sábado, 30 de agosto de 2025

 


Comprando gato por lebre



Nas democracias verdadeiras, os eleitores dispõem de uma pluralidade de personalidades como candidatos aos cargos públicos. Poder-se-ia esperar que, diante de ampla escolha, os mais qualificados fossem eleitos. Não é o que acontece, como regra.


Com frequência, os bem-sucedidos nas eleições não são os mais preparados para governar, mas os que têm maior exposição nos meios de comunicação: artistas, religiosos, esportistas ou militantes de causas públicas. Prevalece a notoriedade sobre a competência; o histrionismo ao comedimento. Os partidos escolhem candidatos com maior potencial de votos, e na eleição vence quem promete mais benefícios imediatos ao eleitor — ainda que com promessas inconsequentes.


As campanhas eleitorais tornaram-se verdadeiros leilões.


No Brasil, exemplos não faltam. Silvio Santos, pela imensa popularidade, foi várias vezes convidado a disputar até a Presidência da República. Soube resistir à tentação. Já Tiririca, com o slogan debochado “Vote em mim que pior não fica”, e mesmo Cacareco, o rinoceronte, foram fenômenos eleitorais de sucesso.


Esse fenômeno poderia sugerir um desprezo dos eleitores brasileiros pelas consequências do voto. Mas não se trata de exclusividade nacional. No mundo inteiro surgem candidatos cuja notoriedade suplanta qualquer experiência em gestão pública.


Os Estados Unidos, expoente da democracia popular, não se diferenciam. Elegeram e reelegeram Donald Trump, um milionário de reputação controversa, que ganhou projeção com seu programa de televisão. No governo produziu um grande desarranjo político e econômico, foi eleito por conservadores e independentes. Estes  votaram mais na figura pessoal do que nas ideias.


Os conservadores e liberais esperavam um presidente fiel ao ideário da liberdade econômica. Compraram lebre e levaram gato. Trump mostrou-se mais intervencionista do que muitos democratas seriam. Em poucos meses de governo, comprometeu avanços construídos ao longo de décadas para consolidar uma ordem internacional liderada pelos Estados Unidos.


Mesmo ao enfrentar problemas reais do país, seus métodos — baseados no uso e abuso da força — desgastam relações diplomáticas e transformam parceiros comerciais em adversários. A política de tarifas às importações, apresentada como defesa da economia nacional, nada mais é do que um pesado aumento de impostos a ser pago pelos próprios consumidores americanos. Do couro sai a correia.


Em sua ignorância sobre as causas do enriquecimento dos Estados Unidos, Trump ignora a lição clássica de David Ricardo: a teoria das vantagens comparativas. O comércio internacional beneficia todas as nações quando cada uma se especializa naquilo que produz com menor custo relativo. Essa especialização gera mais eficiência, preços mais baixos e prosperidade compartilhada. Ao adotar medidas protecionistas e tentar produzir quase tudo internamente, Trump regride ao mercantilismo, já superado há séculos.


Os conservadores e liberais, que acreditaram estar elegendo um defensor da liberdade econômica, acabaram entregues ao populismo intervencionista. Votaram no gato pensando que fosse lebre — e pagarão caro por esse engano. A lição, porém, é universal: em qualquer democracia que confunda notoriedade com competência, o eleitor corre sempre o risco de comprar ilusões a preço de realidade amarga; em qualquer economia que violente a economia de mercado o preço é pago pela sociedade. 

São Paulo, 21 de agosto de 2025.

Jorge Wilson Simeira Jacob

sexta-feira, 22 de agosto de 2025



O tempo é inimigo da paciência.


A Suíça é frequentemente vista como um exemplo singular de democracia. Sua população reduzida, o alto nível educacional e uma cultura capitalista consolidada permitem a prática de um sistema de voto direto. Cada questão relevante é submetida à decisão popular nos cantões, sem o exibicionismo característico das democracias representativas.


Os Estados Unidos, pela dimensão continental e diversidade regional, optaram por uma democracia representativa em modelo federativo. Os estados mantêm ampla autonomia, enquanto o governo central exerce funções mínimas, conforme idealizado pelos “pais fundadores” para viabilizar a união nacional.


O Brasil, também vasto e culturalmente diverso, inspirou-se nesse modelo federativo americano. Porém, na prática, tornou-se um sistema híbrido: formalmente uma federação, mas de fato um Estado centralizado em Brasília. Essa centralização, uma deturpação do modelo, resulta em duplicação de estruturas — ministérios que coexistem com secretarias estaduais equivalentes —, com perda de eficácia e aumento de custos.


Essa concentração de poder ignora a riqueza cultural do país e alimenta tensões regionais que fragilizam a unidade nacional. Para conciliar diferenças e permitir que cada estado colha os frutos de seu próprio esforço — ou enfrente as consequências de suas escolhas — é essencial reforçar o espírito federativo.


O princípio da subsidiariedade, que determina que as decisões sejam tomadas o mais próximo possível da realidade local, assegura maior racionalidade e respeita as vocações regionais. O Brasil é grande demais para ser administrado de Brasília e diverso demais para a padronização rígida de leis e costumes.


Infelizmente, a centralização criou uma nomenclatura política que dificilmente abrirá mão de privilégios. Diferente da Suíça, onde líderes atuam quase no anonimato, em Brasília a política é marcada pela exposição e pela disputa pelo comando. E, ao contrário dos Estados Unidos, os estados brasileiros não possuem poder real para moldar-se às suas próprias realidades.


O país, cuja renda per capita está estagnada há décadas, sinaliza a necessidade de reformas estruturais. É preciso escolher: ou adotamos de fato o federalismo, com governo central mínimo e fortalecimento da autonomia estadual, ou continuaremos presos a um modelo que mina a produtividade e ameaça a coesão nacional.


Até quando os que poupam, investem e produzem aceitarão a atual representatividade distorcida, em que o voto de um eleitor de certos estados vale mais do que o de outros? Até quando 

, como mostra o gráfico que encabeça este texto,

estarão dispostos a pagar a conta de um populismo centralizador, travestido de justiça social? Até quando os catarinas abusarão da nossa paciência?


O tempo é inimigo da paciência!


São Paulo, 17 de agosto de 2025

Jorge Wilson Simeira Jacob


sábado, 16 de agosto de 2025

 





Adeus ao futuro



O “adeus” é uma expressão do presente para marcar uma despedida. Dizer “adeus ao futuro” é antecipar uma derrota, declarar a perda da esperança.


Essa frase pode provocar duas reações opostas: capitulação — uma desistência — ou revolta — uma indignação ativa.



A capitulação



No Brasil, diante da incapacidade dos três níveis de governo de libertar da pobreza uma grande parcela da população, muitos cidadãos conscientes já dizem adeus ao futuro.


Alguns desistiram por não acreditar que a nação possa escapar da armadilha populista-socialista, agravada pela corrida em conceder benefícios como tentativa desesperada de recuperar popularidade. Essa política vem acompanhada de uma narrativa que sugere invencibilidade nas próximas eleições, criando a sensação de que resistir é inútil.


Fazer crer que não há saída é parte de uma estratégia de dominação: desanimar a oposição, enfraquecer a resiliência e transformar a desistência em rotina.



O adeus ao futuro segundo Camus



Albert Camus, em O Mito de Sísifo, descreve a condição humana como absurda: buscamos sentido num universo que não responde. Para alguns, isso leva à rendição — viver como se o fracasso fosse inevitável.


Mas Camus oferece outra resposta: viver apesar do absurdo, sem se render a ele. Dizer adeus ao futuro pode ser compreensível, mas a reação saudável não é desistir — é se revoltar, persistir mesmo sem garantias.



A democracia ameaçada



A democracia continua sendo o regime menos indesejável entre todos, mas, como qualquer processo de mudança social, exige luta prolongada e sem promessas de vitória.


As massas, em geral, respondem a incentivos imediatos — trocam o voto por um pedaço de pão — e só mudam sob o impacto do caos, lideradas por figuras carismáticas. A coincidência de caos e liderança lúcida é rara, quase milagrosa. Basta lembrar que a Grécia, berço da democracia, não se tornou uma potência econômica.


A alternativa a isso — a ditadura — é um risco inaceitável: concentra poder, ameaça liberdades individuais e quase sempre só pode ser derrubada pela força.



A revolta e a resistência



Dar adeus ao futuro é renunciar à esperança, e sem esperança a vida perde parte de seu sentido. Camus responde que é possível viver assim — não pelo otimismo, mas pela revolta: viver é resistir, mesmo sem garantias.


Nós, brasileiros que aqui temos nossas raízes e nos identificamos com a nossa cultura, não podemos entregar o país sem luta. A armadilha populista-socialista não deve ser aceita como destino inevitável.


Dizer adeus ao futuro é assinar a rendição antes da batalha. Resistir é o único caminho digno para um povo que quer escrever uma história de lutas e glórias.


São Paulo, 21 de maio de 2025

Jorge Wilson Simeira Jacob


Nota- Texto editado pela  inteligência artificial  da OpenAI. 


sábado, 9 de agosto de 2025

 


A vitória dos indignados

Em cada um de nós existe um grau de tolerância diante de situações que contrariam nossos princípios. Todos temos limites — e, quando esses limites são ultrapassados, surge a indignação. Ela pode se manifestar com mais ou menos intensidade, dependendo da sensibilidade e do grau de engajamento de cada indivíduo.


Entre os jovens, essa indignação tende a aflorar com mais facilidade. A impaciência natural da juventude, muitas vezes impulsionada por ideais absolutos, faz com que os jovens sejam protagonistas das grandes transformações. Não por acaso, as revoluções, ao longo da história, foram frequentemente iniciadas por jovens inconformados, determinados a remodelar o mundo conforme suas visões.


Por outro lado, a maturidade ensina a esperar. A paciência, longe de ser apatia, é o resultado da experiência acumulada e da consciência de que nem toda mudança ocorre pela força. Dar tempo ao tempo não significa ter perdido a capacidade de indignar-se, mas sim aprender a transformar a indignação em ação eficaz e bem direcionada.


A ausência de reação imediata, muitas vezes confundida com conformismo, pode ser, na verdade, uma forma refinada de resistência. Idosos, mesmo com um horizonte de vida mais curto, observam as mesmas injustiças com serenidade, mas não com indiferença. A paciência pode conter mais força que o impulso.


No entanto, reprimir continuamente a indignação tem seu preço. Frustrações acumuladas se tornam pesos difíceis de carregar — verdades caladas que tiram o sono e corroem a esperança. Quando se sabe que a desonestidade se espalha como norma, quando a corrupção mina os fundamentos da vida civilizada, o silêncio se transforma em sofrimento.


A corrupção, afinal, não é apenas uma falha moral. É um sistema de poder paralelo que corrói o bem comum, destrói a confiança social e perpetua desigualdades. Se a civilização representa a superação da força bruta por meio de regras e justiça, a corrupção é a volta ao estado selvagem — onde vence o mais esperto, não o mais justo.


Países que conseguiram reduzir a miséria e construir sociedades prósperas o fizeram porque cultivaram um senso coletivo de civilidade e rejeição à corrupção. Não basta mudar leis; é preciso mudar mentalidades.


O Brasil só avançará quando a indignação sair dos travesseiros e ocupar as ruas, as urnas, os fóruns de debate. Quando a maioria silenciosa — aquela que ainda acredita em ética, justiça e bem comum — decidir não mais se calar. Então, talvez, possamos finalmente começar a moldar o país à altura de nossos ideais.

Será o repúdio a qualquer tipo de corrupção — na vida pública e privada. Será a vitória dos indignados — hoje calados  frente à corrupção que tomou conta da sociedade brasileira.

São Paulo, 22 de julho de 2025.

Jorge Wilson Simeira Jacob 


Nota- Texto editado pela  inteligência artificial  da OpenAI. 


sábado, 2 de agosto de 2025

 A Guerra pelo Dólar

A violenta reação do presidente Donald Trump à ascensão dos BRICS como alternativa monetária ao dólar torna-se mais compreensível quando se considera, além da geopolítica, o conceito e o peso financeiro da seignioragem — o lucro obtido pela emissão de moeda.


Nos Estados Unidos, produzir uma nota de US$ 100 custa apenas US$ 0,17. Cada cédula representa, portanto, um ganho líquido de US$ 99,83 para o governo. Entre 2012 e 2021, o Federal Reserve repassou mais de US$ 800 bilhões em lucros ao Tesouro — uma receita quase invisível, mas poderosa, sustentada pela confiança global no dólar como reserva de valor.


Essa confiança, no entanto, está em erosão. Desde que Nixon rompeu, em 1971, o vínculo entre o dólar e o ouro, a moeda americana passou a se apoiar unicamente na credibilidade dos EUA. Naquela época, uma onça troy de ouro valia cerca de US$ 35. Hoje, ultrapassa os US$ 2.400. Isso representa uma perda de 98,5% do poder de compra do dólar em relação ao ouro — um processo de desvalorização contínua que escapa à percepção cotidiana por estar diluído ao longo das décadas.


Apesar disso, a dominância global do dólar resistiu graças à sua função de reserva internacional. Estima-se que cerca de US$ 12,7 trilhões estejam entesourados no mundo em moeda física, depósitos e títulos do Tesouro americano — ativos detidos por governos e particulares que sustentam o sistema de déficits gêmeos: o orçamentário e o comercial.


Nesse arranjo, os Estados Unidos compram produtos chineses, por exemplo, e pagam com papéis em dólar que o resto do mundo aceita como valor. Enquanto os países continuarem a guardar dólares e Treasuries, o sistema se mantém. Mas isso está mudando. Diversos países, liderados por China, Rússia e aliados do BRICS, vêm reduzindo gradualmente suas reservas em dólares e firmando acordos bilaterais em moedas locais.


A reação de Trump não é só retórica — é um grito de alarme. Como ele mesmo declarou, “perder o dólar como moeda de referência é perder uma guerra”. Foi exatamente isso que aconteceu com o Reino Unido após a Segunda Guerra Mundial: com a libra esterlina inflacionada e fragilizada, o mundo migrou para o dólar. E o Império Britânico desintegrou-se.


Trump pode ser instável, mas não é tolo. Ele sabe que o melhor produto de exportação dos Estados Unidos é o dólar — e está disposto a defendê-lo a qualquer custo. Ao propor tarifas sobre importações e atacar concorrentes cambiais, ele tenta preservar o sistema baseado na confiança externa e no consumo interno financiado pela emissão de moeda e dívida.


O desafio é gigantesco. Se o mundo parar de aceitar dólares em massa, os EUA terão de cortar até US$ 1 trilhão por ano em gastos ou arriscar uma espiral inflacionária perigosa. Nixon comprou tempo ao romper com o ouro. Trump tenta manter o dólar como moeda global à força de tarifas, retórica nacionalista e pressão diplomática. É a defesa desesperada de um império que já não tem o mesmo fôlego de antes — mas que ainda imprime a moeda que o mundo inteiro usa.

Ter presente o que está em jogo é fundamental para entender  a guerra pelo dólar travada pelo Trump.


São Paulo, 23 de julho de 2025.

Jorge Wilson Simeira Jacob

Nota- Texto editado pela  inteligência artificial  da OpenAI