tipo de coletivismo e estatismo, que incluía muitas formas de governo, como o comunismo, o fascismo, o socialismo, a teocracia e o estado do bem estar social ( welfare state ).





O individualismo, que Ayn Rand contrapunha ao coletivismo, certamente foi influenciado  pelo seu histórico de vida.  Filha de um modesto farmacêutico, de origem judaica, que perdeu todo o seu patrimônio na revolução comunista. Ela conheceu de perto os  males do coletivismo e da perseguição política, o que a fez  sair da Rússia para casa de parentes em Chicago. Não conseguindo nunca licença para a emigração dos pais. Nos Estados Unidos, com a sua sensibilidade de artista percebeu no  espírito individualista do povo americano a causa da sua prosperidade. E desenvolveu  a  sua escola filosófica. 


No seu início, como imigrante, ela iniciou  com Cecil B. De Milles a sua carreira de escritora, em Hollywood,  como roteirista de filmes. Com os sucessos dos  seus inúmeros textos, Ayn Rand tinha aparição frequente nos programas de entrevistadores da televisão. Os seus temas eram polêmicos como os textos dos seus livros: A Virtude do Egoísmo, Para O Novo Intelectual , A Nascente … e sobretudo o enredo do A Revolta de Atlas. Esta uma história  sedutora, daquelas que apaixonam o leitor, sobretudo por ser   rica em conceitos filosóficos em linguagem muito acessível. São mais de 1.200 páginas que dão vontade de ler sem parar.


 É nesse livro que se  lê uma   definição da autora ( nota minha - muito adequada ao Brasil ) que é muito citada: “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; ao comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e influência,  mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; ao perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto- sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.


 Para o Objetivismo , segundo a formuladora desta corrente filosófica: “A razāo é o único meio para perceber a realidade, a única fonte de conhecimento, o único guia de ação e o meio básico de sobrevivência”. O que vinha de encontro com o ateísmo da Ayn Rand.


São Paulo, 18 de julho de 2.022.

Jorge Wilson Simeira Jacob.


domingo, 17 de julho de 2022

 DA FICÇÃO À REALIDADE.



Flash Gordon , uma ficção criada para contar a  sua visita ao planeta Mongo e o encontro com o diabólico Imperador Ming, the Merciless. Este seriado era a grande diversão nos cinemas nos anos 1940. O herói encantava os jovens com o domínio  da comunicação instantânea e da locomoção interplanetária para combater o mal. Isto em uma época em que ninguém ousava imaginar transmissão de imagens pelo ar,  telefones sem fio e voos espaciais.  A comunicação das  emissoras de rádio transmitiam mais chiado do que voz humana. Os telefones eram um piada de mal gosto - poucos, caros e ineficientes. Os aviões voavam baixo, sendo mais um esporte do que um meio de transporte.


Era uma ousadia dos escritores de ficção insinuar a possibilidade da televisão, do telefone celular, dos robôs e do deslocamento  pelo espaço aéreo. Aquilo, que era tido como devaneio de loucos, hoje está à  mão. O homem já foi à Lua , o céu está saturado de satélites  e foguetes já desceram em Marte. Tudo mudou e com elas a primazia dos escritores de ficção científica que  cederam espaço para os novos visionários, os gênios da nova tecnologia.  


A internet  foi um  novo Big Bang. De lá para cá ,depois de grandes avanços,  seguiram-se os algoritmos e agora estamos entrando na fase da inteligência artificial. Os robôs ameaçam tornar o ser humano obsoleto. Eles  fazem de tudo… e melhor!  Nas fábricas, nos armazéns, na direção dos carros e na logística substituem com vantagem o trabalhador. Vão além. Substituem os médicos nos diagnósticos mais simples e os advogados nas questões correntes, civis e fiscais. E muito em breve estarão substituindo os religiosos nas igrejas, celebrando missa, distribuindo hóstias e dando a extrema unção. Parece ficção?!  Mas a ficção do passado é hoje a nossa realidade. 


Qual o papel do ser humano no futuro? 


Enquanto as máquinas proliferam, os casais não querem mais procriar. A população, principalmente quando enriquece, tende a decrescer. A China já estabilizou, sem controles de natalidade e sem ter ainda  tirado da miséria toda a sua  população. Nesta tendência estaremos caminhando para o fim da humanidade. Os robôs estão ocupando os espaços. A   Amazon tem uma fabricação  própria de robôs para operar os seus centros de distribuição e entrega de produtos. Além das suas lojas de vendas de alimentos sem gente, onde só não substituíram o consumidor. O Porto da Califórnia está totalmente robotizado. Neste mundo da robótica vai sobrar pouco espaço para os humanos, além dos seus vendedores só  os trabalhos de desenvolvimento, programação e manutenção dos robôs. Até que outros robôs os substituam.


Como toda inovação, a revolução tecnológica avança randomicamente . Acontece em setores , países e níveis profissionais diferentemente. Uns avançam, outros ficam temporariamente para trás, sem aos menos darem-se conta da sua obsolescência. Há na iniciativa privada muitas empresas  adequando-se e liderando com inovações. O que não acontece, como regra,  na administração pública. 


Este descompasso de estágios civilizatórios amplia o desajuste entre a administração pública e a privada. De um lado as empresas do setor competitivo estão modernizando  as suas operações, diminuindo a necessidade de espaço de escritórios, de fábricas,  reduzindo  pessoal, viagens e reuniões presenciais... Com custos menores e mais ágeis ,visando a produtividade, ficando mais competitivas. Enquanto a administração pública continua na mesma. Os seus custos e complexidade só aumentam. 


O setor público ficou para trás, continua  com os mesmos métodos e cacoetes do passado.Temos um choque cultural   entre o setor público e o privado, que deverá rebelar-se contra essa ineficiência e  atraso.Não faz mais sentido não termos eliminado, trocando por processos tecnológicos, a administração pública. Se podemos ter as urnas eletrônicas nas eleições e o Big Brother do Banco Central para controlar as movimentações financeiras, por que não ter processos eletrônicos para simplificar e enxugar o restante da  máquina do governo? 


Flash Gordon , de uma ficção virou uma  realidade. A modernização do setor publico, outra ficção , um dia terá que tornar-se  uma realidade, desinchando a obesa administração do governo. Desejável que seja antes do fim da humanidade.



Jorge Wilson Simeira Jacob



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quinta-feira, 7 de julho de 2022

  A INDIGNAÇÃO FOI GERAL.



No passado, as mulheres tinham  com o  engravidar um grande problema. Não só  lhes tirava a  liberdade de determinar o tamanho da prole como as privava do sexo por simples prazer.  Tinham como alternativas à abstinência: ou enfrentar os  inúmeros partos  ou os   abortos com risco de vida. Muitas que engravidavam solteiras eram severamente punidas pelas famílias, que não aceitavam um bastardo ; como pela sociedade que as considerava vadias; e como pelos jovens que exigiam a virgindade como condição básica para casar. Quantas foram internadas em conventos e tiveram que doar os rebentos? Diz a história que Luís XIV, O Rei Sol , teve um filho de cor - que foi desterrado. Teria tido como pai um dos servidores  da rainha. 


As  medidas anticoncepcionais conhecidas eram o coito interrompido, pouco seguro como se sabia, ou as tripas de animais, substituídas  nos tempos  modernos pelas popularmente conhecidas camisinhas. Uma série de ervas e crenças eram adotadas , mas os resultados eram pífios. Na idade média ficaram  famosas  as nobres da corte da Lucrécia Bórgia, que tinham   como método para ter uma vida extraconjugal, aproveitar-se da gravides para trair os maridos. Usavam a gravidez para dar vazão aos seus instintos. Como as gravidezes eram sucessivas  os tempos de abstinência sexual eram poucos. Ai a  libertinagem era total.


Com o advento da pílulas anticoncepcionais, que ensejou a liberação sexual, o sexo ficou livre e seguro. Hoje as meninas iniciam as atividades sexuais na puberdade, sem precisar casar. A evolução da ciência afetou a profissão mais antiga do mundo, matou os prostíbulos, onde os jovens saciavam as suas necessidades e retardou os casamentos. Além de gerar um fato duplo: a redução da idade para a perda da virgindade das mulheres e o aumento da idade para os casamentos. Morreu de morte natural o tabu da virgindade.


Tudo na vida é relativo. A contrapartida à atual e desejada liberdade sexual das mulheres foi ,de um lado,  a eliminação da disposição dos jovens a casar cedo e ,de outro,  o “ encalhe das moças ”. Casa-se mais tarde e a prole é limitada. A gravidez foi substituída  pela pílula anticoncepcional como solução ao sexo livre. A população mundial tende a decrescer. Fala-se até em acabar pela redução da procriação. O que é agravada pela  onda da aceitação geral e crescente  do homossexualismo, que não procria.  Era de esperar-se que a experiência íntima, antes das núpcias,  resultasse em menor número de rompimento do contrato matrimonial. Mas, não . O número de separações aumentou. Os divórcios cresceram.  Chama a atenção os matrimônios duradouros. Parece que, de ambas as partes, o tempo tido para conhecer o universo dos parceiros e a própria experiência pré-nupcial não garantem um casamento “até que a morte os separe”.


Essa situação não passa desapercebida para as mães de filhas casadoiras . Não é incomum nas reuniões de amigas o inconformismo com as filhas solteiras sem terem um parceiro fixo. Elas como dizem: “ vão ficando” . Em uma ocasião. Um grupo de senhoras discutia o caso. Diziam elas que , nos tempos normais ( para elas estes são tempos anormais ) as moças namoravam firme antes dos 18 anos e casavam até os vinte e dois. Tendo casado cedo, tinham tempo de ver os herdeiros crescidos ainda na relativa mocidade. Eram avós antes dos cinquenta anos. Agora, concordavam todas, tinham em casa moças lindas sem nenhum pretendente à vista. Não entendiam e, portanto, não se conformavam.


Um dia, em uma reunião dessas, uma mãe manifestando-se surpresa  por não ter um genro em vista, dizia - minha filha é uma moça bonita, tem curso universitário, cultiva as melhores etiquetas sociais, tem uma cultura literária e musical como poucas e já viajou conosco por todo o mundo. Acreditem, nunca teve um namorado e nem “ficou” com nenhum rapaz. O que acontece? Dá para acreditar que os moços estão cegos para a beleza, para  os dotes intelectuais e a moral elevada?


Na roda delas era uma voz só: todas tinham casos iguais. E eram unânimes em assumir que as filhas não ambicionavam  nem um rapaz rico e muito menos casariam por sexo. Queriam um companheiro para dividir as coisas da vida. Se nem riqueza e nem sexo eram desejadas, por que não encontravam um bom partido? Perguntavam.


Um passante, marido de uma delas. Ouvindo a conversa, intrometeu-se e disse: -  ouvi o motivo das suas inquietações. Vou meter o bedelho, sem ser chamado,  por ter a solução para uma das suas filhas. Tenho um afilhado solteiro muito bonito, simpático e elegante. Tem finesse! Depois de viver a  vida intensamente resolveu que vai escolher uma moça como essas que vocês descrevem para formar um lar. Eduardo é o nome dele. Edu na intimidade. Filho de pais riquíssimos, trabalha como hobby, não necessita. E faz questão de seguir uma vida de luxo. Mora só em uma mansão com seis empregados, não perde um concerto musical ( aliás toca piano como um virtuoso ), frequenta só os melhores restaurantes e viaja frequentemente para o exterior. Faz questão de conhecer todos os países do mundo. Edu é um  filho amoroso e dedicado. Está aí a caça que vocês procuram! Posso ajudá-las?


Durante as descrições da personalidade do Edu, todas, mas todas sem exceção, balançavam as cabeças e imploraram : - apresente esse seu afilhado para as nossas filhas. Podemos marcar um jantar em casa com todas para que ele escolha uma delas. Temos certeza de que ficará encantado com as nossas meninas.

Uma pergunta, porém, fez uma delas: por que, com tantas qualidades e virtudes, o Edu conseguiu não  casar?


Minhas senhoras, disse o padrinho, não faltaram pretendentes. Mas Edu sempre recusou-se a casar com uma interesseira. Quer amor puro. Para ele só é amor de verdade se  não está condicionado à riqueza — detesta as mercenárias;  as focadas  em sexo— , repudia a luxúria; e as egocêntricas — que só pensam em si mesmas, não respeitam a liberdade de escolha dos parceiros. Uma das escolhas do Edu é um costume do qual não abre mão: dorme de camisola rosada com rendinhas da mesma cor.


A indignação foi geral: - CAMISOLA ROSADA COM RENDINHAS ?! Não isso é demais! JANTAR CANCELADO!


São Paulo, 06.07.22

Jorge Wilson Simeira Jacob




sábado, 2 de julho de 2022

 A CIDADE DO AMOR.



Shakespeare, com o drama romântico Romeu e Julieta,   imortalizou Verona como a cidade do amor. Uma  história trágica de  amor de adolescentes impossível por  pertencerem  à famílias inimigas. Um romance que ganhou notoriedade com filmes de cinema ,  músicas e teatro*. Uma história que retrata uma situação comovente, que ganha força por ter  um texto muito bem elaborado.  Romeu e Julieta tornaram Verona o palco de um  grande amor.


A suposta casa de Julieta em Verona, um sítio turístico aberto ao público, recebe milhões de visitantes de todo o mundo. As paredes do  pátio , para onde dá  o terraço em que Julieta “aparecia” para Romeu, estão coalhadas de mensagens de amor dos turistas-visitantes. É tanta a devoção a esse romance que tudo parece ter sido verdadeiro e não uma  fantasia Shakespeariana.


Mas não só a casa dos Capuletos  inspira os românticos. Toda Verona emite um ar   propício ao amor. Uma agradável cidade de 250 mil habitantes, milenar - 01 d. C. , situada no Vêneto, Itália, entre Milão, Bergamo, Parma e Veneza. Todas acessíveis para um passeio de um dia. Verona é tranquila e segura para caminhadas. Clima ameno no verão.  Cercada de muralhas milenares e tendo ao centro, na Praça Bra, a mais bem conservada Arena romana existente, onde, além das visitas turísticas, são apresentados espetáculos artísticos famosos em todo o mundo.


 As  dezenas de restaurantes que circundam a arena fervilham de gente bonita e elegante de todas as idades, que varam a madrugada. As casas servem a rica culinária do norte da Itália, especialmente a requintada cozinha típica veronese . Assim como  os seus  vinhos de alta reputação:  Valpolicella Ripasso, um vinho leve que harmoniza bem com molhos vermelhos  e o extraordinário e único  Amarone,  fermentado com uvas quase passadas,  bom para ser degustado no céu de tão perfeito.


No Festival de Ópera**  a cidade fica em clima de festa. E as pessoas,  inebriados pelo ar  de contagiante felicidade.  Verona é a cidade do amor! E a ópera é a expressão mais alta da arte. Nela encontram-se a música, o canto, a dança, a acrobacia , a representação, o recitativo e a encenação. Nenhuma outra representação artista equipara-se à ópera. E o melhor dela pode ser visto nas temporadas, em julho e agosto, quando em todas as noites são encenadas as mais bonitas óperas do repertório lírico. Em um rodízio de quatro noites, uma diferente obra  é apresentada aos seus 22 mil espectadores. O anfiteatro repleto de gente elegante e bonita de todo mundo, tem como teto um   céu azul-noite estrelado. O palco de duzentos metros permite a exibição de um coral de 200 cantores, uma orquestra completa e cenários criativos, ricos e monumentais. Geralmente  obra artística de Zefirellli. A acústica  é perfeita e um letreiro exibe, no alto da Arena, legendas   do enredo em inglês. Mas,  muito mais do que um evento artístico ,o Festival de Ópera de Verona é um grande acontecimento social.




 Há uma versão que diz ter sido o diálogo cantado um recurso adotado na corte francesa para despistar a gagueira de um rei. Verdade ou lenda, mas a ópera surgiu no século XVIl , na Itália. Grandes compositores dedicaram-se à ópera, destacando-se Wagner, Rossini, Bizet, Puccini, Verdi e tantos outros. Lembrando ainda das operetas, mais leves e românticas, cujo expoente foi Franz Lehar , autor da Viúva Alegre e Frederich Lower, da My Fair Lady . No seu auge , a ópera e a opereta, propiciavam prestígio e dinheiro a   seus compositores. Com o passar dos tempos a ópera perdeu admiradores. Ficou restrita a uma elite. E deixou de atrair os compositores. Hoje poucas são as óperas modernas com notoriedade, como a linda Porgy and Bess de Gershwin


Uma opção interessante para iniciação no mundo da ópera são os vídeos de árias famosas no YouTube. A escolha pode ser, pelo nome da ópera:  - Carmen de Bizet, Butterfly e La Boheme, de Puccini, Aida,  a Força do Destino e Nabuco,  de Verdi, Sansão e Dalila,  de Camile Saint-Saëns ou as mais complexas óperas de Wagner; -  ou pelos artistas :  os tenores Jonas Kaufman, Carreras, Pavarotti e Villazon; as sopranos Anna Netrebko, Elina Garanca e Aida Garifullina. Esta de uma elegância sem par no mundo da moda.


Em Verona - a cidade do amor, e na Arena -  a opera,  a mais completa expressão da arte,  encontram-se para celebrar o amor. Todos os românticos estão convidados.



*  nota - assistir na YouTube   Il Melro Maschio, comédia erótica filmada em Verona, com Landa Buzanca e Laura Antonelli . Ouvir a Fantasy Ouverture Romeu e Julieta de Tchaikovsky. 


** Programação do Festival: www.arena.it



Jorge Wilson Simeira Jacob

Publicado no Jornal Opçāo,

Coluna Contradiçāo, em 03.06.22