domingo, 15 de maio de 2022

 


A liberdade para escolher.


Adaptação da canção:  Você já foi à Bahia, nêga?

Dorival Caymmi


Você já leu Milton Friedman, nêga?

Não?

Então lê!

Quem lê, minha nêga,

Nunca mais vai esquecê.

Muita sorte teve,

Muita sorte tem,

Muita sorte terá

Você já o viu no YouTube, nêga?

Não?

Então vê!

Você já leu A Liberdade pra escolhê?

Lá tem bom senso pra dá e vendê.

Não?

Então lê!

Lá tem ironia,

Lá tem empatia.

Se quise aprendê

Então lê!

Com a sua sabedoria

Dá lições de economia

Tudo, tudo nas suas aulas

Faz a gente  o bem querê.

Friedman  tem um jeito,

Que todo  professor quer tê!

Ele tem ideias claras, 

Domina a boa  didática

Faz simples a matemática.

Ele tem carisma,

Não deixa sisma,

No free lunch não crê!



 Caymmi, na sua linda música: você já foi à Bahia? cantou os encantos da sua terra. Eu, modestamente,  conto  o meu encanto com os textos do Milton Friedman. Mas sou entusiasta dos dois encantos. A Bahia sabe viver. Sorri  da vida. Não se leva a sério, pois deste mundo nada se leva. Sabe ser a existência uma ilusão. Ao contrário de Friedman que só ri das falácias. Leva tudo a sério.  A realidade é o que conta. Não se deixa levar pelas ilusões. Você já foi à Bahia? Não! Então vá! La tem tudo para você ser feliz. Você já leu os livros de Friedman? Não! Então leia! Lá tem muito para fazer mais esclarecidos os seus leitores.  Os seus textos são densos de bom senso e sabedoria. São lições imperdíveis. Não tem balangandãs como as baianas. Nem oferecem almoço grátis . Mas tem boa dose de ironia e bom humor. Faça um primeiro contato com o pensamento do Friedman vendo a sua série Free to choose  ( ou no livro A Liberdade para Escolher, em português ) e as  diversas entrevistas no YouTube. Será um passeio no mundo da lucidez. Como bom didata, Friedman não perde, na sua coerência, o fio da meada. Não se atém aos atalhos das falácias e nem se perde pelo canto das sereias. É tão coerente e seguro que dispensa ser amarrado ao mastro do navio para não se deixar encantar, como Ulisses. Nenhum entrevistador, em sua longa carreira, nunca o tirou da razão pura, da lógica perfeita.


Friedman surpreende com a  sua capacidade de isolar-se emocionalmente para  analisar racionalmente os fatos. Tem a virtude de   abstrair-se para  à distância para melhor analisá-los. A par de ser um pensador basilar, Friedman foi um gênio da comunicação. Genial  por ser capaz de transformar o complexo em simples, como, por exemplo, na aula sobre as   quatro maneiras de usar o dinheiro: - “quando você gasta o seu dinheiro em seu benefício; - quando usa em benefício de terceiro; - quando gasta o dinheiro de terceiro em seu benefício; - e quando gasta o dinheiro de terceiro em benefício dos outros”. Para provar o acerto da tese, basta pensar na prática destas quatro hipóteses. Na primeira, somos muito cuidadosos e na última muito menos. Portanto, se alguém preza o seu dinheiro, não deve delegar a decisão da sua aplicação à terceiros , menos ainda à burocracia governamental. 


A sua  aula sobre a função dos preços é magistral. Para muitos, o preço é só o valor a ser pago por um bem. Mas Friedman vai além. Esclarece  que o preço é um instrumento essencial para o funcionamento da economia. Qualquer interferência no sistema de formação dos preços, tem efeitos na cadeia produtiva.  O que pudemos comprovar no nosso desastroso tabelamento dos preços e no  colapso econômico da União Soviética. Sem um sistema de liberdade de determinação de preços,  a produção e a distribuição dos bens fabricados ora excediam ora ficavam aquém das necessidades. A improdutividade era a tônica da União Soviética, sem  preços de livre mercado fica impossível administrar a economia, como amargamente descobriram os economistas russos,  que não leram Friedman. Ele explicou, como ninguém, de maneira simples e convincente as virtudes da economia de mercado, nas suas aulas em A Liberdade para escolher.


Jorge Wilson Simeira Jacob

Publicado no Jornal Opção,

Coluna Contradicao, em 15.05.22

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