sábado, 25 de fevereiro de 2023

 O APOCALIPSE 


Desde que a humanidade  existe  o aumento demográfico tem sido uma constante. Não por menos  a organização da nossas vidas está baseada nesta premissa. Tudo ou quase tudo baseia-se na crença do aumento populacional. Como o mundo progrediu correlacionamos este fenômeno ao crescimento populacional.  Acostumamo-nos a  avaliar o progresso dando mais valor   ao  aspecto quantitativo ( maior população ) em vez de atentarmos para o  qualitativo ( marco civilizatório). Trocamos qualidade por quantidade.


Com o dinamismo da vida, muita cousa está em processo de mudança. A  tendência ao crescimento populacional começa a perder força. Nas camadas mais educadas, principalmente nos países mais civilizados, a curva demográfica está sofrendo grande queda. A liberdade sexual, os métodos anticoncepcionais, a libertação das mulheres, o custo de educação e saúde da prole estão influenciando o seu crescimento.


Alterações de política governamental começam a adaptar-se aos novos tempos. Consciente  de problemas à frente  a China, que sob o comunismo , limitava a família a um único filho, hoje estimula o aumento das famílias. São premiadas financeiramente  aquelas que tem três herdeiros. Há previsões de que, sem alterar as variáveis , no ano 2050 esse país terá a metade da atual população.


A Europa, com  um índice de natalidade que roda em torno de 1,1 a 1,3 filhos por casal, olha com esperança para os imigrantes. Os seus números são inferiores aos 2,1 necessários à manutenção da população existente. O  Brasil com um  número de 1,8, não só não se atenta ao problema como está se tornando um país de emigrantes jovens. Por miopia não temos  uma política de incentivo para atrair o  imigrante qualificado. 


Enquanto a população do mundo desenvolvido decresce a do  subdesenvolvido cresce. A Índia neste ano superou a China como o mais populoso país do mundo. E a  África mantém os níveis elevados históricos. Acentua-se , assim, o aumento do desequilíbrio populacional entre as áreas mais  e as menos civilizadas.


Esses dados preocupam quem olha além dos números frios e entrevê  os desdobramentos sobre a atual organização sócio-econômica. Os mais apressados podem até prever a chegada do apocalipse. Pois,  mantidas as tendências, o quadro futuro será de enorme desequilíbrio: aumento da proporção entre as classes inferiores e as superiores ;  a diminuição da proporção de jovens nas populações; e o aumento da população idosa.  Como toda a nossa estrutura sócio-econômica baseia-se em uma massa crescente de jovens para suportar os custos previdenciários, e estes crescendo exponencialmente, levarão à falência o sistema, mantidas as condições atuais. Não só o sistema previdenciário sofrerá , mas também a saúde pública e a necessidade de mão de obra.


  Quem vai cuidar e manter os velhos? 


Se antes o apocalipse , segundo as previsões de Malthus, estaria no superpovoamento, tornado insuficientes os recursos do planeta, o que poderia ser evitado se se seguisse, segundo ele,  as seguintes práticas:


  • As famílias devem ter poucos filhos, apenas os que conseguem sustentar;
  • Os casamentos devem acontecer quando os noivos estiverem mais velhos para terem menos filhos;
  • Não deve haver relações sexuais antes do casamento para não ocorrer o perigo de se ter filhos;
  • Não se pode ajudar os pobres para que estes não se reproduzam e gerem mais pessoas;
  • É necessário que a previdência social seja abolida nos períodos em que não houver guerras, pestes ou fome, para que a mortandade da população cresça.

Independente das ideias do malthusianismo, que foram superadas pela produtividade agrícola,  e pela redução natural das proles, que levadas ao extremo, ameaçaria o fim da humanidade, já corremos o risco de sermos  uma sociedade de mais avós do que de netos. Com  o agravante  do aumento da proporção das massas  mais atrasados sobre os civilizados. 


Esse Apocalipse , se  acontecer, poderá ser  o fim da humanidade como a conhecemos. Será o fim não por falta de produção, como temia Malthus, mas pela falta de gente.


São Paulo, 24.02.2023.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

 A EDUCAÇÃO 



Todos nós temos, ao longo da vida, crises de  timidez. Ninguém passa ileso. Na puberdade,  principalmente , ela aflora . A insegurança está na sua causa. Podemos nos intimidar, esta é a origem do termo, frente á situações desconhecidas, como também naquelas em que estamos familiarizados,  mas sentimo-nos inseguros. Ainda que habituados, não estamos livres dela se  uma sensação de inferioridade nos inibe. O tímido usa do  silêncio ou da fuga, como defesa, para não expor o que acredita ser uma sua fraqueza.


Existem dois tipos principais de timidez, de acordo com a psicologia: a timidez crônica e a timidez situacional. Timidez crônica é caracterizada por ser um quadro constante, no qual a pessoa apresenta dificuldade em expressar suas emoções e opiniões em praticamente todos os aspectos da vida social e profissional.O único recurso para superar esta timidez é enfrenta-la. Fugir só reforça o sentimento. O que exige características de personalidade e inteligência capazes de se livrar das pressões externas.


A timidez situacional é a superada com a repetição da mesma situação. Só se manifesta em determinada circunstância , por isto classificada como situacional . Na medida em que o indivíduo supera o constrangimento, a timidez deixa de existir. 


A timidez tem a ver com a educação, que afeta mais ou menos as pessoas dependendo da suas características de personalidade. Há temperamentos mais ou menos sensíveis às críticas e restrições. São os pais  muito exigentes, críticos de todas as possíveis falhas dos filhos que os criam inseguros , tendendo à timidez.


Essa reação  apresentar-se-á sempre que o indivíduo — criança ou adulto —  é colocado em posições passíveis de críticas. Falar em público, estar em uma reunião com desconhecidos … entre outras formas de exposição, são fatores desencadeadores da timidez.


A puberdade é a fase em que mais sofre o tímido. Este limiar entre ser criança ou adulto,  com o acréscimo da autocrítica tornam o púbere mais frágil. A timidez cobra preço elevado, pois inibe as ações das suas vítimas. Ela pode prejudicar  as relações sociais, profissionais e amorosas… enfim a  vida.

Para o bem dos indivíduos, a  educação restritiva deve ser evitada. O que não é fácil , pois o desejo de pais bem intencionados  é criar um “ser perfeito”. E quanto mais querem corrigir os desvios dos filhos, principalmente alguma característica que não aprovam em si mesmos, mais críticos se tornam. Quanto mais projetam em si mesmos  “erros”  dos filhos; quanto mais procuram ver nos filhos/as  aquelas qualidades que gostariam de ter e não tem,  mais rigorosos são . 



A contrapartida a uma educação restritiva é a  licenciosidade. São os casos de  pais omissos que criam os filhos “soltos” — onde tudo é permitido e nada é censurado. O resultado sao indivíduos egocêntricos,  desrespeitosos, que comportam-se como  centro do mundo e “merecedores” de todas as atenções.


O processo de educação é como uma corrente: um elo puxa o outro. Segue de geração a geração. Os educados em um dos regimes — restritivo ou licencioso — tendem a reproduzir  os mesmos métodos nos seu processo educativo, Dificilmente  um filho de pais  autoritários deixará de ser um autoritário.  Como também nunca um indivíduo criado de pais liberais deixará de valorizar a liberdade. 


O ideal da formação do  ser humano é a busca da autonomia. Segundo Kant (1724-1804) :   “autonomia  é a capacidade da vontade humana de se autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante, tal como uma paixão ou uma inclinação afetiva incoercível, consciente da sua individualidade”.


A educação, de forma geral, é mais  restritiva no mundo em geral   em relação a dos países anglo-saxônios. A diferença fundamental está na crença na liberdade individual. O individualismo está na base dessas culturas. Se enunciar as duas correntes de comportamento pode ser fácil , podendo até ter as suas técnicas, a correta medida entre a liberdade e a licenciosidade  é uma arte. Difícil, portanto, estabelecer as dosagens. Seria como na pintura ou na musica, em que se  pode transmitir uma técnica, mas nunca a arte.


Felizmente, a natureza nos proveu da : - inteligência para superar as barreiras que nos incomodam; -  e do sentimento do amor, que compensa os nossos erros como educadores. Diz bem a sabedoria popular: - amor com amor se paga. 


A educação : o que é feito com amor com amor é avaliado.




São Paulo, 21 de novembro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob

domingo, 12 de fevereiro de 2023

 KIBUTZ


O fim do Império Otomano aconteceu com a sua derrota na Primeira Guerra Mundial. A partir daí a Grã-Bretanha administrou o Oriente Médio até o final da Segunda Guerra Mundial. Ao contrário dos otomanos, os britânicos facilitaram  a aquisição de terras por organizações sionistas internacionais, que desejavam estabelecer um Estado de Israel. O retorno à Terra Prometida e as perseguições aos judeus na Rússia Imperial, deram impulso à imigração.


O Holocausto, que tanto sensibilizou o mundo,  propiciou a criação do Estado de Israel : como ideal religioso — o retorno à Terra da Promissão — e como uma visão política — desejo de um lar seguro. A Grã-Bretanha, diante da pressão da comunidade judaica pela criação de um estado judaico na região, e sob o lema romano de “dividir para governar” , criou  três estados na região, entre eles  um território judeu.


Uma organização sionista internacional financiou a criação de núcleos judeus na então Palestina. Estes, influenciados pelo socialismo da URSS e pelo espírito religioso, organizaram-se em sociedades coletivistas — os Kibutzim  (em hebraico, estabelecimento coletivo, comunidade voluntária onde as pessoas vivem e trabalham sem competir entre si).


O kibutz surge como uma forma de coletividade comunitária israelita. Apesar de existirem empresas comunais em outros países, em nenhum outro as comunidades colectivas voluntárias desempenharam papel tão importante como o dos kibutzim em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu. Um  Kibutz era uma forma mais segura de viver no meio de um ambiente hostil.Uma razão pela qual os socialistas apoiaram muito Israel em suas primeiras duas décadas de existência é que os kibutzim representavam o socialismo em sua mais pura forma.




Os idealizadores dos Kibutzim , influenciados pela experiência das suas vidas nas terras de origem, onde eram tratados como escravos, elegeram o ideal socialista da igualdade. No princípio,  praticavam a lei do marxismo :  “de todos de acordo com as suas possibilidades e para todos , com as suas necessidades”.



A prática, porém, ao longo do tempo não sobreviveu à realidade. Os Kibutzim, como todas as organizações humanas, foram adaptando-se às características da natureza do homem. Não só as ambições dos mais capazes pedia diferentes participação nos resultados, como também os núcleos foram desenvolvendo vocações diferentes. De unidades fundamentalmente agrícolas, tornaram-se prósperos empreendimentos comerciais e industriais. 


Também o pouco estímulo ao uso econômico dos recursos, desde que a comida, a água e a energia elétrica eram gratuitas, ensejava desperdícios indesejáveis. Instituído a cobrança individual das contas , os kibutzniks precisavam  de fato de ter  dinheiro pessoal. O refeitório também foi uma das primeiras coisas a mudar. Quando a comida era "gratuita", as pessoas não tinham incentivo para pegar o montante apropriado. Cada refeitório de kibutz terminaria a noite com quantias enormes de comida a mais; geralmente essa comida era dada aos animais. Agora, 75 por cento dos refeitórios de kibutz são pagos conforme o consumo em lanchonetes a la carte. Foi a volta ao individualismo.



Fazendo de muitos deles  empreendimentos deficitários, que tinham que ser subsidiados pelo governo ou pelo sionismo internacional. O ímpeto inicial — heroico — do fervor religioso foi sendo abatido pelo individualismo. O socialismo só sobrevive em núcleos muito pequenos, como a família, mas assim mesmo se há uma união muito forte em torno de valores e princípios.


Os Kibutz não foram exceção. Passada a fase histórica do fervor religioso que durou algumas décadas, foram sendo abandonados. Foi mais uma ideia romântica fracassada da eliminação do individualismo em benefício do coletivismo. Destas experiências a mais duradoura foi da própria URSS, mas mantida debaixo de forte pressão policial, que sobreviveu pela força até que “as suas vítimas a derrubaram”.


Segundo a Wikipedia, “ em 1950, 65 mil pessoas, cerca de 5% da população nacional, viviam nessas comunidades, que permaneceram populares até a década de 1980, quando enfrentaram a pior inimiga do socialismo, que é a realidade!


Embora o primeiro sinal de problemas no paraíso tenha sido a revolta contra a criação coletiva de filhos, Joshua Muravchik, que documentou a ascensão e queda do kibutz, explica que havia outra força poderosa que os utópicos não levaram em consideração: o crescente desejo das mulheres por terem roupas próprias, em vez de usarem peças de propriedade coletiva. Como alertaram os pioneiros, isso abriu uma Caixa de Pandora de individualismo. Se você pode possuir trajes, por que não produtos de higiene pessoal, móveis ou até geladeiras? Confirmou-se o óbvio, ou seja, as pessoas fazem melhor uso do dinheiro quando ele é seu.


A sequência foi que os mais talentosos e esforçados começaram a sair do sistema, o que foi um golpe para o movimento. Os kibutzim começaram a empregar gerentes externos e a atribuir salários de acordo com os níveis de habilidade, algo contrário aos seus princípios socialistas. Em uma resposta reveladora à pergunta do ensaio “No socialismo, quem vai tirar o lixo?”, eles começaram a contratar mão de obra não qualificada. 


A partir daquele momento, a maioria dos kibutzim privatizou-se, dando a cada membro o direito a suas residências e uma participação individual em sua fábrica ou terreno. Apenas alguns ainda aderem aos ideais comunais tradicionais, geralmente os religiosos.


De fato, não apenas o kibutz quase desapareceu totalmente como foi concebido, mas toda a nação de Israel moveu-se significativamente na direção dos mercados livres”. 


Os Kibutz foi um laboratório de mais uma experiência coletivista fracassada!


São Paulo, 16 de novembro de 2022.

Jorge Wilson Simeira Jacob