quarta-feira, 30 de outubro de 2024

 O mercado não valida monopólios perenes


A soberba é um pecado  severamente punido pelo mercado. Este pecado induz à arrogância  que tem sido cometido pelos Estados Unidos no uso do seu poder econômico e financeiro. Se até agora tudo parecia estar no melhor dos mundos, a recente declaração do candidato Trump à presidência do seu país mostra que a “ ficha caiu”.


Trump, em recente palestra em Chicago, diante da queda do volume das  reservas internacionais, fruto da reação dos países de procurarem alternativa ao dólar, vociferou que punirá aqueles que abandonarem o dólar como moeda de troca e de reserva. Ameaça ele tributar em 100% as importações americanas oriunda dessas origens. 


Segundo ele, esses países terão que se curvar à força. Esta é uma demonstração de que, se antes, o dólar era uma opção conveniente, agora passará a ser uma pílula a ser engolida  a seco. Nesta coluna do Jornal Opção, em 14 de julho de 2024,o meu  texto nomeado como God Save the Dollar, alertava do risco que corria o dólar. Só não previa que os Estados Unidos sentissem o custo dos seus abusos tão cedo.


Alguns fatores explicam as razões para o temor do ex-presidente Trump: 


 - o fim do acordo do Petrodólar ( Arábia Saudita contratou há cinquenta anos a só negociar o seu petróleo em dólar); 


 - o bloqueio das contas da Rússia como pressão à guerra da Ucrânia;


 - o crescente endividamento do Tesouro Americano, que ameaça a paridade do dólar, colocando em dúvida a sua confiabilidade;


 - o potencial conflito com a China que a fez trocar as suas reservas em dólar por ouro;


 - e, o Fatec, que na linha de “ seguir o dinheiro “ policiou todas as transações financeiras do mundo em combate ao terrorismo e evasão de divisas. Interferindo na soberania de países, que  como paraísos fiscais, serviam a indústria financeira internacional;


Assim como na física, na economia também as ações provocam reações de igual magnitude e intensidade. Todos as nações afetados,  direta ou indiretamente por   bloqueios das suas reservas, um abuso na administração do dólar, reagiram buscando alternativas. O que criou oportunidade para a China, hoje a maior economia do mundo, promover a sua moeda como alternativa ao dólar.


A soberba americana os levou a subestimar as reações ao uso e abuso do dólar como instrumento político. A  moeda está sendo usada  como arma de guerra. Enquanto havia a hegemonia do dólar, não havendo alternativas, o mundo engoliu  as suas imposições. Com o advento da China, ameaçando o poderio ímpar dos Estados Unidos na economia e nas finanças, chegou a hora de acordar.


 O dólar representava 85% das reservas globais em 1970, proporção que caiu para 58% hoje, de acordo com o FMI. O euro representa 20%, contra um volume ainda insignificante das demais moedas. Trump promete punir quem abandonar o dolar (https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/10/16). Um grande equívoco. A decisão correta seria restabelecer a neutralidade do dólar. Deixar de ser arma política e alavancagem dos déficits públicos do país para reconquistar a preferência do mercado.


Mas, ao invés de ouvir a regra do mercado, pelo menos  o candidato,  Trump adota uma postura intervencionista, de força, que vai bater contra as regra de mercado, que por dinamismo natural, não valida monopólios perenes — o mercado é como se diz da justiça: tarda mas não falha. É questão de tempo para o dólar ter que arregaçar  as mangas e competir  pela preferência do mercado. Está à vista o fim do dólar como instrumento de poder dos Estados Unidos.


São Paulo, 16 de outubro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob









sábado, 26 de outubro de 2024

 Laissez - faire


Colbert, poderoso ministro do rei Luiz XIV da França, no século XVII,  interessado no desenvolvimento econômico, reuniu os mais importantes empresários do país e lhes propôs ajuda: “ o que eu posso fazer para ajudá-los?”. Legende, um comerciante, teria dito: “laissez faire, laissez aller, laissez passer, le monde va de lui-même”, que é traduzida para “deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo”. A expressão também é conhecida na forma grafada com hífen (laissez-faire).


O dito do empresário  Legende  em poucas palavras, consubstancia uma teoria econômica, que propõe uma diminuição da interferência política. Assim, restringe-se também a atuação do Estado na economia. Caberia ao poder público apenas a fiscalização e regulamentação.


Foi Adam Smith,  o mais importante teórico do liberalismo econômico, que teorizando sobre “ a mão invisível” afirmou :  "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu "auto-interesse".  Assim acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores”. Laissez-faire, disse ele!


Laissez-faire passou a ser uma  chamada à ordem dos adeptos da economia de mercado. É a  ação individual que propicia o melhor para todos. A contrapartida, a crença de ser o governo o indutor do desenvolvimento só tem acumulado fracassos. Os governos são o retrato no espelho do fracasso empresarial. 


Infelizmente o Brasil não aprende com os erros. Os nossos governos acreditam que,  substituindo a “ mão invisível” pela do governo, estão tirando o país da miséria e da péssima distribuição de renda. 


Uma lista dos empreendimentos governamentais fracassados — se somados —  certamente causariam espanto. São refinarias no Rio de Janeiro e em Recife, é a fracassada “ brincadeira “ de produzir sondas e navios ( Sette Brasil ) , é a aventura com o monopólio da informática para produzir computadores ( Cobra ) … e por aí se foram bilhões de dólares de prejuízo. Sem esquecer o fracasso à proteção da indústria nacional e a zona Franca de Manaus — que depois de décadas só servem para onerar o consumidor nacional.


A China tornou-se um exemplo vivo por ter vivido, em menos de um século,  as duas situações. Sob o regime comunista ( estado empresário ) só gerou miséria e sofrimento à sua população. Com parcial liberação da economia ( laissez-faire ), em três décadas coloca o país como a maior economia do mundo. Além de poder ostentar o título de ser o país que mais cidadãos tirou da miséria. A mão invisível fez rica uma nação que a mão do governo tinha feito pobre e injusta. 


Quem não aprende com os erros está sujeito a repeti-los. É o que estamos insistindo em fazer no Brasil. O governo continua a acreditar ser o indutor do desenvolvimento — vem aí a indústria naval 2 ( a número 1  faliu com 20 bilhões de prejuízo) , como um exemplo. Melhor seria “ deixai fazer, deixai ir, deixai passar, o mundo vai por si mesmo” para vencermos uma estagnação da economia que comemora quatro décadas. 


São Paulo, 17 de julho de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob


sexta-feira, 18 de outubro de 2024


 O Brasil está no caminho certo?


Segundo John Dewey ( 1859-1952 ) , filósofo e educador americano, na avaliação de uma situação,  o que deve ser levado em conta é a tendência. Se ela está melhorando, não importa quanto mal está …tudo está bem; se está piorando, não importa quanto bem está … tudo está mal.  Diz ele: nas análises, o que deve prevalecer é a tendência.


Com vista a essa lição filosófica de Dewey, pensando o cidadão brasileiro, devemos, tomar como ponto de partida os dados presentes, registrados no gráfico impresso, abaixo,  sobre o histórico da renda per capita de alguns países e acrescentar  a previsível continuidade das nossas práticas políticas para avaliar a  previsível  tendência .


O Brasil não aparece bem na foto. O  resultado é deprimente. Só a Venezuela — exemplo de um desastre de administração pública, destaque internacional  de atraso na gestão da economia — teve pior desempenho que nosso país. Até a desastrosa Argentina saiu-se melhor do que nós. Portanto, o ponto de partida não referenda as políticas adotadas para melhoria da renda per capita dos brasileiros ( RPC ).


Válido esclarecer a diferença entre a  RPC e o PIB. A RPC indica a situação econômica do universo em questão — os cidadãos . Difere  do produto interno bruto (PIB) que atenta para a riqueza da nação. São critérios distintos. A RPC diz respeito à situação dos indivíduos, que como mostra o gráfico, piorou, ainda que o PIB tenha crescido.


A RPC é o resultado do PIB dividido pela população. Se o primeiro cresce, como tem acontecido no Brasil, mas o aumento da população a supera, o resultado é queda da RPC. Em outras palavras, se o  bolo cresce, mas aumenta  a população, as fatias individuais diminuem. O que  significa empobrecimento, como mostra o gráfico abaixo. 


O Brasil ficou mais rico no último decénio, mas os brasileiros ficaram mais pobres no período. Andamos para trás. 


Qual a tendência?


Se os dados passados não refletem o futuro, como ensina o mercado financeiro, mas eles podem  ser uma tendência se não houver alterações nos fatos causais.


Uma foto do presente tendo em vista as estruturas políticas do Brasil e a governança previsível mostra que as causas do nosso subdesenvolvimento não serão alteradas de forma substancial para mudar a curva descendente da RPC. Os países que enriqueceram os seus cidadãos adotaram como política instituições confiáveis, incentivo à livre iniciativa, respeito à propriedade privada e valorização do mérito, que provaram ser a razão do enriquecimento  das nações. Elas não dão mostras que serão implementados na administração do país em horizonte previsível.


Ao contrário, o atual populismo acrescenta distorções na economia em escala peronista: há bolsa para tudo. O intervencionismo, a insegurança jurídica e sobretudo a corrupção decorrente de um governo balofo estão no DNA do país. Esta política somada à  proteção aos improdutivos, paga com o suor dos produtivos, é o caminho da redução da RPC. A tendência, em se fazendo mais do mesmo, como é previsível,  é termos a reprodução do gráfico abaixo nos próximos dez anos.


O Brasil não escolheu ainda o caminho certo. Portanto, segundo Dewey, estamos mal.


São Paulo, 18 de outubro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob




sábado, 12 de outubro de 2024

 A lei da oferta e da procura


           Nova York tem uma lei contra extorsão, segundo a qual as empresas estão proibidas de cobrar “preços exorbitantes inescrupulosos" durante distúrbios anormais de mercado. Depois de um embate, houve um acordo pra que a Uber limitasse o preço dinâmico. Além disso, a empresa se ofereceu pra doar 20% de suas rendas adicionais durante esses períodos para a Cruz Vermelha Americana – claramente tentando limpar sua barra. 


             Luciana Seabra, Cartas Sem Amarras




Quem lê o período acima,  aprovando a ideia , desconhece a função do preço na economia de mercado , não tem conhecimento  e por isto deve considerar adequada e mesmo racional essa lei nova-iorquina. No entanto, ainda que bem intencionada,  ela presta um desserviço ao mercado — aos consumidores e fornecedores. Ao interferir na liberdade de determinação de preços, o governo impede o equilíbrio entre procura e oferta, tirando o dinamismo do mercado.


A empresa Uber ou qualquer outra ao ajustar os seus preços à demanda força o  ajuste entre oferta e procura. Quando os preços estão mais baixos,  devido à pouca demanda, mais consumidores tendem a usar o serviço não deixando ociosa a frota de veículos. Ao contrário, quando os preços estão mais altos os usuários tendem a se adaptar buscando outros meios de transporte ou outro horário mais econômico.


A economia funciona melhor em ponto de equilíbrio. Se as empresas não conseguem melhorar o seu ganho nos momentos de pico, não poderão, sem risco de quebrar,  operar preços mais baixos em momentos de pouca demanda.O resultado da média é o ideal.



Milton Friedman, no seu livro  A liberdade de Escolher, foi muito didático ao explicar a função do preço na economia. Mostrou que mais do que simplesmente estabelecer   o valor de um  bem ou serviço, o preço é o único sinalizador capaz de com simplicidade transmitir a infinidade de informações do mercado para orientar os produtores e consumidores .  Nenhuma mente humana é capaz de dominar todas as variáveis de itens que compõem o preço de um produto. 


A economia , como a natureza, se deixadas sem interferência externas ao mercado, sempre tendem ao equilíbrio entre a oferta e a procura, fazendo que nem faltem bens e serviços e nem sobrem . O ideal para todos é que não faltem os produtos que deseja e nem sobrem nos estoques dos produtores. O que gera em uns  frustração e nos outros prejuízos.


Sob um ponto de vista “ estático ” , que olha o fato como uma fotografia, nada mais natural do que censurar o oportunismo dos fornecedores de bens e serviços ao aumentar os preços em momentos de aumento da demanda.  Ainda que nenhum destes críticos pagaria os mesmos preços em momentos de baixa demanda quando sobram ofertas. Acreditam eles ser justo não pagar mais quando há escassez, mas não pagariam mais em situações  de crise de mercado.


Já olhando com uma visão “dinâmica” , como assistindo a  um filme, é  do interesse da economia que os   agentes econômicos ajustem  os preços de acordo com a demanda. Preços mais baixos, quando a demanda cai, estimulam o consumo e alertam os produtores a reduzir a oferta — reequilibrando o mercado. Tanto o excesso de produção sem consumo, como a procura sem a devida oferta são desperdícios econômicos.


Quando os preços sobem, os consumidores, por racionalidade,  mudam de comportamento substituindo o produto ou racionando o seu uso. E os fornecedores, diante de melhor remuneração, aumentam a oferta. Muitas vezes tornando viável o uso de insumos antes considerados elevados diante do valor final do produto acabado. 


A lei contra extorsão nova-iorquina é um tiro no pé. Prejudica o dinamismo do mercado. Equivale à pretendida lei de um  genial deputado que, inconformado com a inflação de preços,  propôs aos seus pares  uma lei  revogando a  lei da oferta e da procura.


 Haja ignorância!


São Paulo, 03 de julho de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob


domingo, 6 de outubro de 2024

 Democracia, o Deus que falhou.


A democracia  como regime político existiu na Grécia antiga, mas como uma aristocracia. A república  democrática , com voto universal, foi adotada há dois séculos, com a Constituição americana após o fim da colonização inglesa. Até a primeira guerra mundial de 1914 existiam apenas três repúblicas na Europa: França, Suíça e Portugal. Até então predominavam as monarquias.



Até 1914, Ao término da primeira guerra mundial, vencida com a importante participação dos Estados Unidos da América, este o único país a não sair falido na guerra, as monarquias cederam lugar a democracias. Foi o fim do Império Otomano , Austro-húngaro e da queda da monarquia russa. Portanto, exceptuado o histórica da experiência democrática popular nos Estados Unidos, este regime foi exercitado tão somente há um século. O que, como experiência histórica,  é uma vida curta, ainda  que o comunismo tivesse conseguido  comprovar a sua inviabilidade em apenas setenta anos. Isto devido ao fato de que uma experiência que violenta a natureza humana precipita os resultados.


A democracia veio como alternativa à monarquia. O governo, nos primórdios da experiência democrática, custa à nação cinco por cento do produto interno bruto ( PIB)— sendo dois e meio por cento para as despesas com a defesa nacional e o restante para sustentar a máquina governamental. Hoje, o governo dos  Estados Unidos apodera-se de quarenta por cento do PIB. Sem isto significar que os princípios da Constituição do país — vida, propriedade e liberdade. estejam melhor assegurados.


Ninguém mata mais americanos do que as suas guerras de conquista; ninguém saqueia mais o direito de propriedade do que os seus impostos e tributos; ninguém restringe mais a liberdade do cidadão americano do que as milhões de leis e regras impostas pelo governo. A democracia , aqui tomada como exemplo por sua temporalidade e importância, está se encaminhando para a obsolescência. Esta é o leit motife do texto do livro : Democracia, o Deus que falhou.


Este livro  explica que  “a democracia é uma máquina de destruição de riqueza, de desperdício econômico e de empobrecimento; e ele a identifica como uma causa sistemática de corrupção moral e degeneração. Em suma: a democracia é mostrada como

uma forma “branda” – e especialmente insidiosa – de comunismo”.


 Ao mesmo tempo, este livro apresenta “uma rigorosa defesa da instituição da propriedade privada, demonstrando que ela é uma condição necessária para a paz e a prosperidade duradoura”.


Hans-Hermann Hoppe, autor do Democracia: o Deus que falhou, texto que está disponível a ser baixado gratuitamente no site do Instituto rothbard ( https://rothbardbrasil.com ) ou na Amazon, $67,90, 372 pág. é uma bem fundamentada crítica ao regime democrático. O texto, muito erudito, faz repensar as nossas verdades. Estamos tão impregnados pelas louvações a este regime que perdemos o senso crítico. E o autor, ainda que não se concorde com ele, deve ser ouvido por todos os que aceitam repensar as suas verdades. 


Ele tem o que dizer e o faz com competência. Á abandonada monarquia, Hoppe, atribui o mérito de ser um regime em que o monarca absolutista , administra como proprietário privada o seu território, cuidando  da sua melhoria e expansão . Já a democracia é administrada como uma propriedade pública, pois os governos são transitórios,  só cuidando do imediato desconsiderando a importância das ações de longo prazo.


Deve ser entendido não ser este livro uma defesa da monarquia. Na verdade, é uma defesa ao esvaziamento dos estados – tanto os monárquicos quanto os democráticos – e a

sua sucessiva substituição por uma sociedade de leis privadas, por uma“ordem natural”. 


São Paulo, 11 de agosto de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob

domingo, 29 de setembro de 2024

 A democracia.


A democracia é o governo do povo, para o povo e pelo povo.

Discurso de Gettysburg, A.Lincoln


Os jovens não conhecem a fantástica história do Cacareco. Era uma rinoceronte fêmea do Zoológico do Rio de Janeiro emprestada ao Zoológico de São Paulo que nas eleições municipais de outubro de 1959 da cidade de São Paulo  recebeu cerca de 100 mil votos para vereador. 


À época, a eleição era realizada com cédulas de papel e os eleitores escreviam o nome de seu candidato de preferência. Cacareco foi um dos mais famosos casos de voto de protesto ou voto nulo em massa da história da política brasileira, uma vez que se tornou a "candidata" mais votada do pleito: o partido mais votado no total de todos os candidatos não chegou a 95mil votos.


Ao anuncio da chegada do animal, que foi muito divulgada na imprensa, os muros da cidade, como deboche,  sugeriam o voto no Cacareco para vereador. Na mesma linha, anos  depois os votos de protesto elegeram com expressiva votação para  deputado federal o palhaço Tiririca, cujo e slogan era — “com  Tiririca , pior não fica”.


O voto de protesto ou nulo,  em uma figura caricata,  um animal,  um palhaço ou um aventureiro, é um instrumento do cidadão para demonstrar a sua insatisfação com o governo. Na época, votar no Cacareco era um protesto contra a baixa qualidade dos candidatos e da qualidade de vida.


Agora a historia se repete. Estamos em plena campanha eleitoral e assim   como no  passado a população esta desiludida dos políticos e insatisfeita, no plano federal,  com a degradação moral, a corrupção e uma política econômica equivocada, que não dá esperanças de dias melhores.


No  plano municipal, na cidade de São Paulo, a frustração com o governos municipais se dá pela  piora das condições de vida: não há segurança pública, os bandidos tomaram conta da cidade; a pavimentação parece uma peneira; o trânsito exige horas para se  percorrer poucos quilômetros… e por aí vai. Há consciência de que os   políticos  só   fazem politica pela politica. Não há um único item pelos quais se mede a qualidade de vida a merecer um elogio.


No meio político, tudo   se resume á próxima  eleição. Em uma inversão da célebre definição de Abrahão Lincoln: a democracia tornou-se 

um governo dos políticos,  pelos políticos  e  para os políticos. Nesta simulação de democracia ao  povo só sobram as  migalhas.


É com este pano de fundo, que gera a insatisfação atual com os governantes, que teremos as eleições municipais paulistana. A novidade foi o surgimento de um outsider a despontar  nas pesquisas de intenção de voto. Pablo Marçal, um influenciador, vindo de Goiás, não da África e nem de um circo, catalisa os votos dos descontentes. Um desconhecido sem passagem pela política, sem o apoio dos caciques partidários, sem freio na boca , que, nas entrevistas, agride de forma irreverente os jornalistas e os seus adversários para gáudio dos não esquerdistas.




Independente da qualidade do seu programa, uma piada, do seu Curriculum, questionável,  dos caciques dos partidos, na oposição, mas com uma legião de seguidores e   uma campanha agressiva contra o establishment, muitos eleitores ( que repudiam o atual estado de cousas  ) pretender  votar nele. É uma repetição do fenômeno Cacareco e Tiririca. É um protesto em forma de voto.


Na sua sabedoria o povo acredita que Deus escreve reto em linhas tortas. A eleição de um adventício, que não faz parte do sistema, que não se curva a uma ideologia socializante e não abaixa a cabeça à imprensa comprometida, pode ser — ainda que não faça um bom governo — uma escrita reta em linhas tortas. Não dá esperança de um bom governo, mas de ter melhores candidatos no futuro. Oxalá os partidos e os políticos respeitem a  democracia de Lincoln que é o governo do povo, para o povo e pelo povo.


São Paulo, 14 de setembro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob