sábado, 25 de janeiro de 2025

 



A natureza não dá saltos



É uma regra sem exceções o fato “ de que a  natureza não dá saltos. Ao longo da historia, inexoravelmente , ela segue uma ordem natural. Sem interferência exógena, ela não se desvia do seu curso. Não só a natureza tem leis de vida. A sociedade, como convivência entre os homens; a economia, como administração das limitações de recursos, também têm as suas próprias leis.


Nem a ordem social  e nem a economia dão saltos. É essa natureza, que deve ser respeitada,  que  Albert Hirschman trata em seu  livro A retórica da intransigência ( Amazon , Cia das Letras, 192 pg. , $ 61,12 ). Um  ensaio brilhante e atual sobre os argumentos que têm dominado o debate entre reacionários e progressistas desde o final do século XVIII.


Desde os episódios dramáticos da Revolução Francesa, toda vez que sentiram a ordem social novamente ameaçada, conservadores e reacionários de diferentes matizes mobilizaram um formidável arsenal discursivo para protegê-la. É a partir desse variado repertório que Albert O. Hirschman compõe com erudição incomum este magnífico A Retórica da Intransigência . 


Hirschman demonstra em três teses ― perversidade, futilidade e ameaça ― que há duzentos anos se repetem compulsivamente na retórica de conservadores e reacionários, todas elas destinadas a provar que qualquer tentativa de mudar a sociedade é desastrada, tola ou prejudicial.

As três teses coincidem no seu final — não atendem às boas intenções dos seus formuladores. A tese da perversidade, qualquer ideia de melhora das condições políticas, sociais ou da ordem econômica resultam piora das condições existentes. Os congelamentos de preços sempre resultaram em aumento deles.

A tese da futilidade atenta para o fato de que as tentativas de transformação social são incapazes de serem bem sucedidas. A Revolução Francesa, a par da perversidade, simplesmente adotou ideias já em gestação na Monarquia como A lei dos direitos humanos.


Finalmente a tese da ameaça considera que os ônus/custo da proposta mudança ou reforma prejudica são tão altos que invalidam possíveis resultados. Os diversos investimentos governamentais em empreendimentos do governo que faliram ou atingiram cifras astronômicas — Coperg, Sete Brasil, Zona Franca de Manaus…

Certamente, alguém pôde pertinentemente arguir de que os resultados da ação e da inação não sempre previamente conhecidos. Mas sabe-se de antemão de que, como regra geral, a natureza não dá saltos. Assim, ecologicamente falando, quanto menos ativismo humano, melhores são os resultados.

Albert Otto Hirschman,  ( judeo-alemão, Berlin, 1915 - 2012, Erwin, New Jersey, Estados Unidos) foi um economista influente, autor de vários livros sobre economia e ideologia política. Hirschman também atuou nas universidades de Yale, Columbia e Harvard. Depois da publicação do "Strategy of economic development", 1958. Ele recebeu a oferta de uma cátedra em Columbia, posteriormente em Harvard e por fim no Institute for Advanced Study em Princeton.

A par da sua contribuição intelectual, Hirschman atuou politicamente. Uma vez planejando matar Hitler e depois como militante de um grupo de franceses dedicados a retirar judeus da France sob jugo nazista para a Espanha.

A ação de Hirschman mereceu um filme Transatlantic, disponível na Netflix, que, com personagens reais, romanceia a luta liderada por uma milionária americana Mary J. Gold para salvar judeus das garras do nazismo.

Ninguém que assistir na Netflix a história de Albert Otto Hirschman deixará de ler os seus livros. Assim como todos os que lerem, com mente aberta,  o que escreveu ele deixarão de pensar duas vezes nas três teses do livro A Retórica da Intransigência, que lembram de que natureza não dá saltos… e quando a ação do homem interfere na sua trajetória os resultados não correspondem às suas boas intenções.

São Paulo, 12 de outubro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob


sábado, 18 de janeiro de 2025

 O milagre do agronegócio brasileiro.


Diz uma lenda que o recém eleito presidente Emilio Garrastazu Medici, preocupado  com o projeto  Brasil Grande dos militares, pediu a proteção da Virgem Maria. Seguiu-se um milagre. Ela  o aconselhou: “Emilio, atente para o fundamental, o desenvolvimento só depende da ação humana. São os homens que fazem a diferença. Aposte nos bons e deixará um grande legado do seu governo”.


Emílio  aceitou o conselho, mas não sabendo como escolher,   voltou à Virgem e pediu:”como descobrir os bons ?”. Ela respondeu  indicando três nomes: Cirne Lima, Alysson Paulinelli e Roberto Rodrigues”. Eles não são santos, mas, se tiverem uma oportunidade,  realizarão uma revolução no agronegócio, que é a vocação do Brasil”.


Convencido da pertinência da sugestão,  Emilio convidou o seu conterrâneo Cirne Lima para Ministro da Agricultura. O Ministro, de sólida formação e visão empresarial, anteviu ser prioridade investir em  tecnologia para melhorar a deficiente produtividade do nosso agronegócio. A consequência foi a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ( Embrapa ) com a  missão de modernizar as práticas agropecuárias do país. 


A Embrapa ganhou com  a sabedoria de ter sido organizada nos moldes das empresas privadas: funcionários sujeitos à CLT ( com carreira e salários de mercado), investimento no treinamento do corpo técnico ( 2.000 técnicos foram enviados aos melhores centros de treinamento do mundo ); continuidade administrativa ( em cinquenta anos foram mantidas as diretrizes administrativas); subsidiariedade ( os campos experimentais foram implantados nas diversas regiões do país, que têm desafios diversos) ; e sobretudo o ideal de colocar o agronegócio brasileiro na vanguarda mundial ( o que está acontecendo)..


O ex Ministro Roberto Rodrigues, definindo a meu pedido a causa das causas da revolução do nosso agronegócio,  escreveu-me: 


“Geisel trouxe Paolinelli para o Ministério depois de saber de seu trabalho excepcional como secretário da Agricultura de MG no governo Rondon Pacheco. Alysson, que já tinha sido Diretor da Escola de Agronomia de Lavras, era um crente na ciência e implementou a Embrapa. Foi a grande virada do agro brasileiro,  que teve seu auge na conquista do cerrado, até então desprezado. Programas como o Prodecer e Polocentro, criados por Alysson, mudaram o interior do Brasil. Jamais pagaremos o que devemos a esse Homem.

Quanto a mim, tratei de melhorar o que eles fizeram, com uma diferença: olhar para o papel do Brasil na segurança alimentar global, na transição energética e na mitigação das mudanças climáticas”. 



Evidentemente, modesto como é, Roberto Rodrigues deixou de mencionar a  sua liderança em diversas entidades voltadas ao desenvolvimento do nosso agronegócio ( ler a biografia — Roberto Rodrigues, o Semeador, Amazon, 400 pg. $113,90 ). Líderou o setor, presidindo a Sociedade Rural Brasileira, a Cooperativas de Crédito, e na  Secretaria da Agricultura de São Paulo e no  Ministério da Agricultura. 


Roberto é um líder carismático, inovador, que lidera sem se impor. Conquista posições e seguidores pela sua idoneidade moral,  competência técnica e um encanto pessoal.Além de que, na sua gestão como ministro da agricultura, salvou  a Embrapa  reconduzindo-a à  administração profissional ao livrá-la   do aparelhamento político implantado pelo petismo, que certamente a mataria.


Não só nas entidades de classe como no governo e principalmente como empresário , Roberto Rodrigues deu o  testemunho de que realmente há homens que fazem a diferença. Eles, as três indicações da Virgem,  tornaram  realidade o milagre do agribusiness que está sendo a “ salvação da lavoura”. 


O Brasil antes da ação humana, sugerida pela Virgem,  materializada no milagre do nosso agrobusiness, era um importador de alimentos. Acreditava-se que só podíamos exportar  café e açúcar. Importávamos para o consumo domestico: arroz, trigo, maçãs, peras… 


Esse milagre  resultou na melhoria da qualidade, redução dos preços , preservação da natureza, liberação de mão de obra ( só 13% da população dedica-se ao agrobusiness contra 70% antes). Deixamos de ser importadores para alimentarmos bilhões de estrangeiros.Sem os excedentes em dólares gerados pelo agrobusiness a nossa balança comercial seria deficitária.


Nenhuma ideia, por mais genial que seja, pode ser a causa isolada de um milagre se não contar com alguns outros elementos. O milagre do agronegócio brasileiro não foi exceção. Deveu-se: à sólida e lúcida constituição da empresa; a dedicação ao projeto pelos seus  dirigentes por todo o processo; a existência de competentes empreendedores dedicados ao agrobusiness;  e um mercado mundial faminto.




A riqueza territorial, as oportunidades, a sorte só se transformaram  em riqueza pela ação humana, como ensinou a Virgem. As oportunidades existiam: nunca faltou demanda mundial por alimentos; as nossas terras e o nosso clima não mudaram; o espírito empreendedor é da natureza humana… Enfim, as condições estruturais eram as mesmas, o que mudou foi a ação desses visionários que resultou no milagre do agronegócio brasileiro.


Sao Paulo, 15 de novembro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob


sábado, 11 de janeiro de 2025

 A alma dos americanos.




Não faltaram análises calorosas a respeito do resultado das eleições americanas, logo após conhecidos os resultados.  Dar um tempo para esfriar os ânimos, dar  uma distância do fato, foi  o que fizemos, ajuda a ter uma  melhor perspectiva. Vamos aos fatos.


Os eleitores americanos foram expostos a escolher entre dois personagens com visões divergentes  de mundo. Os candidatos, em si,  não ofereciam nada de especial. Trump não é um modelo de bom caratismo e  Kamala,  de lucidez. 


Ele tem um histórico de vida empresarial eivada de eventos poucos louváveis, uma personalidade arrogante e narcisista. Ela uma carreira profissional, inclusive uma vice-presidência e candidatura à presidência, toda devida a lances de sorte e não de competência.


Foi uma escolha difícil para os eleitores americanos e para o resto do mundo que acompanhou as eleições. A vitória maior foi do partido republicano, que venceu a Presidência, o Senado e a Câmara dos Deputados.


Como candidato, o vencedor não foi Trump e nem derrotada  a Kamala. Ainda que não se possa isolar os personagens do enredo, mas o divisor das escolhas do eleitor foi um cultural.  Esta foi uma eleição de opções de vida.


Os americanos escolheram entre um candidato identificado com os valores conservadores (da direita ) e  outro, dos progressistas ( da esquerda),  na maneira como  estas classificações são entendidas. O grande derrotado foram os socialistas defensores do Welfare State, representados pela Kamala.


David Brooks, a respeito da derrota dos Democratas , escreveu no NY Times:” O governo ( Democrata) Biden ( Kamala )  tentou cortejar a classe trabalhadora com subsídios e estímulos, mas não há solução econômica para o que é principalmente uma crise de respeito.” Acrescento eu,  uma violência aos valores conservadores da sociedade.




Nesta eleição, os eleitores manifestaram o desejo de não abrir mão dos valores que fizeram próspera a nação americana. O amor à liberdade individual, o prêmio ao mérito,  a consciência  da responsabilidade …  São valores que estavam adormecidos, mas vivos no DNA da nação.


Os derrotados, socialistas, defensores da primazia do governo sobre os indivíduos, como é natural, ficaram frustrados com a derrota . Os conservadores ficaram  realizados com os resultados. Os liberais, ainda que relativamente satisfeitos, têm restrições  ao vencedor Trump.


Os conservadores estão realizados, acreditam que os valores tradicionais  estão salvos, mas os liberais — ainda que tenham votado no Trump e comunguem de muitas das crenças dos conservadores— nem tanto. 


Aos liberais o primado do indivíduo com o respeito à sua liberdade  é fundamental. Entre as ideias liberais está a economia de mercado como única alavanca para o desenvolvimento. E o  eleitor americano reconhece ser o capitalismo a causa da sua prosperidade.


Com Trump, o capitalismo, como ideário econômico, está ameaçado. Para os seus  defensores as distorções de mercado   devem ser resolvidas com mais liberdade e não com menos — como propõe o vencedor com as suas ideias de administrar as deficiências da economia com barreiras tarifárias . Trump, com isto, retrocede ao British  mercantilismo sistema do século dezoito contra o qual a Revolução Americana lutou para libertar-se. 


Os eleitores não deram ouvidos ao  argumento usado pelos democratas,  como sendo o candidato republicano uma ameaça à democracia. As instituições americanas têm tradição de previsibilidade. São estáveis e sólidas historicamente. 


Para os eleitores de Trump ameaçada sim estava a vida americana com a vitória de uma candidata reconhecidamente de ideias socialistas e deficiente lucidez.


Durante a campanha presidencial, em vídeo mostrando o Trump servindo clientes no MacDonald, uma brasileira pede ao candidato Trump que a atendia com emocionada ênfase: “ Trump, por favor, não deixe os Estados Unidos virar um Brasil!”


Essa brasileira verbalizou o sentimento dos imigrantes brasileiros e latinos que trocaram a  cultura populista-socialista pela americana, onde  a supremacia do indivíduo se sobrepõe ao  governo.


Kamala, ainda que possa ter um carácter menos condenável, perdeu a eleição por apostar nas ideias superadas, ultrapassadas da esquerda.


Esta foi, sem dúvidas, uma escolha ideológica. As ideias socialistas não convencem de saída a elite intelectualizada e nem de chegada a  massa pragmática. Estas querem resultados que as políticas socialistas prometem e não entregam…nem no curto e menos ainda no longo prazo.


Esta foi uma eleição de uma cultura que nasceu com os Founders  Fathers of America ,  em que o respeito à liberdade individual faz parte da alma dos americanos.


Sao Paulo, 03 de dezembro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob




sábado, 4 de janeiro de 2025

 



O curral do populismo-socializante.


Diversos  atletas disputam uma maratona. Um deles toma a dianteira e chama a atenção dos espectadores pelo desempenho excepcional . Surpreende o publico pela sua velocidade e vigor acima das expectativas. Merece por esta surpreendente performance a admiração de quase todos.


Não de todos, pois alguns identificam a causa do seu superior desempenho ao efeito de drogas. Visivelmente ele está  dopado. Os outros  vêm em seguida em um batalhão homogêneo.


Os mais atentos e  melhor informados sabem dos riscos a que se expõe esse  atleta sob efeito de drogas. Ele  pode até não completar o longo percurso. Corre o risco de uma crise antes ou depois do fim.


O batalhão de corredores segue atrás, como é normal, com pequenas diferenças entre os participantes. Como não estão dopados deverão completar a prova dentro dos padrões esperados. Esgotados, mas saudáveis.


Um outro desempenho  surpreende outro tipo de publico. São os dados da economia, que  encantam muitos analistas especializados. São dados de  crescimento da economia acima das expectativas, com o consequente nível baixo de desemprego; e de redução da pobreza. Muitos se empolgam com estes admiráveis resultados. 


Muitos, mas  nem todos! Pois há os que têm espirito critico. Eles correlacionam os resultados “admiráveis “ da economia a um tipo de doping igual ao do nosso atleta. Assustados preveem  que  chegará no final da prova ( se chegar ) em situação delicada, por estar sacrificando o futuro do país. 


Eles sabem que o  aumento descontrolado dos gastos públicos gera um  crescimento insustentável da dívida publica. É veneno na veia, que pode levar ao estado indesejável da  “dominância fiscal” ( nota no rodapé)*. E a melhor das expectativas terá como resultado, o já nosso conhecido,  o famoso voo da galinha. Dura pouco e voa baixo.


Os atletas profissionais e amadores mais desenvolvidos são a  ponta aparente de um iceberg. Há uma parte escondida na retaguarda, uma equipe de treinadores, psicólogos, nutricionistas… sob um líder  que se responsabilizam pelo estado fisico, mental e são  responsáveis pela melhora da sua performance.


Somente uma equipe de apoio de um atleta agindo com irresponsabilidade , inconsequência e aética  admitiria o doping do seu atleta.


Um país tem similaridades com esse enredo. Basta adaptar os elementos e a historia se repete . Também no nosso  país temos um líder que comanda uma equipe e uma economia a ser administrada.


Se ele for responsável, consequente e respeitador das leis da economia, não admitirá  os  dopings dos gastos desmedidos — a que titulo for. E por sabedoria e modéstia daria credito aos que antes dele modernizaram a administração com a reforma das leis trabalhistas e do teto dos gastos.


Voltando ao nosso maratonista dopado, olhando com atenção, ver-se-a exibir sinais das drogas:  pupilas dilatadas, pulso acelerado e respiração ofegante. Uma condição física a inspirar cuidados.


O mesmo que ocorre com a nossa economia, que apresenta sinais inequívocos de problemas: inflação em alta, fuga de capitais externos, moeda se desvalorizando, juros proibitivos e dificuldade de colocar títulos da divida publica, que acendem um sinal amarelo para o risco de uma “ dominância fiscal”.


O  nosso governo não quer ver o perigo. Acredita equivocadamente que os resultados valem o risco; que tudo é questão de vontade politica. Na verdade, é puro voluntarismo injetado na veia.


No caso do atleta, se  der errado. Azar o dele. Se der certo, emprego garantida à equipe técnica. É um jogo de “custo/oportunidade”. Custo para o atleta e oportunidade para a sua equipe.


No nosso caso, se der errado o custo será pago pela sociedade. Se der certo, o curral eleitoral do populista-socializante estará feliz e garantirá a vitoria na próxima eleição .


  • dominância fiscal é caracterizada por uma perda de eficácia da política monetária em cenário de desarranjo das contas públicas. Em ambiente desse tipo, uma alta nos juros básicos pelo BC para domar os preços eleva o gasto do governo com pagamento de juros da dívida pública e aumenta o problema fiscal a ponto de deteriorar expectativas de mercado, afetando condições financeiras, como o dólar, o que acaba por pressionar ainda mais a inflação.



Sao Paulo, 12 de dezembro de 2024

Jorge Wilson Simeira Jacob

sábado, 28 de dezembro de 2024

 Os cavaleiros do Apocalipse 


Houve um tempo, não muitos anos atrás, que os estrangeiros apostavam no futuro do Brasil. Hoje não mais. Pelo menos não com o mesmo entusiasmo. A confiança no país não se limitava às palavras, eram  manifestas nos investimentos em empresas diretamente ou na Bolsa de Valores. 


Como evidência dessa perda de confiança, neste ano de 2024, os Investidores estrangeiros retiraram R$ 25,9 bilhões da bolsa de valores brasileira. Os dados foram reunidos em um levantamento da consultoria Elos Ayta, que aponta esta como a maior fuga de capital desde pelo menos 2016, ano em que a B3 começa a disponibilizar os dados consolidados utilizados no estudo.


O resultado é ainda pior se for levado em conta que praticamente não estão acontecendo muitos investimentos em novos negócios  e os existentes, em sua maioria, são aportes das matrizes em suas filiais. Portanto, não são apostas novas, mas obrigações do passado.


 Surpreendente é o fato de existirem aqui muitas oportunidades a serem exploradas, ter o mundo excesso liquidez e  o país é carente deles. Somos uma nação populosa, jovem, consumidora por necessidade e hedonista por natureza … enfim um grande mercado.


De uma necessidade de investir 25% do PIB, nível necessário para assegurar a superação do subdesenvolvimento e um crescimento sustentável, realizamos menos de 18% — o que só é suficiente para manter o e status quo, o que é sofrível. A superação deste limite depende de investimento do exterior, desde que não há suficiente poupança interna. 



O que explica esse  negativismo dos investidores estrangeiros?


O  presidente de do Banco Central, Roberto Campos Neto ( RCN ),  da sua privilegiada posição e do alto da sua  competência, em entrevista com o jornalista William Waak, explicou com muita lucidez na sua resposta. Segundo ele: “nas frequentes conversas tidas com investidores, conclui que, tendo em vista o desafio de escolher em quais país investir, eles simplificavam o problema atendo-se a responder a  quatro dimensões :


1- Qual era a trajetória da dívida em um horizonte de 5 a 10 anos?

2- Qual a carga tributária?

3- Qual o crescimento estrutural?

4- Qual a qualidade dos gastos do governo?”


Didaticamente  Roberto Campos Neto, tendo em vista que os  potenciais investidores têm como prioridade a segurança do investimento, que depende do país poder pagar as suas dívidas, é preponderante  para a decisão.Um país em default não as paga. E a resposta às  quatro dimensões   dão o nível do risco a ser tomado. 


Uma trajetória negativa da dívida, o  nosso caso, é sinal de perigo, pois é o caminho da insolvência* ( ver nota no rodapé ). Uma carga tributária elevada, como a nossa, não deixa espaço para aumento de impostos para reduzir o deficit.  Um crescimento estrutural, o que no nosso caso é baixo, historicamente em 2% iguala  o crescimento populacional, não ajudará a diluição da dívida. E, finalmente, a qualidade dos gastos de governo como a nossa é reconhecidamente péssima. 


O governo gasta o grosso da arrecadação com uma máquina pública ineficiente,  corrupta à qual se acrescenta uma insegurança jurídica, onde até o passado é imprevisível. Do Orçamento Nacional nada sobra para investir. A arrecadação é recurso esterilizado. Ademais o Orçamento tem poucas espaço para cortes. Esta quase todo comprometido.



E essas quatro dimensões do RCN, poderiam por semelhança serem comparados com os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, uma das imagens mais enigmáticas e comentadas da Bíblia. Porque essas figuras representam o caos, destruição e sofrimento; são sinais proféticos de tempos difíceis e de desesperança futura. 


Para os investidores a resposta negativa aos desafios dos quatro  cavaleiros do Apocalipse traz como resultado os riscos com a desvalorização da moeda, empobrecimento da Bolsa de Valores, aumento  da inflação e juros proibitivos. São dimensões de um termômetro que, assinalam estar a economia do pais em alto risco.


 Os quatro cavaleiros do Apocalipse são personagens bíblicos que representam os julgamentos enfrentados pela humanidade desde o seu início: Morte, Guerra, Fome, Pestilência, eles anunciavam  o caos, destruição, e sofrimento. Eles emitem  sinais proféticos de tempos difíceis e de desesperança futura.


É o temor de um  Apocalipse que afasta os investidores internacionais do Brasil. Não querem dividir conosco as consequências das nossas imprudências.



*  Em outubro, o setor público registrou um déficit nominal de R$ 74,7 bilhões, elevando o acumulado dos últimos 12 meses para R$ 1,093 trilhão, o que corresponde a 9,5% do PIB. Paralelamente, a dívida bruta do governo alcançou 78,6% do PIB, reforçando a gravidade da situação fiscal. Nesse período, os pagamentos de juros totalizaram impressionantes R$ 869 bilhões, representando 7,6% do PIB. Esses dados ilustram um cenário preocupante, que exige atenção e ação j

São Paulo,  09 de dezembro de 2024.

Jorge Wilson Simeira Jacob