domingo, 8 de maio de 2022

 Da anarquia ao burocratismo.



Segundo o Gênesis,  no  início  era o  caos. Nada existia. Tudo foi criado. Estabeleceu-se a ordem. Surgiu depois a sociedade humana. Nos princípios, sem organização, vivia-se  sob  o regime anárquico. Não havia autoridade, nem leis e nem ordem. A primeira ordenação  social foi a família. Para  sobreviver,  unem-se em tribos para defender-se da  força bruta adversária. Organizam-se sob a liderança dos mais experientes, os mais velhos. Nasce a gerontocracia. Outros  modelos de convivência vão sendo decantados. Com o tamanho e a quantidade de tribos, criam-se as nações. O Estado, a nação politicamente organizada,  torna-se desejado. Na sequência ,   diversas modalidades  são praticadas: -  a Teocracia, legitimado pelo carisma de divindades; - a Autocracia, pelo domínio  da força; a Aristocracia, governo de uma classe; a Oligarquia, governo de poucos; e a Democracia, governo da maioria.  Sob qualquer  destes  está formatado  um Estado, cujos governos  dependem de uma burocracia para emitir as leis e os  regulamentos para a  desejada convivência social. 


A burocracia, como classe,  é  um bicho que vive na sombra. Passa despercebida. As suas ações são invisíveis, pois, com a  mão de gato, manipulam os governos a quem servem. A burocracia tem vida própria. Alimenta-se, ao pretender impor a ordem, a criar regras restringindo o espaço dos cidadãos e atendendo primeiramente aos  interesses da própria classe.  A justificativa da sua existência, vendida à opinião pública como legítima, é coibir a natureza humana, que naturalmente é abusiva e propensa a avançar os limites da convivência. Como se não fossem humanos feitos com o mesmo barro da dos governados. Têm as mesmas sementes da virtude, do desprendimento e do patriotismo, mas têm também as mesmas dosagens de egoísmo, de rapacidade e da lei do menor esforço. É da natureza humana está condição. 


A burocracia cresce exponencialmente abarcando mais e mais poder,  ao criar leis para tudo e para todos. Se não se lhes impõe limites, de uma necessidade para ordenar a vida em sociedade, tornam-se um mal. São como os alimentos pobres em nutrientes  em que a energia ingerida é inferior à consumida na digestão. O burocratismo, que é o excesso de burocracia, são pobres de energia e levam, se não contidos,  a economia à anorexia. Deveriam, por isto,  merecer dos governos controle constante - o que não acontece.



Os governos gostam de gastar. Têm razões para esta atitude. Eles não encontram resistências nem na sua própria vontade e nem dos eleitores, que enchem as urnas dos governos gastadores. Raros são os que equilibram os orçamentos cortando as gorduras dos orçamentos. A regra é o aumento dos impostos. O antídoto a esse vicio perdulário, de tirar sem limites de uns para agradar outros, é o Princípio da Subsidiariedade, que é colocar o poder decisório onde ocorre o fato, e melhor fiscalizado . Por exemplo: em vez de dar uma cesta básica, o certo é dar uma Bolsa Família, em vez da escola grátis, um voucher educação… O cidadão sabe melhor que um burocrata em Brasília qual é a melhor escola, a melhor cesta básica. Se temos ( e devemos ) de ajudar os que não têm condições mínimas de sobrevivência, que o façamos respeitando o seu livre arbítrio. 


Na guerra do Iraque, as tropas americanas, quando tiveram que lutar no deserto, ficaram imobilizadas. Não conseguiam usar as botas, que tinham as solas unidas por pregos. Estes aqueciam no calor da areia e queimavam os pés. O burocrata que comprou as botas no ar condicionado,  em Washington,  não sabia nada  do calor escaldante da areia do deserto onde seriam usadas as botas. 


E assim  caminhou a humanidade, evoluindo negativamente da anarquia, uma situação indesejada, para o burocratismo, outro mal indesejado. As nações que não combateram o burocratismo, que  cresce como um câncer, são as que comprometeram o livre arbítrio e o desenvolvimento econômico.  As que escaparam dessa armadilha são as que cultivaram o Princípio da Subsidiariedade e descobriram que  o melhor governo é o que menos governa.


Saímos do céu, evitando a anarquia e estamos terminando no inferno do burocratismo.



Jorge Wilson Simeira Jacob

Publicado no Jornal Opção,

Coluna Contradição, em 08.05.22



Nenhum comentário:

Postar um comentário