sábado, 19 de abril de 2025

 



Os desafios americanos

 



Uma metáfora que devemos ter  presente é de ser a vida como as águas  de um rio que  ao rolar  provocam contínuas mudanças. A cada espaço à frente tudo pode mudar. Nada é permanente. Assim é a vida. A cada dia, curvas e encruzilhadas mudam o curso da história colocando-nos diante de  circunstâncias muitas vezes imprevisíveis. 


É nos momentos críticos da nossa vida que devemos lembrar de que as coisas ruins como também as boas podem mudar. Se nos momentos difíceis esta ideia nos traz esperanças, nos favoráveis, prudência. As nossas reações correm o risco de serem estremadas, pois elas são exacerbadas diante de  mudanças radicais  podendo nos levar a decisões equivocadas.


Ainda que indesejáveis, terremotos acontecem.  Não só os de natureza geológica, mas de muitas outras causas. Um destes, presente em nossos dias, é o provocado pela ação intempestiva do presidente Trump. Sem mais essa e nem aquela, ele com a sua obsessão  por tarifas, colocou o mundo de ponta cabeça.


Os desdobramentos da sua declarada guerra contra o mundo ainda são imprevisíveis. Muitas empresas americanas, principalmente as pequenas e médias, dedicadas à importação da China — que são inúmeras — poderão fechar; muitos empregos serão perdidos, matando  sonhos de muitas pessoas;  e as relações geopolíticas nunca mais serão iguais. 


Certamente, como em outras ações desastradas na história, como as aventuras de outros megalomaníacos como Stálin, Hitler, Mao Tse Tung, causaram muito mal, mas foram superadas pela extraordinária capacidade humana de adaptação. As sociedades que melhor reagem aos “terremotos” são as baseadas em maior liberdade, que facilitam  mudanças comportamentais por serem mais flexíveis.


Os desafios americanos


Trump chegou ao governo da mais poderosa nação do mundo com poderes nunca antes obtido por um presidente americano. Elegeu-se presidente com maioria no Senado, na Câmara e na Suprema Corte, o que, a par da sua megalomania, está levando-o à uma postura imperial/ditatorial.


Entretanto, ( por  não saber ou não querer assumir )  blefa como jogador agressivo de poker, exibindo   um poder que não mais corresponde à perdida hegemonia americana. Atualmente existe  um contendor, a China, que está determinado a pagar para ver as cartas.


As cartas da China são boas. Ela é uma potência econômica: em 2025 tinha em  reservas  3, 2 trilhões de dólares dos quais  762 bilhões de treasures do tesouro americano; exporta 20%  do seu PIB, sendo só 2,8 % para os Estados Unidos; domina tecnologia de ponta… É um poder econômico respeitável. 


Ademais têm um poderio militar considerável e uma liderança política que não depende da opinião pública, não tem eleições populares para influenciar as suas decisões. É uma ditadura com poder para enfrentar desafios externos sem constrangimentos internos.


Na nova configuração geopolítica, a China está se tornando herdeira das vítimas de Trump. A brutalidade cria ressentimentos e abala a credibilidade.


A impertinência de Trump, determinando ditatorialmente a China a revogar a equiparação das suas  tarifas às americanas, não condiz com a conduta de quem alardeia ser um bom negociador. O resultado foi o esperado — péssimo.


A nação que ele herdou enfrenta dois desafios: déficit  fiscal insustentável ( 1 trilhão de dólares/ano ) e outro tanto  na balança comercial. Segundo  Elon Musk, o país caminhava para a falência, pois estes duplos déficits são insustentáveis. 


Se o desafio é inegável e estava a exigir uma correção. A guerra mundial, tributando abusivamente as importações e vilipendiando os parceiros comerciais, foi uma opção que mais parece a metáfora do sujeito que ao jogar fora a água suja do banho, lança fora também a criança . 


A decisão é equivocada, pois não ataca a causa real do déficit nas transações internacionais. Não será com protecionismo, ideia testada inúmeras vezes por adeptos  do Mercantilismo,  que nunca deu bons resultados.  


Ao contrário, foi a globalização, propiciando aumento das trocas internacionais, que colocou os Estados Unidos como potência econômica.


O segundo desafio, o déficit orçamentário e a insuportável dívida do tesouro, Trump está enfrentando colocando  nas mãos de Elon Musk a operação DOGE ( departament of government eficiêncy) para eliminar 1trilhao de dólares/ano de dispêndio do Tesouro, equivalentes ao déficit corrente. 


Uma ação que tem se mostrado necessária , pois é a redução dos gastos públicos, um governo mínimo, que fará a nação americana superar os seus dois desafios e não as bravatas do Trump.


O pior que pode acontecer.


Ao abandonar a liderança da ordem mundial, compreensivelmente pelo esgotamento do tesouro, Trump deverá desencadear um movimento de rearmamento nuclear. 


O mundo está ficando mais perigoso. Movimentos de anexações de territórios como Taiwan pela China; Ucrânia pela Rússia; Gaza por Israel; e as ameaças à Groenlândia, Canadá e Panamá devem preocupar os  responsáveis pela soberania destes países. 


Como também não será despropositado o Brasil ver uma ameaça à Amazônia.


As perspectivas hoje são preocupantes. Mas como as águas de um rio a cada curva e encruzilhada elas mudam o seu curso. 


Como os Estados Unidos é uma democracia, com instituições que funcionam, em 18 meses os eleitores americanos vão eleger os seus legisladores. Espera-se que o check and balance funcione e ocorra  uma redução no poder de Trump. 


Qualquer governo  com poder absoluto é indesejável. Como ensinou Machiavel: ao dar poder a um homem  é que se descobre o seu caráter”.  Trump, com poder, mostrou ser  brutal e imprudente.


 Com isso as águas do rio tornarão a  rolar no seu leito natural.



São Paulo, 09 de abril, de 2025.

Jorge Wilson Simeira Jacob 













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