O APOCALIPSE
Desde que a humanidade existe o aumento demográfico tem sido uma constante. Não por menos a organização da nossas vidas está baseada nesta premissa. Tudo ou quase tudo baseia-se na crença do aumento populacional. Como o mundo progrediu correlacionamos este fenômeno ao crescimento populacional. Acostumamo-nos a avaliar o progresso dando mais valor ao aspecto quantitativo ( maior população ) em vez de atentarmos para o qualitativo ( marco civilizatório). Trocamos qualidade por quantidade.
Com o dinamismo da vida, muita cousa está em processo de mudança. A tendência ao crescimento populacional começa a perder força. Nas camadas mais educadas, principalmente nos países mais civilizados, a curva demográfica está sofrendo grande queda. A liberdade sexual, os métodos anticoncepcionais, a libertação das mulheres, o custo de educação e saúde da prole estão influenciando o seu crescimento.
Alterações de política governamental começam a adaptar-se aos novos tempos. Consciente de problemas à frente a China, que sob o comunismo , limitava a família a um único filho, hoje estimula o aumento das famílias. São premiadas financeiramente aquelas que tem três herdeiros. Há previsões de que, sem alterar as variáveis , no ano 2050 esse país terá a metade da atual população.
A Europa, com um índice de natalidade que roda em torno de 1,1 a 1,3 filhos por casal, olha com esperança para os imigrantes. Os seus números são inferiores aos 2,1 necessários à manutenção da população existente. O Brasil com um número de 1,8, não só não se atenta ao problema como está se tornando um país de emigrantes jovens. Por miopia não temos uma política de incentivo para atrair o imigrante qualificado.
Enquanto a população do mundo desenvolvido decresce a do subdesenvolvido cresce. A Índia neste ano superou a China como o mais populoso país do mundo. E a África mantém os níveis elevados históricos. Acentua-se , assim, o aumento do desequilíbrio populacional entre as áreas mais e as menos civilizadas.
Esses dados preocupam quem olha além dos números frios e entrevê os desdobramentos sobre a atual organização sócio-econômica. Os mais apressados podem até prever a chegada do apocalipse. Pois, mantidas as tendências, o quadro futuro será de enorme desequilíbrio: aumento da proporção entre as classes inferiores e as superiores ; a diminuição da proporção de jovens nas populações; e o aumento da população idosa. Como toda a nossa estrutura sócio-econômica baseia-se em uma massa crescente de jovens para suportar os custos previdenciários, e estes crescendo exponencialmente, levarão à falência o sistema, mantidas as condições atuais. Não só o sistema previdenciário sofrerá , mas também a saúde pública e a necessidade de mão de obra.
Quem vai cuidar e manter os velhos?
Se antes o apocalipse , segundo as previsões de Malthus, estaria no superpovoamento, tornado insuficientes os recursos do planeta, o que poderia ser evitado se se seguisse, segundo ele, as seguintes práticas:
- As famílias devem ter poucos filhos, apenas os que conseguem sustentar;
- Os casamentos devem acontecer quando os noivos estiverem mais velhos para terem menos filhos;
- Não deve haver relações sexuais antes do casamento para não ocorrer o perigo de se ter filhos;
- Não se pode ajudar os pobres para que estes não se reproduzam e gerem mais pessoas;
- É necessário que a previdência social seja abolida nos períodos em que não houver guerras, pestes ou fome, para que a mortandade da população cresça.
Independente das ideias do malthusianismo, que foram superadas pela produtividade agrícola, e pela redução natural das proles, que levadas ao extremo, ameaçaria o fim da humanidade, já corremos o risco de sermos uma sociedade de mais avós do que de netos. Com o agravante do aumento da proporção das massas mais atrasados sobre os civilizados.
Esse Apocalipse , se acontecer, poderá ser o fim da humanidade como a conhecemos. Será o fim não por falta de produção, como temia Malthus, mas pela falta de gente.
São Paulo, 24.02.2023.